Pesados, imponentes e utilitários, os silos são estruturas duráveis, usadas para o armazenamento de produtos a granel. Eles são importantes elementos físicos da indústria agrícola, armazenando grãos, fermentados e outros alimentos. Os volumes altos e tipicamente cilíndricos continuam sendo objeto de fascínio arquitetônico — de símbolos do progresso tecnológico no modernismo do início do século XX, até os tempos contemporâneos, provocando abordagens criativas para a reutilização adaptativa.
O fascínio arquitetônico modernista com silos - silos de grãos em particular - está presente na obra do que foi chamado de vanguarda arquitetônica da época, incluindo, mas não se limitando a, nomes como Le Corbusier, Moisei Ginzburg, Reyner Banham e Walter Gropius. As fotografias eram a única forma de comunicar essa preferência. Walter Gropius publicou em um jornal de artesãos de 1913 fotografias dos muitos elevadores de grãos de Buffalo, em Nova York. O texto de 1923 de Le Corbusier, Towards an Architecture, apresenta menção e ilustração deles, e em The International Front of Modern Architecture, do arquiteto construtivista soviético Moisei Ginzburg, os silos são descritos com admiração - como parte de uma linguagem arquitetônica poderosa em expressão e magnitude.
O elevador de grãos, pelo menos a partir da leitura de suas formas por esses arquitetos, foi uma manifestação marcante de uma necessidade social crucial – estruturas que por sua própria aparência falavam do setor agrícola e, consequentemente, do que as pessoas comem.
Essa admiração transbordou de alguma forma para os profissionais contemporâneos. Há um número significativo de projetos que adotam essa tipologia, com seus tetos tipicamente altos e elevação distinta, e a reaproveitam para novos usos. A empresa Cobe, com sede em Copenhague, concluiu O Silo em 2013, como parte de uma transformação maior do porto do norte da capital dinamarquesa, em um distrito industrial. O edifício abriga um misto de espaços públicos e privados. É constituído por 38 apartamentos que, pela utilização anterior, são extremamente generosos tanto em pé-direito quanto em área.
Indiscutivelmente o projeto de reutilização adaptativa de silo mais conhecido, em parte devido ao estúdio que o projetou e à relevância cultural da instituição que abriga, é o Museu de Arte Contemporânea Zeitz na Africa (Zeitz MOCAA) da Cidade do Cabo. Inaugurado em 2017, o museu - o maior do mundo dedicado à arte contemporânea da África e sua diáspora - se espalha pelos nove andares da estrutura, com um átrio escultural esculpido nas formas tubulares do antigo silo. O Kunstsilo na cidade norueguesa de Kristiansand, no sul da Noruega, está atualmente em desenvolvimento – um silo de grãos abandonado que abrigará a maior coleção de arte modernista nórdica do mundo. A sua história, semelhante à do silo que hoje alberga o Zeitz MOCAA, é a de um edifício visto como uma representação da modernidade e, tal como o seu homólogo sul-africano, situa-se praticamente à beira-mar.
Esses dois projetos arquitetônicos, ambos abrigando coleções significativas de arte e adaptando uma tipologia que podem se adaptar bem a instituições públicas, podem propagar um futuro arquitetônico onde silos abandonados são ainda mais procurados para reutilização adaptativa, já que as cidades buscam dar vida a marcos industriais difíceis de serem ignorados. Além disso, um futuro onde instituições culturais continuam buscando uma arquitetura sustentável para expressão criativa adaptável.
Será que futuras adaptações de silos para organizações públicas, por sua vez, criarão sua própria tipologia, onde o silo passa de um símbolo de atividade industrial para um símbolo de prática criativa? Os edifícios nos fundos do comércio podem ser opacos, sem que as pessoas saibam o que acontece dentro deles - mas são muito visíveis para desaparecer na paisagem urbana. Talvez esses notáveis edifícios tenham, de fato, um futuro público.
