O canal do Youtube Never Too Small tem 2,25 milhões de inscritos – uma plataforma que apresenta a manipulação imaginativa do espaço em plantas pequenas. Vídeos de microapartamentos, em Paris, Londres e outras cidades alcançam milhões de visualizações. Claramente há uma demanda por conteúdo voltado para a vida em espaços pequenos, já que uma crise imobiliária global acelerou a queda na disponibilidade de residências acessíveis e maiores em áreas urbanas. Para aproveitar ao máximo o espaço limitado dentro dessa realidade restrita, arquitetos têm projetado plantas com menos de 40 metros quadrados visando criar uma experiência espacial não claustrofóbica.
No subúrbio de Darlinghurst, em Sydney, o escritório australiano Brad Swartz Architects aproveitou ao máximo um apartamento de 27 metros quadrados para um casal com um sistema eficiente de armazenamento escondido. Outro projeto da FREAKS freearchitects em Genebra tem uma paleta de materiais mais minimalista, apresentando a divisão direta longitudinal entre as áreas privativas e outros espaços. A intervenção do escritório espanhol elii em Madri no espaço de apenas 24 metros quadrados e um só ocupante integra em sua configuração uma coleção de dispositivos deslizantes e rebatíveis.
Projetos como esses, com uma abordagem pragmática devido a falta de espaço, costumam ter escolhas de design engenhosas - espelhos para fazer uma sala parecer maior, por exemplo, ou a presença de móveis suspensos e rebatíveis. Nesse contexto, o espaço que pode ser economizado ao dobrar móveis, como mesas de jantar e camas, é significativo.
Mas à medida que os apartamentos ficam menores, a acessibilidade é – e continuará sendo, o – uma preocupação fundamental. Um apartamento projetado por Nicholas Gurney, também no subúrbio de Darlinghurst, em Sydney, visava o futuro. Pensado para um casal que queria que o apartamento fosse “o último lugar em que já viveram”, a planta de 38 metros quadrados é composta por três zonas e considera de forma crucial as necessidades do casal à medida que envelhecem, já que o banheiro é acessível para cadeiras de rodas. Para fazer um apartamento multifuncional, a mobília rebatível é novamente utilizada - a cama quando não está em uso é dobrada em uma divisória do guarda-roupa e uma mesa de jantar de cinco lugares pode ser retirada de uma gaveta da cozinha.
Nestes pequenos apartamentos, o uso obrigatório deste tipo de mobiliário pode, naturalmente, levar a restrições significativas sobre quem pode utilizar estes espaços de forma confortável. Móveis suspensos são mais fáceis de usar para pessoas sem deficiência, já pessoas com mobilidade limitada, por exemplo, têm que lutar com o movimento físico constante de reconfigurar os espaços que usam. Algumas pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) podem achar difícil manter a rotina doméstica de reorganizar repetidamente os espaços para uso. A automação desse tipo de mobiliário, como esses designs de cozinha ajustáveis, é necessária e o design necessário, mas pode ser excessivamente caro. Tudo isso, é claro, é apenas um pequeno segmento de um sistema global mais amplo que marginaliza as pessoas com deficiência.
Uma linha de móveis recente lançada pela IKEA e duas outras organizações sem fins lucrativos contém uma alça que se prende a uma cortina de chuveiro para facilitar a abertura e um acessório de cabeceira que permite o armazenamento de uma bengala - todos esses dispositivos destinados a fazer objetos do cotidiano mais usáveis por pessoas com deficiência. Para pessoas que moram em espaços menores e precisam dessas acomodações, produtos “complementares” como esses podem ser uma adição útil para suas casas – talvez trabalhando em conjunto com móveis rebatíveis, ou com os móveis que já existem em suas casas, especialmente se não puderem pagar um arquiteto para reimaginar seus espaços.
Os espaços projetados com sensibilidade exibidos no canal Never Too Small, além dos muitos projetos em plantas minúsculas que vemos diariamente em sites de design, são estudos de caso úteis de como podemos aproveitar ao máximo os menores espaços. Mas eles também oferecem uma estrutura útil para questionar quais decisões de projetos em plantas pequenas são acessíveis ou não.