Pesquisas recentes revelaram qual a frequência média de banhos diários em alguns países no mundo. Enquanto nos latino-americanos, liderados por Brasil, México e Colômbia, as pessoas tomam de 8 a 12 banhos por semana, na grande maioria dos países litados a média fica em torno de 6 a 8. O banho, ao longo da história da humanidade, envolve tanto aspectos de saúde como religiosos, espirituais e até sociais.
O que temos hoje enquanto um hábito individual, de higiene e de preparação para socialização, já foi tanto um ato coletivo quanto um ato pecaminoso. Os registros mais antigos a respeito do banho vem dos egípcios. Para eles, o ato de tomar banho era sagrado, uma forma de purificar sua alma e homenagear seus deuses. O banho se realizava em um espaço coletivo e era uma atividade social que envolvia também o uso de óleos e cremes naturais.
Além do Egito, outras civilizações também apresentavam espaços sociais de banho, como os babilônios, os gregos e os romanos. A casa de banho mais antiga do mundo, conhecida como Mohenjo-daro, está localizada em Sindh, no Paquistão, e data de 3.000 a.C. Este equipamento, nas civilizações antigas, era tido como espaço religioso, de sociabilização e de autocuidado coletivo. Para os gregos, por exemplo, estavam, também, ligados à prática de esportes, particularmente a natação.
Foram os romanos, contudo, que elevaram o status das casas de banho, criando espaços que chegavam a receber mais de três mil pessoas. Estas edificações contavam com jardins, salas de sauna, piscinas de água quente e fria, vestiários, além de bibliotecas e restaurantes – tudo isso garantido pelo Império que, à medida que ia se expandindo, construía novas casas de banho amparadas por um sofisticado sistema sanitário de abastecimento e escoamento de água.
Civilizações orientais também dispunham de equipamentos semelhantes. As casas de banho turco-árabes, chamadas de hamans – que existem até hoje – contemplavam não somente o banho nas piscinas, mas também depilação, massagem, hidratação, branqueamento dos dentes e maquiagem. Enquanto a cultura oriental, não somente a turco e árabe, mas também os japoneses e chineses, manteve o hábito dos banhos ao longo da história, o ocidente viu essa prática ser interrompida durante a Idade Média, quando moralismo da Igreja Católica interferiu em muitos dos hábitos sociais.
Na Idade Média, Gregório I, que foi Papa de 590 a 604 d.C., qualificou o corpo humano como uma "abominável vestimenta da alma", e foi essa a ideologia que transformou o prazer em pecado e o ato de lavar o corpo em luxúria. A partir daí a população em geral abandonou os hábitos de higiene, o que provou uma série de crises sanitárias, epidemias e pragas que atravessaram a idade das trevas.
Se as antigas civilizações se banhavam regularmente em banhos públicos, usando grandes piscinas, argilas e óleos naturais para se conectar com sua religião e também para socializar, os povos da idade média passaram a se banhar em banheiras de madeira de uma a duas vezes ao ano, independentemente de sua posição social. Há relatos de que o Rei Louis XV tomou banho apenas 2 vezes em toda a sua vida. A higiene diária era feita com panos úmidos e muito perfume.
Mesmo com as Cruzadas e o contato com outros povos e culturas diferentes, como os povos originários sul-americanos, o hábito só veio mudar mesmo no ocidente com o iluminismo no século XVIII, quando o banho passou a ser entendido cientificamente como questão de saúde. Não se resgata, porém, os banhos coletivos, mas sim como um hábito individual e caseiro e também não sem resistência da maior parte da população. Soma-se a essa resistência a dificuldade de acesso à água e a condições sanitárias nas residências, e o que se tem é um longo processo para que o hábito de se banhar seja efetivamente retomado no ocidente.
No início dessa retomada não havia um espaço exclusivo na casa para se banhar. As banheiras de madeira eram colocadas pela casa e a mesma água era utilizada para o banho de todos. Foi somente a partir do final do século XIX que as casas ocidentais ganharam um espaço exclusivo para se banhar. Com invenções trazidas do oriente – como o chuveiro, de origem árabe, e a banheira, inspirada nos ofurôs japoneses – e acesso a água, os banheiros foram tomando uma forma mais parecida com o que conhecemos hoje.
A partir do início do século XX, muitas cidades receberam obras de saneamento básico passaram a levar água encanada às residências. É com a Segunda Guerra Mundial, e a consequente reconstrução de centros urbanos, que grande parte das residências europeias passaram a ter acesso a banheiros privativos. Desde então, o banho voltou a ser um momento de autocuidado, tornando-se também um produto comercial. As mídias e propagandas relacionam ao ato de se banhar uma série de produtos possíveis, seja equipamentos como chuveiros mais potentes ou banheiras luxuosas, seja cosméticos como sabonetes, óleos, espumas, shampoos e cremes.
Se, por um lado, o ato de banhar-se conseguiu driblar o moralismo cristão a partir do contato com outras culturas e a ciência, o hábito social que envolvia o banho foi sendo resgatado também aos poucos. As saunas e as piscinas públicas resistem enquanto espaço social hoje em dia em diferentes locais no mundo, mantendo alguns hábitos antigos vivos, sem, contudo, apresentar a potência social de outrora.
Referências