O centro das grandes cidades é alvo de diversos agentes públicos e privados. Normalmente com uma infraestrutura urbana completa, essas regiões condensam diversas camadas: de uma quantidade considerável de imóveis vazios até fenômenos como o da gentrificação, que aumentam o valor do custo de vida na região e expulsa as pessoas mais pobres para bairros distantes, acarretando em diversos problemas para o município.
Esses fatos não são novidade para ninguém. Por isso, nos últimos anos surgiram algumas iniciativas que pretendem combatê-los através da viabilização e construção de novas moradias populares. A seguir, apresentamos duas delas que acontecem em São Paulo:
FICA
O FICA é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 2015. Por meio da compra e/ou gestão de imóveis a partir do financiamento coletivo, busca garantir o uso socialmente justo da terra. Para viabilizar o aluguel para famílias de baixa renda no centro de São Paulo, eles atuam de três formas:
- No programa Apartamentos, as doações recebidas dos apoiadores da organização são depositadas em um fundo, e ao atingir um determinado valor, um novo apartamento é comprado e reformado. Os imóveis adquiridos são alugados por um valor de custo, para famílias de 2 a 3 salários mínimos;
- Visando escalar a atuação do FICA, em 2021, investidores de impacto social se juntaram para intervir no mercado de cortiços. Ao adquirir imóveis em risco de serem encortiçados e montando casas compartilhadas no centro de São Paulo, a organização viabiliza uma alternativa aos atuais moradores de cortiços, oferecendo-os segurança, salubridade e formalidade no aluguel;
- O FICALab é o laboratório para incubação e aceleração de novos projetos relacionados à propriedade do solo urbano ou temas que estejam conectados à missão da organização. O espaço sedia projetos em diversos estágios, realiza parcerias com instituições de pesquisa, órgãos públicos, ONGs e coletivos.
Você pode conhecer a organização e apoiá-la através do site oficial. Vale também escutar o podcast realizado pela Betoneira com a arquiteta Marina Grinover, uma das fundadores do Fundo FICA.
Soma
O Sistema Organizado de Moradia Acessível (Soma) foi idealizado pelo Grupo Gaia, Din4mo e pela Incorporadora MagikJC. O modelo pretende comprar terrenos no centro de São Paulo para construir edifícios de habitação popular com recursos captados por meio de instrumentos financeiros de mercado e remunerar seus investidores com o aluguel pago pelos moradores. Este terá um valor de aproximadamente 25% abaixo do que é cobrado na região, sendo que o desconto pode chegar até 40% em algumas unidades, para seguir a ideia de uma lógica de financiamento cruzado, na qual alguns apartamentos custam mais e ajudam a subsidiar outros mais baratos.
O primeiro empreendimento será no centro de São Paulo e assinado pelo escritório Andrade Morettin. Com 110 unidades, terá uso misto, com apartamentos para locação tradicional e outros para estadias de curta duração, além de espaço comercial no térreo. No empreendimento a escolha dos moradores será feita em conjunto com movimentos sociais de moradia, o foco está em famílias de até seis salários mínimos, sendo que 60% dos apartamentos serão reservados para famílias de até três salários mínimos. Os aluguéis de áreas comerciais e não residenciais também obedecerão a critérios sociais, privilegiando os próprios moradores do prédio. A ONG SOMA ficará responsável pela gestão do condomínio, viabilizando uma estrutura que busca garantir a locação acessível de forma perene, evitando que as unidades sejam futuramente vendidas e entrem no ciclo do mercado imobiliário.
No total, o sistema pretende construir cerca de 40 edifícios que sigam critérios semelhantes. Com foco na tecnologia social de gestão pós-ocupação, idealizadores do Soma afirmam que o projeto vai além de uma solução de moradia e trata da mobilidade social.
Fonte: Capital Reset e Andrade Morettin.