Lendo a arquitetura como um livro

Os padrões para classificar arquitetura boa ou ruim são funcionalidade e beleza, ou o que comumente chamamos de praticidade e estética. Entretanto, a praticidade pode nos direcionar rapidamente para o funcionalismo, a única opção viável, ou para um projeto de estruturas escultóricas. O arquiteto Le Corbusier disse certa vez: "Se você cria uma casa com pedra, madeira e concreto, isso é apenas um edifício; se você toca meu coração, isso é arquitetura". No entanto, talvez a legibilidade da arquitetura possa servir como critério para uma boa arquitetura: ler a arquitetura como um livro com palavras e frases completas que resistam a uma consideração cuidadosa.

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A legibilidade tem dois conceitos diferentes na arquitetura. Legibilidade arquitetônica é um termo usado para descrever o grau em que um edifício facilita a capacidade dos usuários de encontrar seu caminho dentro dele. Por outro lado, a legibilidade da arquitetura é definida por um edifício com uma lógica perfeita e detalhes ricos, uma forma reconhecível e um espaço que consegue evocar emoções fortes, proporcionando aos usuários a experiência e o espírito que a boa arquitetura tenta despertar neles. Devido à dimensão do tempo e à ocorrência de eventos, a arquitetura assume uma qualidade narrativa dinâmica e conotativa que a torna legível.

Integridade com lógica

A integridade subjacente à lógica do projeto arquitetônico é um dos princípios de legibilidade na arquitetura. A integridade arquitetônica é justificada de maneira convincente por sua lógica clara e abrangente, semelhante à estrutura de um livro. Esta integridade é demonstrada pela compatibilidade do edifício com seu entorno, a consistência da forma, estrutura e espaço interior do edifício, bem como a organização e acentuação dos elementos que se encontram sob a superfície de todo o edifício.

Edifício Green Hill / TJAD Original Design Studio

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Percursos do terraço. Imagem © ZY Architectural Photography

Green Hill só manteve a malha estrutural do armazém de tabaco fechado como parte do projeto de renovação. O projeto segue uma lógica simples. Com o objetivo de reduzir o impacto desta grande construção na paisagem, e na orla, a ocupação foi reduzida em duas direções a partir do topo da construção. Todo o edifício está conectado à cidade e às margens do rio em diferentes níveis e direções por meio de uma variedade de espaços de transporte, como vias urbanas, rampas, escadas e átrios. O antigo armazém de tabaco tornou-se uma "colina verde". 

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Vista aérea nordeste. Foto. Imagem © ZY Architectural Photography

Museu West Bund / Atelier Deshaus

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Cobertura de entrada. Imagem © Shengliang Su

O novo projeto adota a estrutura em balanço apresentando uma "abóbada nervurada", com paredes independentes, enquanto as paredes de cisalhamento com disposição livre são incorporadas no porão original, de modo a serem concretadas com o quadro estrutural original. A "abóbada nervurada" está presente em todo o edifício como um elemento arquitetônico. Quanto ao espaço coberto pela abóbada, as paredes e teto evidenciam superfícies em concreto aparente, para que a sua linha divisória geométrica aparente desaparecer. Painéis de concreto e metal são inseridos na fachada para evidenciar o desenho da "abóbada".

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Galeria de arte contemporânea. Imagem © Sheng Liang Su

Singularidade com reconhecimento cultural

A singularidade da arquitetura com reconhecimento cultural é o segundo princípio de legibilidade. O significado cultural da arquitetura está se tornando cada vez mais proeminente no período moderno, quando as pessoas estão tentando quebrar a barreira das "1.000 cidades com uma face". Uma boa estrutura deve ter sua personalidade distinta dependendo do ambiente, dos recursos e dos habitantes do espaço.

Museu de Arte de Jishou / Atelier FCJZ

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JAM vista panorâmica. Imagem © Fangfang Tian

Um rio chamado Wanrong atravessa o meio de Jishou, o que torna o local mais central para o museu de arte sobre o curso de água, transformado também em uma ponte para os pedestres.  O museu foi inserido no  tecido urbano existente, encaixado entre os edifícios históricos que fazem frente ao rio Wanrong e integrado à vida cotidiana da cidade. Este projeto é uma interpretação moderna de um elemento arquitetônico tradicional chinês, a "ponte coberta". Chamadas de Fengyu Qiao, o que significa "ponte de vento e chuva", estas estruturas não são apenas utilizadas para cruzar rios ou vales, elas são construídas como uma espécie de espaço público onde os viajantes podem descansar ou comercializar os seus produtos. A tipologia de ponte coberta foi atualizada para abrigar o programa do museu, mas sem, no entanto, perder sua função mais elementar, como um percurso de transposição do rio e um lugar de encontro e convívio entre as pessoas.

