No contexto contemporâneo, como já foi dito inúmeras vezes, parece que vivemos no que se chama de uma era digital. Uma pandemia global aumentou a popularidade dos meios digitais de comunicação — como o Microsoft Teams e o Zoom, e o aplicativo de mensagens multiplataforma WhatsApp com mais de 2 bilhões de usuários ativos. Do ponto de vista ambiental, vemos a migração dos negócios para a “nuvem” como uma vitória da sustentabilidade. Em termos simplificados e para citar um exemplo específico, as empresas podem abster-se de armazenar dados em discos rígidos externos, e armazenar seus dados em serviços de hospedagem de arquivos online.
Essa mudança reduziria as emissões de carbono e impulsionaria a sustentabilidade, de acordo com muitas empresas de migração para a nuvem.
Mas sustentar a mudança de uma empresa para a nuvem é, obviamente, um elemento material. Um estudo pode mostrar que as empresas são menos eficientes em termos de carbono ao usar data centers locais, mas os data centers que executam a Internet que usamos ocupam uma pegada arquitetônica considerável. O Data Center do Google em The Dalles, uma cidade no Oregon, não é um empreendimento arquitetônico elaborado, utilitário e de aparência industrial. A escala, no entanto, é de outro mundo. Antes de uma ampliação em 2016, estimava-se que sua área era de 18.580 metros quadrados. Um edifício desta escala utiliza uma vasta quantidade de recursos – e no caso desta tipologia o recurso consumido não é apenas terra, mas também água.
No início de 2022, foi divulgada a quantidade de água que as instalações do Google em The Dalles consumiram em 2021. O número foi de cerca de 1,2 bilhão de litros. Esse consumo foi superior a um quarto de toda a água utilizada na cidade, já que a empresa busca o equilíbrio entre o uso de eletricidade e água no resfriamento de seus computadores. O uso extensivo de um recurso tão precioso é ainda mais evidente frente ao cenário climático - o final de 2022 viu grande parte do condado em que The Dalles está localizado ser atingido por uma seca severa.
O impacto dos data centers na paisagem também se estende à vida após a morte de seus hardwares, com um aumento monumental do lixo eletrônico. O rápido acúmulo desses resíduos está ligado à velocidade vertiginosa da inovação tecnológica - já que o tempo de vida relativamente curto de 3 anos de um servidor em nuvem exige o descarte constante de equipamentos considerados obsoletos.
Evidenciando ainda mais esse desperdício estão os protocolos de segurança de algumas empresas, que exigem a destruição de equipamentos de servidor que armazenavam dados confidenciais, apesar da presença de componentes reutilizáveis. É um reflexo gritante das ineficiências presentes nos sistemas que permitem as interações e transações globais que ocorrem a cada segundo.
Enquanto alguns ambientalistas lamentam a destruição de terras que os data centers proporcionam, outras autoridades locais defendem a construção de data centers como parte fundamental de sua estratégia econômica. O que é evidente é que esses centros, por mais que sejam edifícios individuais, projetados por nomes como Sheehan Partners e Benthem Crouwel Architects, também são um caminho para entendermos como é um futuro digital sustentável, se é que é possível.
Os data centers da década de 1950 eram complexos, mas primitivos – eram mais salas de computadores do que uma estrutura extensa. Os data centers dos anos 90 ganharam escala com o nascimento da internet, principalmente na forma de salas de servidores de empresas dentro de suas instalações. Os data centers construídos pelas multinacionais de hoje são empreendimentos imensos, ajudando as empresas a gerenciar suas metas de sustentabilidade, mas também lidando com sua parcela danos ecológicos. Podemos estar na era da nuvem, mas é uma era que requer uma infraestrutura física cada vez maior.
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