Este mês, no dia 5, foi celebrado o dia da Amazônia. A data foi instituída em 2007 e preza pela conscientização da população sobre a importância deste bioma fundamental para o equilíbrio ambiental e climático do planeta. Em constante risco e conformando um território de disputa, o maior bioma natural da Terra é cenário constante de intervenções humanas. Como a arquitetura e o urbanismo tem se relacionado com isso?
A floresta está em chamas, a ocorrência de incêndios aumenta cada vez mais sobre a atual gestão do governo brasileiro, que também ameaça constantemente a população indígena, sendo alvo de denúncias da ONU. Perder a floresta, é perder o equilíbrio ambiental que rege não apenas o território amazônico como influencia os aspectos climáticos globais. Além disso, toda uma sabedoria de povos originários que ali habitam também podem virar fumaça.
Em 2020, mestres construtores Kamayurá produziram junto com uma equipe da Escola da Cidade um Manual de Arquitetura Local, demonstrando um importante exemplo de como preservar técnicas e sabedorias ancestrais que dificilmente são ensinadas em escolas de arquitetura. Entrar em contato com esses saberes pode trazer diferentes chaves para operar um projeto e imaginar outras formas de construir e habitar. São diversos os arquitetos contemporâneos que bebem dessa fonte e as compõem com técnicas contemporâneas para criar edifícios em territórios amazônicos.
Afinal, já nos perguntamos: O que o arquiteto pode aprender com a natureza para enfrentar os desafios do futuro? Entre outras respostas, a bióloga e especialista em biomimética, Alessandra Araújo, destaca que a "floresta tropical é o ecossistema mais desenvolvido da Terra e é medida por vários parâmetros, como ciclos de energia, fluxos de materiais, diversidade de padrões, especialidades de nicho e estabilidade do sistema. É muito complexo e, na verdade, esses parâmetros ecológicos são totalmente adequados como indicadores urbanos", em outras palavras, cidades e florestas possuem uma arquitetura similar e os planejadores urbanos podem aprender muito sobre questões de equilíbrios energéticos e sociais ao analisá-las.
Com isso em base, vale revisar também outros importantes casos de estudo que abordam os patrimônios amazônicos histórico, social e espacial:
- Os geoglifos do Acre: centenas de formações geométricas maciças escavadas no solo que demonstram como a Amazônia já foi habitada há milhares de anos e que a sua vegetação foi manejada, desmentindo a imagem de que a região seja um território intocado;
- A análise de como o ser humano pode conviver com a natureza, se adaptando às particularidades únicas da geografia, do clima e da vasta biodiversidade da floresta que encontramos neste guia de planejamento e desenho urbano para as cidades da Amazônia peruana;
- Ou ainda compreender um fenômeno da cidade flutuante de Manaus que surgiu da escassez de planejamento e desigualdades sociais.
Por fim, como é sabido, a arquitetura e paisagem ribeirinha trazem diversas soluções, das palafitas aos edifícios flutuantes, e junto de todas as técnicas criadas ali, há um cenário proeminente da arquitetura contemporânea ao redor da floresta, destacamos abaixo alguns projetos para ilustrá-lo:
Galpão Tropical / Laurent Troost Architectures
"Localizado em um bairro popular e industrial da cidade de Manaus, caracterizado por moradias e galpões de todo tipo, este projeto de escritório de arqueologia junto com área de lazer é uma reinterpretação da tipologia industrial para criar um manifesto da necessária reaproximação do urbano com a Natureza na capital geográfica da Amazônia."
Casa Treliça / Roberto Moita Arquitetos
"Uma grande cobertura de chapas metálicas térmicas tipo sanduíche com largos beirais faz a necessária proteção da chuva e do sol da Amazônia. O chão de folhas da floresta preservada faz às vezes de uma forração de baixa manutenção e de alta permeabilidade além de servir de nutrição natural para as árvores."
Casa da Floresta / Arena Arquitetura
"Era prioritário ao projeto aproveitar o potencial paisagístico deste ambiente, preservando a mata original, não impermeabilizando o solo, aproveitando luz e ventilação naturais. O processo de construção foi cauteloso e cuidou-se para não agredir raízes e até deixar árvores atravessarem a sala de estar."
Mirante do Gavião Amazon Lodge / Atelier O'Reilly
"O projeto foi estruturado em um planejamento sustentável que prevê o aproveitamento do clima, materiais e tecnologias construtivas locais. A comunidade ribeirinha sempre construiu barcos em madeira passando este conhecimento de pai para filho. Com a escassez de mão de obra local, esta tecnologia deu lugar a um hotel desenhado como um barco invertido."