Arquitetura não é simplesmente construir. Há mais de dois mil anos, o arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio definiu duas realidades básicas na construção: firmitas (estabilidade) e utilitas (função). Depois, ofereceu o que transforma a construção em arquitetura: venustas (beleza).
Firmitas foi redefinida neste século como “resiliência”. Após passar ileso por cinco furacões ao longo de trinta anos, este edifício apresenta venustas além de firmitas? O conceito de utilitas é encontrado na utilidade de qualquer projeto: uma edificação, em uso constante, tem beleza além de função?
"Beleza" pode ser uma palavra para definir a sensibilidade das artes plásticas, onde os julgamentos são defendidos por justificações eruditas. Mas os homens experimentam a alegria no mundo antes que possam compreendê-la, explicá-la ou justificá-la. Então, como você define a "beleza"? Ela está em consonância com o mundo natural?
A beleza é espiritual?
Ou a “beleza” é criada na atenção aos detalhes?
Acredito que a "beleza" seja simplesmente vivenciada. Os cientistas estão verificando que “beleza” não é uma racionalização superficial de como nos sentimos em relação à arquitetura. Alguns anos atrás, Richard O. Prum escreveu “The Evolution of Beauty (A Evolução da Beleza): como a teoria esquecida de Darwin sobre a escolha do companheiro molda o mundo animal – e nós”. O livro gerou artigos e críticas porque o ornitólogo de Yale, Prum, declarou que nossa emoção extrema quando vemos a beleza é desnecessária para a sobrevivência da espécie, mas, não se aprende. Nossa alegria de ver o belo é tão natural quanto comer e dormir.
A realidade da experiência não pode ser negada. No século anterior, Buckminster Fuller disse: "Quando estou trabalhando em um problema, nunca penso em sua beleza, apenas penso em como resolver o problema, mas quando o termino, se a solução não é bonita, sei que está errada".
Durante cinquenta anos o arquiteto e cientista Christopher Alexander passou sua vida definindo o que é uma "boa arquitetura". Ele escreveu que a boa arquitetura tem uma verdade essencial: "A qualidade é objetiva e precisa, mas não pode ser nomeada". A sua, e muitas outras, buscas pela "totalidade" na arquitetura era "objetiva e precisa", mas no final sempre tinha como resultado a "beleza", sem qualquer outra definição.
Quando vidas são gastas em arquitetura para um fim que “não pode ser nomeado”, a aceitação do fato de que não podemos definir, muito menos controlar, no caso a “beleza”, é assustadora. Leonardo da Vinci ofereceu uma receita que desafia qualquer controle por parte do criador: “A vida é muito simples: você faz algumas coisas. A maioria falha. Algumas funcionam. Você faz mais do que funciona”. Além da construção, o que funciona para fazer arquitetura, é a beleza.
A humanidade quer definir, controlar e reproduzir o sucesso - mas se o sucesso em fazer boa arquitetura está facilitando as respostas incontroláveis que se manifestam em nossa genética, então a "beleza" está fora de nosso controle.
A realidade primorosamente subjetiva de nossa humanidade tem uma universalidade real na arquitetura. Penso que encontrar o que já existe dentro de cada um de nós e ouvir essa realidade essencial, "sem nome", é a maneira mais difícil e natural de encontrar "beleza" - e de definir a boa arquitetura.
O valor da boa arquitetura, além de firmitas e utilitas, é encontrado em todo ser humano, para frustração daqueles que buscam validar seu valor em julgamentos nascidos da racionalização. Como disse o escritor Henry James: "não me importo nada com as razões, mas sei do que gosto".
Este artigo é parte dos Tópicos do ArchDaily: O que é uma boa arquitetura?, orgulhosamente apresentado pelo nosso primeiro livro: The ArchDaily Guide to Good Architecture. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos do ArchDaily. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.
