Infraestudio é uma prática de arquitetura e arte radicada em Havana, Cuba, que tem se mantido obcecada pela ficção desde a sua fundação em 2016. Fernando Martirena, Anadis González, entre outros membros e colaboradores, trabalham com o narrativo e o discursivo em diferentes frentes: do projeto de edifícios, a pesquisas, exposições, textos e ativismo. Isso lhes permite operar discretamente em uma cidade singular, mostrando como é fazer arquitetura contemporânea em Cuba.
Por esses motivos, o Infraestudio foi selecionado pelo ArchDaily como uma das melhores novas práticas de arquitetura de 2023. Eles preocupam-se em criar uma arquitetura que se esconde na paisagem, mostrando o vazio como representação de uma ideia, não pensando em formas, mas em estratégias, e construindo com o mínimo necessário.
Nos últimos anos, o foco em materiais sustentáveis, alinhados à agenda ecológica e de baixo carbono se intensificou na indústria da arquitetura. Em meio a esse interesse, a arquitetura derivada do cânhamo está gradualmente ganhando força e escala global. Materiais à base de cânhamo surgiram como uma alternativa favorável aos industrializados tradicionais, apresentando uma infinidade de benefícios que poderiam revolucionar a indústria da construção. Apesar de sua grande promessa, vários obstáculos impedem a adoção generalizada do cânhamo, inibindo seu potencial transformador na indústria da construção.
O ano era 1969. Lina Bo Bardi vagava pelo bairro paulistano do Bixiga, que na época mais parecia uma zona de guerra. As clareiras e pilhas de escombros eram resultado de uma urbanização violenta que cortava a região sob a forma do complexo viário leste-oeste de São Paulo.
Nesse contexto, Lina recolhia objetos pessoais encontrados nos entulhos, catava o que havia de mais sórdido, como Zé Celso, diretor e criador do Teatro Oficina, afirmou em entrevista. Essa operação tinha um motivo, compor o cenário da peça Na selva das cidades, desenhado pela própria arquiteta. Nela, conformava-se um palco em forma de ringue de boxe materializado pelos entulhos das demolições ocorridas no entorno do teatro. Uma peça dividida em 11 rounds no qual em cada um deles destrói-se uma instituição até destruir o próprio ringue. No final, os atores retiram o até o piso do teatro e chegam na terra.
Questões ambientais se colocam como o grande tema para a arquitetura há alguns anos. A iminente escassez de recursos naturais e a conscientização acerca dos danos ambientais da indústria construtiva têm forçado o campo profissional a posicionar-se e desenvolver soluções que mitiguem o impacto da área de atuação no planeta. O desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitam materiais mais sustentáveis é fundamental, mas esse incentivo pode (e deve) partir do ponto inicial da prática arquitetônica: o projeto.
No seu livro Curadoria: o poder da seleção no mundo do excesso, Michael Bhaskar define curadoria como "usar atos de seleção e organização (mas também refinar, reduzir, exibir, simplificar, apresentar e explicar) para agregar valor." Originário da palavra latina "curare", que significa "cuidar", o papel do curador em dissecar nossa compreensão do mundo ao nosso redor não pode ser negligenciado. Ao longo do tempo, à medida que a definição se transforma, a prática da curadoria continua a evoluir, desempenhando o papel de cuidadora de nosso ambiente construído.
Bem-estar, combate ao sedentarismo, saúde mental e, até mesmo, inclusão social. Ao ser palco de práticas esportivas e culturais, os ginásios possuem um relevante papel para a sociedade. Pensar este espaço de forma adequada para receber esportistas e a comunidade de forma confortável, ao mesmo tempo que se busca por um diálogo com o entorno e uma identidade própria, é papel do arquiteto por trás do projeto.
Este artigo é o quinto de uma série focada na Arquitetura do Metaverso. O ArchDaily colabora com John Marx, arquiteto, fundador e diretor artístico-chefe da Form4 Architecture, para trazer artigos mensais que buscam explorar o Metaverso, transmitir o potencial desse novo domínio e entender suas limitações.
Os escritores de ficção científica nos inspiram com visões audaciosas e provocativas do futuro. Huxley, Orwell, Assimov e Bradbury são nomes que facilmente vêm à mente. Eles imaginaram grandes avanços tecnológicos e muitas vezes previram mudanças na estrutura social que foram resultado da necessidade humana de abrir a Caixa de Pandora. Grande parte do charme e fascínio da ficção científica está na audácia de algumas dessas previsões. Elas parecem desafiar as leis da natureza e da ciência. Então, mais rápido do que se poderia imaginar, o espectro da inventividade humana faz com que se tornem realidade.
