Enquanto os governos do mundo lidam com as crises ambientais, a indústria da construção civil corre para reavaliar o projeto sustentável e desenvolver novas formas de medir sua eficiência. Consequentemente, os sistemas de certificação de edifícios verdes (GBCS) começaram a ganhar força no século XX para avaliar e promover práticas de construção ditas sustentáveis. No entanto, o chamado Sul Global enfrenta desafios distintos na construção de cidades sustentáveis. Suas nações em desenvolvimento exigem abordagens diferentes para projetar arquiteturas apropriadas, econômicas e inspiradoras para um futuro promissor.
Os sistemas de certificação de edifícios verdes são formulados para avaliar o desempenho de um edifício por uma perspectiva sustentável e ambiental. Eles fornecem ferramentas e métodos para avaliar o impacto ambiental e a eficiência dos recursos de um edifício. Aspectos como o uso de energia e o desempenho do material são medidos de maneira padronizada, o que permite comparações entre as opções de projeto. As estruturas que atendem a um nível de qualidade exigido recebem um certificado de um conselho internacional ou local de construção ecológica.
Os GBCSs mais populares são ‘Leadership in Energy and Environmental Design’ (LEED) e ‘Building Research Establishment Environmental Assessment Method’ (BREEAM). Originalmente desenvolvidos para os EUA e Reino Unido, respectivamente, ambos os benchmarks são usados atualmente para avaliar o desempenho de edifícios em mais de 50 países. Embora os GBCSs internacionais permitam uma avaliação padronizada e eficaz, eles ficam aquém das necessidades dos países do Sul Global.
Os benchmarks que atendem principalmente à América do Norte e à Europa são criados para economias desenvolvidas, considerando características como uso de combustível fóssil e mega emissões de carbono. As certificações internacionais podem ser difíceis de cumprir ou caras de obter em economias em desenvolvimento, onde o setor público e os projetos habitacionais de baixa renda impulsionam o crescimento. “Idealmente, as certificações de construção ecológica devem ser adaptadas às condições locais e às políticas de construção”, compartilha Carolin Schramm do BuildX Studio, com sede no Quênia.
A maioria dos sistemas de classificação internacional não está adaptada às configurações ambientais, culturais, históricas, sociais e econômicas do Sul Global. Além disso, as metodologias modernas de construção verde ainda estão engatinhando nas economias emergentes. Os sistemas de certificação, como a 'Sustentabilidade em Energia e Desenvolvimento Ambiental' (SEED) do Paquistão, foram desenvolvidos nos padrões do Norte Global, falhando em atender às condições únicas paquistanesas. Referências de sustentabilidade sensíveis ao contexto das nações do Sul Global são evidentemente a necessidade do momento.
Nesses países, uma necessidade comum de atender de forma sustentável às crescentes demandas habitacionais exige materiais e técnicas de construção locais com baixo teor de carbono. Projetos de infraestrutura estão crescendo em um ritmo alarmante nas próximas megacidades do mundo e exigem inovações ecologicamente corretas. Considerar as zonas climáticas tropicais, temperadas e áridas da região ajudaria ainda mais a reter tecnologias de construção relevantes localmente.
Padrões ecológicos internacionais podem ser difíceis de alcançar ou custear para as partes interessadas do projeto. Os países exigem benchmarks de construção verde personalizados e acessíveis para atender às suas metas de sustentabilidade individuais. “Nas economias em desenvolvimento, financiamentos ou créditos verdes podem ser usados para apoiar projetos que buscam a certificação”, afirma Schramm. “A longo prazo, a indústria deve defender uma mudança nas regulamentações de construção para tornar a sustentabilidade uma norma”, ela acrescenta.
Como resposta à necessidade de incentivar edifícios verdes, o World Bank Group, através da International Finance Corporation, idealizou o sistema 'Excellence in Design for Greater Efficiencies' (EDGE) em 2012. A certificação foi criada especialmente para economias emergentes, como nos países do Sul Global, onde a acessibilidade e a relevância regional restringem a obtenção de certificação para projetos.
Atualmente, poucos edifícios em economias emergentes são certificados devido à falta de sistemas econômicos. O EDGE está posicionado como um sistema de certificação rápido, amplamente disponível e acessível, influenciando significativamente o crescimento econômico e a sustentabilidade ambiental nessas regiões. Seu software gratuito permite que os projetistas avaliem estratégias ecológicas de projeto com base no comportamento dos ocupantes, tipo de construção e clima local. Ao estabelecer um sistema de certificação viável e sensível às necessidades dos países em desenvolvimento, os GBCSs para o Sul Global podem ir além das tentativas de greenwashing para criar moradias sustentáveis.
O Sul Global está bem equipado com soluções arquitetônicas orientadas pela climatologia vernacular que atendem às necessidades essenciais de suas comunidades e ecologias. Para abraçar as culturas locais e o futuro sustentável, os benchmarks personalizados devem apoiar o desenvolvimento de países, cidades e economias. O entendimento completo das condições e dos desafios contextuais do Sul Global estabelecerá as bases para um amanhã sustentável.
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