Os animais em geral medem distâncias e peso para sua sobrevivência, mas foi a necessidade humana de se comunicar para viver em sociedade que resultou na criação da linguagem, e posteriormente, nos padrões de pesos e medidas. Seja para se deslocar, para porcionar alimento, fazer ferramentas ou calcular peso de objetos e animais, os padrões de aferição surgem dessa necessidade que estava presente já nas atividades humanas na era da pedra lascada e nos acompanha desde então. Se hoje em dia grande parte da população mundial faz uso de metros, centímetros e decímetros para aferir distâncias e medidas, sua padronização vem não apenas da necessidade de estabelecer comparações que permitissem comércio entre povos, mas também de disputas políticas e sociais.
Todas as civilizações da antiguidade apresentam algum tipo de sistema de medidas. Na civilização Egípcia, por exemplo, o sistema de medidas era fundamental para a manutenção de seu Estado Burocrático, que pautava a cobrança de impostos sobre a agricultura. Eram os escribas que controlavam as aferições, as quais eram principalmente baseadas em proporções do corpo humano imperial. Para o peso, os egípcios, responsáveis pela invenção da balança em 5 mil a.C, usavam padrões esculpidos em formatos de animais, os quais eram tidos com grande apreço pela sociedade a ponto de serem enterrados com os faraós.
O império romano também criou seu próprio sistema de medidas, baseado no sistema grego. Nos centros das cidades romanas havia casas que concentravam os modelos padrões para que as pessoas pudessem levar suas réguas e conferir as medidas, que eram também baseadas em proporções do corpo humano, como pés e polegadas. Apesar de algumas tentativas de padronização dos sistemas de medidas, como a de Carlos Magno no século VIII, durante a Idade Média cada feudo mantinha seu próprio sistema, também proporcional e baseado nas medidas do Senhor Feudal. Assim como na época dos egípcios, a relação era baseada na cobrança de impostos e quem detinha as medidas, detinha o poder.
E assim continuou sendo, durante os regimes absolutistas europeus, com os impérios e reinos estabelecendo uma forma de controle a partir da aferição. A precisão quase não era possível, seja pelo interesse em extorquir a população, seja porque os padrões variavam de lugar para lugar, havendo grande diversidade de medidas. É com a Revolução Francesa e o rompimento com as tradições feudais que a proposta de padronização do sistema de medidas é levantada, buscando melhorar as condições comerciais. Nesse sentido, com o sistema capitalista e a valorização do lucro, a padronização dis sistemas de medida ganha importância.
A partir das ideias iluministas, os cientistas da época entenderam que para haver um sistema padrão ele não poderia derivar de proporções humanas da realeza, uma vez que haviam disputas políticas entre impérios, mas deveria se apoiar em algo imutável da natureza. Assim, na França do fim do século XVIII, surge o metro, a unidade-padrão de comprimento que seria a décima milionésima parte da distância entre o Pólo Norte e o Equador, da qual derivou-se também as unidades de peso e de volume. A disputa entre os impérios francês e inglês fez com que os países sob domínio do primeiro adotassem o sistema, enquanto aqueles sob domínio segundo mantiveram o sistema imperial britânico até o século XX, quando universalmente a academia reconheceu o Sistema Internacional de Unidades.
Mesmo com a mudança de ideais que incentiva a padronização das medidas, a aferição continua prevalecendo enquanto uma ferramenta burocrática e de controle. O metro, um padrão constante e universal com múltiplos e submúltiplos, permite a precisão, a padronização e a checagem, tornando-se uma ferramenta fundamental para a manutenção do sistema capitalista, considerando o controle de toda indústria que se desenvolveria a partir daí. Em paralelo, para a arquitetura, o metro se tornou a medida padrão, em contraste à proporção humana.
Se, por um lado, permitiu que a construção se desenvolvesse e padronizasse técnicas construtivas e materiais quase que universalmente, por outro, também apagou a autonomia do construtor e a livre criação ao obrigá-lo a aprender uma técnica que não é orgânica e instintiva como a proporção humana. Hoje em dia, há um esforço em resgatar a arquitetura vernacular, que muitas vezes utiliza de técnicas e medidas que não são aritméticas, buscando conhecimentos que podem ter sido perdidos com a padronização universal dos sistemas.