“O objetivo da arte não é representar a aparência exterior das coisas, mas o seu significado interior”, observou o polímata grego Aristóteles. A arte urbana em espaços públicos busca esse objetivo, oferecendo significado e identificação aos moradores de cidades do mundo todo. Tomando a forma de murais, instalações, esculturas e estátuas, a arte urbana envolve o público fora dos museus e no espaço público. Esta arte apresenta uma maneira democrática de redefinir coletivamente conceitos como comunidade, identidade e engajamento social.
A arte urbana é uma maneira eficiente de as comunidades criarem uma nova imagem, resolverem um problema ou contarem uma história. Essa forma imagética toma o domínio público como locus de inspiração e expressão, empregando um processo participativo para criar as peças artísticas. Junto com a comunidade, o artista segue um processo democrático de criação conjunta. A obra de arte criada de forma colaborativa pode ser permanente, temporária ou concluída somente quando há interação com ela. Essas ações únicas para cada local e centradas nas pessoas são um elemento fundamental para o tecido social das áreas urbanas.
Lado positivo da arte urbana
No século 21, onde uma cidade no Japão pode parecer idêntica a uma cidade na Colômbia, a arte pública solidifica uma identidade da comunidade feita no contexto cultural da cidade. Uma intervenção artística pode produzir lugares memoráveis e fortalecer o sentimento de pertencimento dos cidadãos. Obras de arte na esfera pública provaram ser uma ferramenta para construção de comunidades e narrativas. O processo participativo de fazer arte pode ser catártico para comunidades com passados esquecidos e histórias não contadas. Não só promove um sentimento de orgulho local, mas também eleva a relevância cultural e a aparência estética da área.
A produção de lugares depende de fortes laços comunitários em torno da localização e da cultura, junto com a arte que ajuda a vincular a identidade coletiva a um espaço. A arte urbana pode reforçar as bases das comunidades, construindo uma imagem de seu passado e projetando uma visão para seu futuro. Também aumenta o capital social e melhora as economias locais. Os artistas envolvem uma abordagem criativa na fabricação de interações para troca cultural, usando a arte pública para revitalizar bairros e cidades.
A arte pública tem sido vista como promotora da regeneração urbana. Oferece uma combinação de valores estéticos e identidade social para ativar os espaços públicos. As cidades que demonstram uma cultura ativa e dinâmica são mais atrativas para indivíduos e empresas. As artes e a cultura também desempenham um papel fundamental no incentivo ao turismo, ao mesmo tempo em que melhoram a imagem pública da cidade. Esses fatores geram empregos a partir de novos empreendimentos, trazendo receita para a economia local.
Os perigos da arte urbana
Enquanto murais elaborados e instalações interativas enfeitam bairros deteriorados, eles também podem contribuir para a gentrificação na área. A arte pública é capaz de aumentar o valor aparente de um bairro, oferecendo melhores instalações e qualidade de vida. Comunidades que vivem um aumento no fluxo de intervenções artísticas testemunham aumentos simultâneos nos preços dos imóveis. Os desenvolvedores podem patrocinar artistas locais para criar obras de arte que aumentem os preços dos imóveis. O fenômeno, denominado artwashing, acaba deslocando moradores de baixa renda que se identificam com a comunidade e o local.
A relação entre arte e espaço público tem sido frequentemente criticada por não ser democrática. Os memoriais urbanos patrocinados pelo Estado buscam concretizar a história pública – ou pelo menos uma versão da história que representa os setores dominantes da sociedade. O simbolismo através de estátuas tem sido usado há muito tempo como meio de reiterar agendas políticas. Estátuas colonialistas que celebram a história racista estão espalhadas por continentes como África, Austrália e América do Norte. Pode-se encontrar uma escultura de Cecil Rhodes em Joanesburgo, em Kyiv, uma estátua de Lenin, e em Bagdá, uma de Saddam Hussein. Entre as milhares de estátuas espalhadas pela cidade de Nova York, apenas cinco retratam mulheres históricas.
Quem é o Público na Arte Urbana?
Os artistas encontram um lugar na linha de frente dos movimentos sociais internacionais, utilizando a arte como comunicação de ruptura. Graffiti, arte de rua, instalações temporárias e performances permitem que a comunidade participe da desobediência civil. Essa forma é importante na elaboração da consciência social, na criação de redes e na relação custo-benefício. A arte pública como meio de protesto permite que uma comunidade exerça seu poder de forma efetiva e pacífica.
O impacto da arte urbana nas comunidades e seus lugares é real e pesa sobre a responsabilidade do Estado e dos artistas. Para garantir que a arte pública sirva ao propósito pretendido, torna-se importante que a comunidade questione sua propriedade cívica. O objetivo da obra de arte em espaços públicos é representar e beneficiar as pessoas da cidade, e não as forças capitalistas ou políticas. A arte pública se posiciona na interseção da história compartilhada e da cultura em evolução. O uso do meio determinará simultaneamente como a arte pública molda as cidades.