Um conjunto de países do sul da Ásia experimentou em meados do século XX uma catarse coletiva do domínio colonizador. O período seguinte desencadeou em uma era de ideias e filosofias para um novo futuro. Durante este tempo, os arquitetos foram fundamentais na criação de estruturas modernistas que definiram as identidades pós-coloniais, pós-partição e pós-imperiais dos países. Arquitetos do sul da Ásia usaram o design como expressão de uma visão social de esperança. Mesmo com este sucesso na construção da nação, as mulheres arquitetas não são creditadas na formação da história do sul da Ásia.
Paquistão, Índia, Bangladesh e Sri Lanka tem um marco importante em comum - a conquista da independência do domínio britânico. A maneira na qual cada país avançou depois disso é única e contextualizada. Em relação à arquitetura, esses países enfrentaram coletivamente crises habitacionais, restaurações de prédios patrimoniais e a necessidade de instituições públicas. Uma onda de descolonização varreu o sul da Ásia, utilizando a arquitetura moderna como veículo para se libertar do período colonial.
Recapitulando o passado, nota-se uma espécie de apagamento da contribuição das mulheres arquitetas para a história arquitetônica de seu país. A maioria dos arquivos e documentação da arquitetura modernista do sul da Ásia se gaba do trabalho de arquitetos homens como Geoffery Bawa, B. V. Doshi e Fazlur Rahman Khan. Vindas de origens diversas, as carreiras dessas mulheres arquitetas estão enraizadas na formação da arquitetura modernista que representa seus países hoje:
Paquistão: Yasmeen Lari
Conhecida por sua abordagem humanitária, a primeira arquiteta do Paquistão, Yasmeen Lari, desempenhou um papel fundamental na construção do Paquistão pós-partição. Após as transferências populacionais e os campos de refugiados da divisão da Índia e do Paquistão em 1947, ocorreram graves crises habitacionais, amplificadas pela industrialização e urbanização. O trabalho mais conhecido de Yasmeen explora moradias de baixa renda e soluções para o bem social. Sua ampla gama de projetos explora temas como comunidade, pertencimento, design participativo, história local e cultura pós-colonial.
O processo de design e o ativismo de Yasmeen influenciam sua abordagem sistêmica, seu trabalho nas interseções da arquitetura, direitos humanos, descolonização, gênero, mudança climática e renascimento vernacular. Ela é aclamada por suas construções de carbono zero usando materiais e técnicas tradicionais nativas do Paquistão. A prática da arquiteta também se estende à documentação e preservação histórica, visando conservar e reinterpretar a arquitetura tradicional de seu país.
Bangladesh: Marina Tabassum
O trabalho contextualizado de Marina Tabassum em seu país natal, Bangladesh, inspira arquitetos de todo o mundo. Enraizados na responsabilidade para com as comunidades locais, os edifícios de Marina utilizam materiais locais para melhorar a vida das comunidades de baixa renda no país. Seu trabalho também foca em construir em sintonia com o meio ambiente natural, enfrentando os desafios ambientais que ameaçam os recursos do país.
Bangladesh pós-partição sofreu a pressão de milhões de refugiados e declínio industrial. O país ainda tem alta desigualdade de renda e uma necessidade urgente de moradias acessíveis. Há uma tendência atual de migração urbana impulsionada pela pobreza rural, erosão fluvial e calamidades naturais. Crescer nessas condições influenciou os projetos da arquiteta de Dhaka. Vendo a arquitetura como uma responsabilidade social, ela entende a necessidade de se entregar profundamente a um contexto cultural para projetar com impacto.
Índia: Pravina Mehta
O movimento de libertação contra o assentamento colonial na Índia marca as mudanças sociais, políticas e econômicas na Índia. Com essas mudanças veio o desejo de expressar a identidade ressurgente de um país independente através da arquitetura moderna. Uma arquiteta que estava igualmente envolvida na luta pela liberdade foi Pravina Mehta, pausando sua formação arquitetônica para se juntar a movimentos de massa contra o domínio britânico. Os interesses de Pravina variavam de arte e política a design e planejamento urbano.
Pravina estava ciente das disparidades entre as classes sociais na Índia, especialmente na provisão de habitação. Como urbanista socialmente comprometida, ela estava motivada a promover valores igualitários e justiça social em instalações habitacionais para a população extremamente diversificada da Índia. Ela se atentou às questões sociais e psicológicas que surgiram nas comunidades e usou seus insights para projetar para estilos de vida variados. Através de seus projetos, Pravina expressa a rica herança indiana na arquitetura contemporânea, inspirando-se nas formas de arte tradicionais.
Sri Lanka: Minnette de Silva
Durante meados do século XX, como a maioria dos países do sul da Ásia, o Sri Lanka passou por um renascimento depois de conquistar a independência do domínio britânico. Mudanças políticas significativas e a visão de um Estado-nação idealizado provocaram a mudança do colonialismo para a descolonização. O resultado é o retorno e a reprodução da identidade tradicional, evidenciada na arquitetura e ambiente construído.
Nesta fase crucial da história do país, o trabalho da arquiteta Minnette de Silva exemplifica a especificidade cultural e local em sintonia com o movimento moderno global. A prática da arquiteta do Sri Lanka se entregou a uma amálgama de matérias-primas, técnicas locais e tradições artesanais para criar edifícios modernistas. Seu trabalho visava garantir um meio de vida para os artesãos pobres. Minnette foi pioneira no Regionalismo Crítico em seu país natal, reconhecendo o impacto do clima, da comunidade e do artesanato na arquitetura contemporânea do Sri Lanka.
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Publicado originalmente em 24 de outubro de 2022.