Mulheres arquitetas e suas estratégias materiais: Bo Bardi, Merrick & Hadid

Embora exista mais equilíbrio entre o número de mulheres e homens na arquitetura atualmente, a paisagem era bem diferente há algumas décadas. As mulheres pioneiras arquitetas tiveram que resistir em uma profissão dominada por homens e enfrentaram ceticismo em contextos desafiadores, como os próprios canteiros de obra. Zaha Hadid comentou sobre a dificuldade de inclusão no que chamou de "Boys Club", listando as dificuldades em chegar a acordos ou criar parcerias. Lina Bo Bardi, por sua vez, usou sua forte personalidade para superar o machismo de seu tempo. Embora com essas dificuldades, algumas mulheres sempre encontraram uma maneira de se destacar e trazer contribuições inestimáveis à profissão.

Em diversas ocasiões, lembramos de arquitetos famosos e suas descobertas materiais ao longo do tempo. Mas que tal reconhecer as contribuições das mulheres para a disciplina? Discutir suas explorações materiais pioneiras é essencial para entender seu papel nos projetos. Com uma análise do trabalho das conhecidas arquitetas Lina Bo Bardi, Norma Merrick Sklarek e Zaha Hadid - que introduziram técnicas inovadoras e tendências materiais - a discussão a seguir traz à luz como as ideias das mulheres influenciaram o desenvolvimento da arquitetura. Identificar suas abordagens sobre como gerenciar estruturas e materiais ajuda a entender a personalidade de seu trabalho e como implementar estratégias semelhantes no futuro.

Lina Bo Bardi (1914-1992)

O trabalho da arquiteta ítalo-brasiliana contém sua história de vida dentro dele. Após seus estudos na Universidade de Roma, ela se mudou para Milão, onde colaborou com Gio Ponti e depois se interessou pelo trabalho editorial. Posterior à devastação causada pela Segunda Guerra Mundial, conheceu Pietro Maria Bardi e mudou-se permanentemente para o Brasil. Caracterizada por criar um diálogo entre modernismo e cultura popular, sua obra teve como objetivo reinventar o espaço e reconstruir a arquitetura. A abordagem ao projeto de edifícios públicos segue a mesma linha de explorar novas estratégias para definir o espaço.

'Arquitetura e liberdade arquitetônica são, acima de tudo, questões sociais que devem ser vistas de dentro de uma estrutura política, não de fora dela.' - Lina Bo Bardi

SESC Pompéia: Um verdadeiro projeto público

Em se seu trabalho no SESC Pompéia, em São Paulo, Lina Bo Bardi trabalha com o concreto para adicionar expressão à arquitetura. Implantado no terreno de uma antiga fábrica, ela criou um centro comunitário que incorpora cultura, esportes e recreação.

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Sesc Pompéia / Lina Bo Bardi. Image © Pedro Kok

Preservando a materialidade dos tijolos da antiga fábrica, a estratégia adiciona dois volumes de concreto conectados por passarelas elevadas, mantendo o nível da cidade livre de interrupções visuais e físicas. O edifício destaca o concreto como sua principal característica, que não apenas funciona como uma estrutura, mas também inclui formas verticais de madeira e horizontais para fins estéticos.

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Sesc Pompéia / Lina Bo Bardi. Image © Pedro Kok

A arquiteta estabeleceu uma conexão entre o edifício e o ambiente, além de criar um local de encontro para as pessoas no coração da cidade.

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Sesc Pompéia / Lina Bo Bardi. Image © Pedro Kok

Museu de Arte de São Paulo (MASP): Um bloco de concreto flutuante

Alguns podem se perguntar por que esse projeto chamou a atenção mundial a Bo Bardi. Em parte, a resposta está no fato de que ao criar um modelo arquitetônico preocupado com seu papel público, isso promoveu uma vida urbana democrática, horizontal e plural.

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Museum of Art Sao Paulo (MASP) / Lina Bo Bardi. Image © Pedro Kok

Depois de receber a comissão para construir o novo Museu de Arte, Bo Bardi tinha uma condição para responder: o edifício não poderia bloquear as vistas panorâmicas das partes mais baixas da cidade. Como tal, suspenso sob duas vigas de concreto protendidas - que descansam em pilares maciços - o edifício enquadra um espaço coletivo desobstruído para a reunião dos moradores de São Paulo.

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Museum of Art Sao Paulo (MASP) / Lina Bo Bardi. Image © Pedro Kok

Brincando com o contraste da estrutura e espaço do edifício, a arquiteta cria um diálogo entre leveza e massa. A estratégia material traz dois movimentos arquitetônicos: modernismo e brutalismo. O encontro de vidros e plantas livres com os pilares de concreto e o sistema estrutural define a identidade do projeto. Aplicando cor às vigas, o design destaca a estrutura principal do projeto, esclarecendo como a estrutura domina a linguagem formal do edifício.

Norma Merrick Sklarek (1926-2012)

Nascida no Harlem, Nova York, Norma Merrick Sklarek é conhecida como uma das mulheres pioneiras em arquitetura e a primeira a alcançar uma licença de arquitetura na Califórnia. Depois de colaborar em diferentes projetos que utilizavam fachadas de vidro em empresas de arquitetura como Gruen Associates, ela co-fundou uma empresa dirigida apenas por mulheres: Sklarek, Siegel e Diamond.

