Cidades flutuantes do passado e do futuro

A ameaça da mudança climática está se aproximando diante de nós. A elevação do nível do mar preocupa mais de 410 milhões de pessoas em risco de perder seus meios de subsistência. As cidades litorâneas estão cheias de arranha-céus e ruas congestionadas, utilizando a terra de forma insuficiente. Sintetizando estes problemas, arquitetos de todo o mundo propuseram uma resposta potencial - cidades flutuantes. Um futuro da vida na água parece uma mudança radical de como as pessoas vivem, trabalham e se divertem. Os precedentes vernaculares provam o oposto, oferecendo inspiração para aquilo em que nossas cidades poderiam se transformar. Enquanto os líderes mundiais discutem cursos de ação para enfrentar a mudança climática na cúpula climática da COP27 no Egito, o ArchDaily mergulha no conceito de assentamentos radicais à base de água.

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Conforme a narrativa padrão da civilização, os primeiros assentamentos humanos floresceram próximo de corpos de água - rios, lagos, pântanos e mares. Os nômades precisavam de água para beber e caçar, e as comunidades agrícolas para a agricultura. A terra também era mais fértil onde poderia ser facilmente nutrida por uma fonte de água. Como resultado, os humanos se estabeleceram na intersecção da terra e do mar, construindo e cultivando seus assentamentos em qualquer direção. Kampong Ayer em Brunei, Makoko em Lagos, Ganvie em Benin e os pântanos da Mesopotâmia oferecem um vislumbre de um estilo de vida em meio à água. Eles fornecem um ponto de partida para imaginar como nossas vidas seriam moldadas por novos assentamentos offshore.

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Assentamentos flutuantes em Ganvie, Benin. Imagem © Iwaria Inc.
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O Plano Kenzo Tange da Baía de Tóquio. Imagem © Kenzo Tange

Uma ideia mais contemporânea de cidades marinhas começou surgir na década de 1960 com a Triton City de Buckminster Fuller e o Tokyo Bay Plan de Kenzo Tange. Estes projetos utópicos se desenvolveram sobre ideias existentes de arquitetura aquática - propondo comodidades modernas, redes avançadas de mobilidade e crescimento ordenando. A arquitetura vernacular à base de água geralmente compreendia tectônica como casas de palafitas e, mais recentemente, estruturas flutuantes feitas de elementos ocos de plástico. As estruturas idealistas oferecidas na era modernista apresentavam estruturas flutuantes feitas de aço e exploravam novas metodologias para manter as construções flutuantes.

Com os avanços na tecnologia vem a inovação. No século XXI, arquitetos e o público começaram a levar mais a sério a ideia de cidades aquáticas. O projeto mais famoso no momento é a cidade Oceanix de Bjarke Ingles, desenvolvida em parceria com a UN-Habitat e o escritório de tecnologia azul OCEANIX. A visão para o primeiro protótipo mundial de cidade sustentável sobre a água estará situada em Busan, Coreia do Sul, uma importante cidade marítima da região. A comunidade parecida com uma ilha seria ancorada no fundo do mar por uma biorocha que abrigaria recifes artificiais de corais. Os alimentos seriam cultivados em fazendas flutuantes e via aquicultura, e a água potável seria obtida a partir da água do mar dessalinizada. A Oceanix em seus primeiros estágios conceituais mostra potencial.

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Oceanix City / OCEANIX + BIG. Imagem © Cortesia de Oceanix e BIG-Bjarke Ingels Group
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Waterbuurt / Marlies Rohmer Architecture & Urbanism. Imagem © Marlies Rohmer Architecture & Urbanism

Conceitos similares de alta tecnologia foram expostos no Lilypad de Vincent Callebaut, no Seasteading Institute e na Sub-Biosfera 2 de Phil Pauley. Já à frente destas visões está um empreendimento residencial flutuante de última geração em Amsterdã. Dada a consciência ecológica da Holanda, o projeto intitulado Waterbuurt aborda com sucesso a ameaça iminente de aumento do nível do mar no país de baixa altitude. Em Lagos, uma nova cidade costeira está sendo desenvolvida por meio da recuperação de terras, semelhante aos projetos ao longo da costa dos Emirados Árabes Unidos.

Embora os danos ambientais visíveis tenham incitado a uma conversa em torno de cidades flutuantes, o ceticismo permanece. Questões sobre viabilidade, custo e experiência na construção de infraestrutura offshore preocupam as partes interessadas. Ideias políticas em torno da jurisdição e da propriedade exigiriam uma reconsideração. Esses projetos caros poderiam ser acessíveis apenas a determinados setores da sociedade. Os ambientalistas também criticaram severamente os projetos de recuperação de terras por perturbar os ecossistemas oceânicos e arriscar inundações.

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Maldivas Cidade Flutuante / Waterstudio.NL . Imagem © Waterstudio.NL

O futuro da vida urbana pode imitar de perto seu passado menos conhecido. Em tempos de incerteza, estudos de casos de arquitetura tradicional e sistemas de culturas indígenas podem oferecer oportunidades de aprendizado. As comunidades anfíbias compartilhavam seus recursos, e os conceitos de propriedade estavam praticamente ausentes. A água era vista como um bem comum e o ecossistema como parte de si mesmo. Os assentamentos foram construídos para coexistir com os padrões estabelecidos da natureza, contribuindo tanto quanto extraídos do meio ambiente. As estruturas semipermanentes - uma vez que não estão ancoradas na terra - cresceram e encolheram organicamente conforme as necessidades da comunidade.

Segundo o Instituto de Economia e Paz, mais de 1 bilhão de pessoas estarão localizadas em áreas de infraestrutura insuficiente para suportar a elevação do nível do mar até 2050. A este ritmo, seriam necessárias mais de 9.000 cidades Oceanix para realocar os refugiados climáticos. As cidades flutuantes não são uma solução única para a elevação do nível do mar e a mudança climática, mas podem ser um passo impactante para a remediação. Esta mudança exigirá uma reavaliação dos padrões de vida, das estruturas legais e dos ecossistemas criados pelo homem. Uma nova fronteira de estilos de vida aquáticos parece promissora.

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Sobre este autor
Cita: Gattupalli, Ankitha. "Cidades flutuantes do passado e do futuro" [Floating Cities of the Past and Future ] 18 Dez 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Bisineli, Rafaella) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/992192/cidades-flutuantes-do-passado-e-do-futuro> ISSN 0719-8906

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