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JAM Pedestrian Bridge Level com clarabóia com vista para o Great Exhibition Hall. Imagem © Fangfang Tian

Tian Han Cultural Park / WCY Regional Studio

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Faculdade de Arte. Imagem © Li Yao

Tian Han é o escritor do hino nacional chinês, e o pioneiro e principal fundador do desenvolvimento da arte dramática moderna chinesa. O protótipo da faculdade de arte é um edifício com salas de estudos na província de Hunan, cuja característica mais distintiva é o espaço homogêneo "zhai", com uma relação paralela e linear entre "zhai" e "zhai". A abóbada de arco invertido é uma tradução do tradicional telhado inclinado com drenagem, sendo o projeto da rua da ópera um presente para os assentamentos locais. O projeto é baseada no pequeno pátio residencial local. Cada unidade mantém relativa independência e constitui a intenção da rua e da calçada, apresentando uma cena de livre perspectiva de dispersão. O centro de serviço ao visitante & hotel é uma combinação de casas contemporâneas “Yin Zi” com um pátio interno.

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Centro de Atendimento ao Visitante e Hotel. Imagem © Biao HU

Espiritualidade com ressonância emocional

A existência de uma espiritualidade na arquitetura que se conecta emocionalmente com seus usuários é o terceiro princípio da legibilidade arquitetônica. As pessoas respondem favoravelmente aos espaços que ressoam com elas, e uma boa arquitetura faz isso. Os arquitetos não podem criar arquitetura apenas da perspectiva de Deus, mas devem o considerar também do ponto de vista, perspectiva e sentimentos dos usuários. Aqui, o arquiteto assume um papel de diretor, interpretando e reconhecendo as possibilidades do espaço, por um lado, e compreendendo as necessidades espirituais da sociedade e do indivíduo, por outro.

Renovação no Distrito da Caverna de Tianbao / Jiakun Architects

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Pavilhão de Degustação de Bebidas. Imagem © Arch-Exist

O local era originalmente a área de produção do licor Lang. O projeto do Museu foi desenvolvido como uma espécie de percurso narrativo concebido para amarrar os diferentes programas em um espaço contínuo e integrado. Os generosos balanços da estrutura de aço do pavilhão de acesso permite contemplar a beleza da paisagem natural que os cerca, uma longa janela panorâmica de 17 metros de comprimento emoldura a belíssima paisagem em direção ao vale do rio Chishui. O Jardim Poético dos Licores é um espaço contemplativo em meio a um espelho d'água, o Jardim da Árvore, um espaço contido e tranquilo onde uma única árvore rompe o silêncio atravessando a cobertura baixa que configura o espaço.  As aberturas laterais foram projetadas de tal forma a permitir que as árvores do entorno projetem suas sombras do lado de dentro, criando um jogo dinâmico de luzes e sombras no interior do edifício. Na sequência, os visitantes são guiados até o Espaço Expositivo Lang, o espaço é composto por duas prateleiras metálicas com espelhos e opostas entre si, criando um jogo infinito de reflexos. Ao longo dos terraços e jardins encravados na encosta, os visitantes são convidados a descobrir as cores e aromas que matizam os famosos licores Lang, das flores de cerejeira ao frescor desta exuberante paisagem. O elevador inclinado ergue-se até à montanha, ligando o Restaurante Cliff e a Gruta do Renhe.

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Cortesia de Jiakun Architects

Museu do Forno Imperial de Jingdezhen / Studio Zhu-Pei

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Vista para as abóbodas abertas. Imagem © Schran Imagem

"Nascido do forno, flor da porcelana" descreve Jingdezhen. O forno de tijolos não é apenas o lugar de origem de Jingdezhen, mas é também um lugar onde as pessoas vivem e interagem, preservando a memória que está inextricavelmente ligada à vida da cidade. A estrutura do Museu é composta por uma série de abóbadas de diferentes raios de curvatura e comprimentos, as quais remetem as tradicionais formas dos fornos de porcelana de Jingdezhen. O acesso fica no pavimento superior do museu, que possui dois pavimentos acima e abaixo do solo. Ao entrar, obtém-se uma experiência espacial muito semelhante à dos artesãos que trabalharam aqui no passado. Virando à esquerda, as ruínas da Dinastia Ming e o pródigo pátio subterrâneo são atravessados à medida que se passa por uma série de câmaras estruturais arqueadas que variam ligeiramente em escala, às vezes internas e às vezes ao ar livre. Iniciando uma experiência museológica com fornos, porcelanas e pessoas da mesma origem.

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Vista para loja de design e chá&café. Imagem © Schran Imagem

Este artigo é parte dos Tópicos do ArchDaily: O que é uma boa arquitetura?, orgulhosamente apresentado pelo nosso primeiro livro: The ArchDaily Guide to Good Architecture. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos do ArchDaily. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

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Sobre este autor
Cita: Hou, Xiaohang. "Lendo a arquitetura como um livro" [Reading Architecture as a Book] 22 Out 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Bisineli, Rafaella) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/990160/lendo-a-arquitetura-como-um-livro> ISSN 0719-8906

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