'A arquitetura deve trabalhar para melhorar o ambiente das pessoas em suas casas, seus locais de trabalho e em seus locais de recreação. Deve ser funcional e agradável, não apenas à imagem do ego dos arquitetos. - Norma Merrick Sklarek

Embaixada dos EUA em Tóquio: Sistemas modulares

Com um design modernista, o edifício da embaixada dos EUA combina materiais para definir um sistema de fachada modular. Sem sobrecarregar o edifício, a estratégia de design incorpora painéis de vidro com painéis de revestimento de fachada externa para distinguir as barras horizontais, criando uma aparência simples e bem organizada para sua forma retangular.

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US Embassy of Tokyo / Norma Merrick Sklarek. Image Courtesy of Gruen Associates

Pacific Design Center: Novas dimensões do edifício de vidro

Durante seu tempo na Gruen Associates, ela participou do design do Pacific Design Center, localizado em West Hollywood, Los Angeles. Em colaboração com o arquiteto Cesar Pelli, seu trabalho é conhecido como um marco arquitetônico da cidade. A instalação multiuso para a comunidade de design reinventa um centro que costumava ser uma área residencial e comercial em baixa escala em um marco extremamente colorido.

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Pacific Design Center / Norma Merrick Sklarek. Image Courtesy of Gruen Associates

De escritórios e showrooms a espaços de lazer, o layout foi desenvolvido em três etapas, onde Merrick participou dos dois primeiros. O primeiro edifício, conhecido como 'Baleia Azul', é distinguido por seu revestimento de vidro azul de quase 70 mil metros quadrados, seguido pela incorporação de um edifício verde brilhante. A estratégia de design do projeto destaca o uso de dimensões fora de escala, novas formas e cores vibrantes.

Zaha Hadid (1950-2016)

“Existem 360 graus. Por que se prender a um só? " A arquiteta e matemática, vencedora do prêmio de Pritzker, é reconhecida por projetar além dos limites criativos e tecnológicos, o que levou seu trabalho a experimentar com curvas sensuais, geometria e parametrismo. Mantendo materiais tradicionais como concreto e aço, ela alcança formas inovadoras que brincam com possibilidades estruturais tradicionais e criam uma aparência visual que desafia a gravidade.

“Não acho que a arquitetura seja apenas sobre abrigo, ou apenas um fechamento simples. Deve ser capaz de excitar você, acalmar, fazer você pensar. " - Zaha Hadid

Heydar Aliyev Center: Desenvolvendo a pele do edifício

Rompendo a rígida arquitetura soviética comumente vista na cidade de Baku, Zaha Hadid Architects propõe uma nova expressão arquitetônica para o edifício para programas culturais.

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Heydar Aliyev Center / Zaha Hadid. Image © Iwan Baan

Através de um relacionamento contínuo entre o interior do edifício e a praça circundante, o projeto se funde com o tecido urbano da cidade. Com o objetivo de conectar os espaços e orientar os visitantes, a estratégia aplica ondulações, bifurcações e inflexões na superfície. Com o uso de geometria e tecnologia, o projeto cria um espaço fluido.

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Heydar Aliyev Center / Zaha Hadid. Image © Helene Binet

O processo de design adiciona uma combinação de sistemas de construção e tecnologias avançadas para alcançar o envelope do edifício. Com base em dois sistemas - uma estrutura de concreto combinada com um sistema de quadros espaciais - o projeto desenvolve um espaço livre de colunas que permite a continuidade no movimento do usuário. A proposta da arquiteta na geometria da superfície apresenta soluções estruturais inovadoras, como curvas e encaixes para apoiar a pele do edifício.

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Heydar Aliyev Center / Zaha Hadid. Image © Hufton+Crow

A estratégia material incorpora concreto armado de fibra de vidro (Glass Fiber Reinforced Concrete - GRFC) e poliéster reforçado com fibra de vidro (Glass Fiber Reinforced Polyester - GFRP), que são capazes de responder a diferentes situações: da praça ao envelope.

Dongdaemun Design Plaza: Digitalização da construção

Seguindo sua paixão com a parametrização no design de edifícios, Zaha Hadid explora a digitalização de construção, como o sistema BIM no processo de design. Com a incorporação de softwares avançados, o projeto foi capaz de testar os requisitos de engenharia e construção para atingir a complexidade do design, sem perder o controle dos detalhes.

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Dongdaemun Design Plaza /Zaha Hadid. Image © Virgile Simon Bertrand

A estratégia material do edifício também foi alcançada através do processo de digitalização. Por exemplo, o sistema de revestimento da fachada é construído a partir de mais de 45.000 painéis, cada um deles em diferentes tamanhos e curvaturas, que foi gerenciado após um sistema de customização em massa. Dependendo da estação e da hora do dia, o edifício cria um efeito visual dinâmico produzido pelos padrões de pixelização e perfuração na fachada.

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Dongdaemun Design Plaza /Zaha Hadid. Image © Virgile Simon Bertrand

Este artigo é parte dos Temas do ArchDaily: Mulheres na arquitetura. Mensalmente, exploramos um tema em profundidade através de artigos, entrevistas, notícias e projetos de arquitetura. Convidamos você a conhecer mais sobre os temas do ArchDaily. E, como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossas leitoras e leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

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Publicado originalmente em 13 de outubro de 2022.

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Sobre este autor
Cita: Prieto, Camila. "Mulheres arquitetas e suas estratégias materiais: Bo Bardi, Merrick & Hadid" [Women Architects and their Material Strategies: Bo Bardi, Merrick & Hadid] 02 Nov 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/990532/mulheres-arquitetas-e-suas-estrategias-materiais-bo-bardi-merrick-and-hadid> ISSN 0719-8906

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