Churrasco na laje: a história das coberturas planas úteis

Já há algum tempo as coberturas se tornaram espaços de lazer, seja nos grandes edifícios luxuosos, seja nas casas da periferia. Essa condição, porém, não se limita aos nossos tempos. Variando seu uso e sua forma, diferentes culturas em diferentes momentos fizeram o uso das coberturas planas em sua arquitetura, residencial ou não. 

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O primeiro indício de uso de terraços remete aos povos mesopotâmicos e seus Zigurates. Ocupando o território onde hoje ficam Irã e Iraque, os sumérios, considerada a primeira civilização de que se tem registro, em 4.000 aC, ergueram grandes templos religiosos de tijolos de barro que também podiam ter outros usos. No caso da famosa Torre de Babel, além de função religiosa, o Zigurate de Etemenanki também tinha um papel científico. Os escribas observavam os astros dos terraços do Zigurate e conheciam alguns planetas e astros como Saturno, Júpiter, Marte, Vênus, Mercúrio, o Sol e a Lua. Outro famoso Zigurate, os Jardins Suspensos da Babilônia, do qual tem-se poucas informações a respeito, foi possivelmente construído por Nabucodonosor II no século VI a.C. em homenagem a sua esposa e levava em seu terraço um exuberante jardim. 

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Zigurate de Etemenanki . Image © Wikimedia Commons

Ainda que esses grandes templos religiosos tivessem o elemento de cobertura utilizável, acredita-se que a população em geral residia em casas apertadas autoconstruídas, que se organizavam ao redor de pátios, aglomeradas entorno dos templos. Vistos desde o Tibet até a Grécia e o Oriente Médio, as coberturas úteis surgem de diferentes formas e momentos enquanto uma solução de arquitetura vernacular que busca responder às necessidades culturais, climáticas e geográficas, dependendo também da organização social de cada grupo. 

Na Grécia, por exemplo, para se proteger de piratas e ocupar áreas junto a penhascos íngremes, as habitações foram escavadas na montanha e suas coberturas eram úteis e de uso coletivo. Já nas medinas das cidades islãs, antigos centros urbanos que têm uma ocupação parecida com a descrita dos povos mesopotâmicos, com ruas irregulares e estreitas e construções aglomeradas, vê-se a cobertura enquanto espaço de trabalho, ou ainda de atividades domésticas. 

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Medina em Fez, Marrocos. Image © Photo by Selina Bubendorfer on Unsplash

Esse tipo de ocupação teve forte influência em países como Espanha, Portugal e Itália, que em construções aglomeradas e pequenas, os terraços se tornaram uma alternativa para acesso à luz do sol nas casas, tornando-se primeiramente lugar de apoio para manutenção doméstica e, posteriormente, um espaço de lazer. Mais tarde, com a colonização da Espanha e de Portugal principalmente na América Latina, vê-se esta mesma tipologia se repetindo, como bem é retratado no filme Roma (2018) de Alfonso Cuarón, que se passa no México. Principalmente nas periferias das grandes cidades, onde o crescimento urbano acelerado e sem projeto faz com que a ocupação do território seja também aglomerada, muito se vê o uso das lajes de cobertura para usos variados e diversos, do lazer à manutenção. 

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© Filme Roma, 2018.

Por outro lado, a história da arquitetura reconhece formalmente o terraço jardim após o movimento moderno quando Le Corbusier listou os cinco pontos da arquitetura moderna buscando afirmar as vantagens arquitetônicas da construção em concreto armado e a estrutura portante independente. Junto dos pilotis, janela em fita, fachada livre e planta livre, o terraço jardim é, para Corbusier, uma tentativa de repor o meio natural retirado do térreo, reaproximando os moradores da natureza. Do movimento moderno em diante, e com os avanços tecnológicos, a cobertura útil ganhou novas e variadas formas e atividades, seja em casas, em edifícios habitacionais ou comerciais. 

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Terraço Jardim Vila Savoy, Le Corbusier. Image © Flickr User End User

Mirantes, piscinas, restaurantes, hortas, apartamentos, a área que algumas culturas considerava de manutenção da casa, guardando a caixa d`água e a lavanderia, hoje é um dos espaços mais valorizados dos edifícios, tanto pela arquitetura quanto pelo mercado. Ao mesmo tempo, a população que continua autoconstruindo organicamente permanece encontrando instintivamente as mesmas soluções que as civilizações passadas encontrava para a ausência de espaços livres e de horizonte: ocupar o topo das construções.  

Referência: Clarissa Martins de Lucena Santafé Aguiar, "Terraço Jardim: Uma ideia para (re)inventar". Acesse aqui.

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Sobre este autor
Cita: Giovana Martino. "Churrasco na laje: a história das coberturas planas úteis" 05 Dez 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/992190/churrasco-na-laje-a-historia-das-coberturas-planas-uteis> ISSN 0719-8906

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