Há alguns meses, o mundo se reuniu em Sharm El Sheik, no Egito, para a cúpula anual sobre mudanças climáticas: a COP27. Como o resto da África, a Nigéria é representada por seu séquito de burocratas, defensores do clima e outros grupos interessados. Desde a última reunião na Escócia (COP26), a Nigéria assinou a Lei de Mudanças Climáticas, estabelecendo uma meta de atingir zero emissões líquidas de gases de efeito estufa entre 2050 e 2070.
Nesse tempo, o país desenvolveu um ambicioso plano de energia que veria a transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, utilizando a sua vasta reserva de gás natural. O país está na vanguarda da Iniciativa dos Mercados Africanos de Carbono e planeja arrecadar pelo menos US$ 500 milhões com o comércio de créditos de carbono para compensar o carbono emitido.
Por mais impressionantes que sejam essas ambições, elas são construídas principalmente em torno da redução da pegada de carbono, uma meta nobre, mas, eu diria, equivocada. Nossa pegada de carbono atual é modesta. Não emitimos carbono per capita suficiente para justificar a atual obsessão com a redução de carbono, especialmente quando ela ainda precisa lidar significativamente com outros aspectos do clima e oferecer a seu povo a gestão ambiental apropriada, a maioria mais básica e prosaica do que as emissões. A obsessão da Nigéria e a busca precoce pela redução de carbono a cegaram para a iminente crise ambiental enffentada atualmente, negligenciando questões importantes - a maioria das quais essenciais para ajudar a alcançar as metas de desenvolvimento sustentável.
Meus colegas do Centro de Tecnologia Alternativa (CAT) e eu realizamos recentemente uma pesquisa de pegada de carbono. Usando uma calculadora de carbono open-source, estimamos que a pegada de carbono média anual para um nigeriano da classe trabalhadora é de 0,67 a 0,8 toneladas de CO2; a pegada de um nigeriano de classe média provavelmente é o dobro disso. Para ter uma perspectiva, compare isso com o resto do mundo desenvolvido: o norte-americano médio, por exemplo, emite pelo menos 15 toneladas de carbono; o britânico médio, 10 toneladas. Números parecidos (e até maiores) são comumente encontrados em outros lugares.
A Nigéria precisa urgentemente de uma solução baseada na indústria local para reduzir sistematicamente suas maiores emissões de carbono, em vez de uma que centralize toda a sua agenda climática na redução da pegada de carbono.
A principal fonte de CO2 da Nigéria é sua indústria de petróleo e gás. Atualmente o país está listado como o sétimo maior produtor de gás, emitindo cerca de 6,7 milhões de toneladas de CO2 nos primeiros seis meses de 2022. Há também roubo de petróleo bruto por refinarias ilegais no Delta do Níger, que extraem e refinam petróleo bruto, usando os métodos mais primitivos, poluindo assim o meio ambiente ao redor.
Na última década, as ações de mudança climática da Nigéria foram repletas de simbolismo e grandes gestos com impacto limitado. Não falta retórica. Ainda assim, a Nigéria luta com questões ambientais básicas, como descarte inadequado de lixo e má gestão de águas pluviais, além de suas deficiências flagrantes na conservação da natureza e ecossistemas marinhos limpos e na proteção de suas fontes de água. O país não tem um programa de reciclagem de lixo – tudo é amontoado e enviado para aterros sanitários. Continua sendo um dos poucos países do mundo que não tomou nenhuma medida significativa contra a onipresença de plásticos descartáveis. No ambiente construído, ainda não traduziu para tijolo e argamassa qualquer retórica verde que proferiu na última década. Não houve adoção em larga escala de princípios de construção ecológicos em canteiros de obras sustentáveis, iluminação natural, ventilação e qualidade do ar interno, nem mesmo nos edifícios governamentais.
Atualmente, a Nigéria está lidando com uma de suas piores enchentes em décadas. A inundação, causada principalmente por chuvas torrenciais, devastou várias vilas e cidades em todo o país, destruindo meios de subsistência, deixando milhões de desabrigados e bloqueando as rodovias que ligam as cidades. Na parte norte do país, os efeitos da enchente foram agravados pelo dilúvio em Camarões, vizinho da Nigéria, que abriu as pás da represa de Lagdo para liberar o excesso de água no rio Benue. É um problema perene que poderia ter sido minimizado se a Nigéria tivesse construído uma barragem para receber o excesso de água conforme planejado 30 anos atrás. Pior ainda, os calados de vários canais ao longo dos corpos d'água do país estão cheios de lodo, impedindo o fluxo dos rios para o Oceano Atlântico. A inundação urbana também foi agravada pela gestão precária das águas pluviais. Hoje, inúmeros drenos de águas pluviais em várias cidades estão entupidos com sujeira e resíduos plásticos. A tendência desenfreada de construção de novos empreendimentos em planícies de inundação agravou ainda mais o problema.
A Nigéria precisa desenvolver uma agenda ambiental abrangente que vá além da redução da pegada de carbono, que atenda e supere as necessidades sociais e ecológicas básicas de sua vasta população, empregando seus recursos limitados para desenvolver um plano de adaptação e mitigação que combata todos os inevitáveis desafios climáticos enfrentados atualmente. Este plano deve preparar o país para as eventualidades sobre as quais não se tem controle, e deve levar consigo os governos estaduais e municipais – que geralmente são os elos mais fracos – a se engajarem em uma melhor gestão ambiental, enfatizando a reutilização, reciclagem e compostagem quando necessário. Além disso, como solução para inundações perenes, a Nigéria precisa de um plano nacional de gestão de águas pluviais que assegure a dragagem consistente dos canais, o desassoreamento de drenos de águas pluviais e a construção de novos drenos quando necessário, tudo nos próximos anos.
Este artigo foi publicado originalmente no Common Edge.