Tantas vezes sombreadas por parcerias amorosas e profissionais com homens, as mulheres arquitetas foram, e ainda são, constantemente testadas e colocadas sob violências simbólicas, disfarçadas de piadas ou "simples" brincadeiras. A conversa do episódio 51 do Betoneira Podcast, com a professora e pesquisadora Silvana Rubino, levantou um debate sempre urgente: qual o lugar da mulher na arquitetura?
Parte importante no processo de valorização das mulheres na profissão, é conhecer aquelas que foram rompendo barreiras e abrindo caminhos. A seguir, confira algumas das profissionais citadas durante a nossa conversa – esperamos que essa pequena amostra instigue você a buscar mais sobre essas e outras mulheres na arquitetura, no design, na engenharia...
Anni Albers
“Às vezes eu mostro para os meus alunos os quadros de Josef Albers e as tapeçarias da Anni Albers. Enquanto ele é tido como um pintor genial, que fazia teoria das cores, ela é tida como artesã. No entanto, ela também estava fazendo teoria das cores, mas em outro suporte. Então é o suporte que está dizendo quem é artista e quem é artesão? Tem algo aí para a gente pensar.”
Carmen Portinho
“Nos anos 1930, ela fez um projeto para Brasília, e entregou a ideia de uma cidade moderna corbusiana. Aos olhos mais desavisados, parece que foi Lucio Costa que trouxe as visões de Le Corbusier ao Brasil, mas quem trouxe foi ela, muito antes. [...] Ela também é responsável, ao lado de Affonso Eduardo Reidy, seu segundo marido, pelo projeto do Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como Pedregulho, no Rio de Janeiro.”
Jane Drew
“Ela fez uma carreira muito interessante, porque na época em que a Inglaterra era o centro do império, ela foi fazer arquitetura moderna nas colônias da Inglaterra. Então ela foi para a Nigéria, para Gana, fazer escola pública, conjunto habitacional... e aí ela acaba cunhando uma teoria que ela põe na prática, chamada Arquitetura Moderna Tropical, porque ela se dá conta de que fazer arquitetura moderna no frio de Londres, não é a mesma coisa que fazer arquitetura moderna em Gana, por exemplo. [...] Outra curiosidade é que ela tocou a obra em Chandigarh, de Le Corbusier, junto com Maxwell Fry e Pierre Jeanneret. Hoje, ela dá nome a um prêmio de arquitetura.”
Margarete Schütte-Lihotzky
“Ela era de uma família da elite austríaca, estudou pintura com Gustav Klimt, trabalhou com Adolf Loos... Mas quando abrimos um livro de arquitetura, está lá que ela fez a cozinha de Frankfurt. No entanto, assim como a Charlotte Perriand, ela viveu quase 100 anos e não parou de trabalhar um minuto. Quando ela já estava velhinha em Viena, ela escreveu um texto meio autobiográfico chamado "Eu não sou uma cozinha", porque ela estava zangada com o fato da trajetória dela estar sempre ligada à cozinha.”
Marianne Brandt
“Ela foi uma das poucas mulheres que conseguiu escapar da tecelagem [na Bauhaus] e entrar meio pela porta dos fundos na siderurgia. No entanto, o que ela fez? Bule de café, bule de chá, xícara. Então veja bem como é a força da domesticidade da cultura: ela fura o cerco, entra no atelier de metalurgia, e faz aqueles jogos de chá e café, que são maravilhosos, mas ela volta para a escala doméstica.”
Silvana Rubino possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, mestrado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas e doutorado em Ciências Sociais pela mesma instituição. É professora livre-docente do departamento de História da UNICAMP e pesquisadora de História Intelectual, Patrimônios e Arquitetura Moderna. Seus últimos trabalhos revisitam tais temas sob uma perspectiva de gênero