Já pensou na possibilidade de não existirem mais pessoas em situação de rua? Os Estados Unidos pensaram e países como Canadá, Espanha, Portugal, França e Dinamarca seguiram a onda, incluindo a metodologia do Housing First em suas estratégias nacionais para resolver a situação.
A fórmula consiste em fornecer exatamente o que lhes falta: moradia e conexão. Os resultados são consistentes e, para completar, benéficos para os cofres públicos. No Brasil, o Projeto RUAS está testando o modelo e busca recursos para expandi-lo. A ideia da ONG é entender como ele se adapta à nossa realidade e, futuramente, sugeri-lo ao poder público.
As cidades ocupam apenas 3% da superfície do planeta, mas são responsáveis pela maior parte do consumo global de energia e das emissões de carbono. Muitas também são mais vulneráveis às mudanças no clima e aos desastres naturais devido à densidade populacional e à interconexão entre as infraestruturas. Para evitar os piores impactos das mudanças climáticas – incluindo perdas humanas, sociais e econômicas –, sabemos que é fundamental tornar as cidades mais resilientes e preparadas para o clima em transformação. Mas estudos recentes indicam que ainda estamos longe disso.
Da teoria das cores de Le Corbusier às propostas estéticas da Bauhaus, as cores desempenharam um papel essencial ao longo da história arquitetônica. No entanto, estamos no limiar de uma nova era de inovação, na qual o significado, a aplicação e o impacto das cores na arquitetura também estão em transformação. Com isso, novas questões surgem: novos materiais e acabamentos poderiam revolucionar a paleta de cores? Quais as possibilidades de coloração em espaços virtuais? Quais serão as próximas tendências de cor no mundo do design de interiores?
Há uma percepção na sociedade de que o número de pessoas em situação de rua tem crescido no Brasil. Para compreender melhor o tema, o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, criado no âmbito do Programa Polos de Cidadania, da Universidade Federal de Minas Gerais, compilou dados de milhares de municípios em uma série histórica que vai de 2012 a 2021. Infelizmente, os dados indicam que esse problema realmente vem se agravando em nosso país.
https://www.archdaily.com.br/br/1004546/o-que-dizem-os-dados-sobre-a-populacao-de-rua-no-brasilAndré Sette e Anthony Ling
La Fábrica, icônico projeto de Ricardo Bofill, é um testemunho do poder transformador da arquitetura. Localizada nos arredores de Barcelona, essa criação mostra a notável metamorfose de uma fábrica de cimento abandonada em uma impressionante obra-prima arquitetônica.
https://www.archdaily.com.br/br/1004811/la-fabrica-de-ricardo-bofill-uma-mistura-harmonica-de-passado-e-presenteArchDaily Team
Após uma pausa de três anos, o festival de construção da Hello Wood está de volta para receber estudantes, arquitetos e jovens profissionais de todo o mundo para participar do camp de construção de 10 dias e testar suas habilidades de construção em madeira, além de aprender a participar ativamente do projeto e da construção no próprio local. Pela primeira vez na história do evento, o workshop deste ano acontece em um novo local, uma cratera de uma pedreira de basalto abandonada na montanha Haláp, na Hungria. O workshop também se alinha e apoia o título de Veszprém de Capital Europeia da Cultura de 2023, que também inclui mais de uma centena de outras vilas e cidades em toda a região de Bakony-Balaton. O evento aconteceu entre 6 e 15 de julho, culminando num festival de música de dois dias aberto a todos.
Com sua mistura única de forma, função e sustentabilidade, a arquitetura de bambu se destaca devido às suas geometrias complexas, espacialidade tridimensional e grande dependência da habilidade artesanal. Durante muitos anos, os modelos físicos foram centrais para materializar as visões dos arquitetos e transmitir projetos intricados aos artesãos habilidosos responsáveis pela construção. Agora, estamos no meio de uma mudança de paradigma. A revolução digital está trazendo ferramentas de design assistido por computador e design paramétrico para o primeiro plano, desbloqueando o potencial do bambu de maneiras nunca antes imaginadas. Essa evolução apresenta possibilidades empolgantes e novos desafios tanto para os construtores quanto para os artesãos.
A pergunta crucial agora é: podemos traduzir efetivamente essas inovações em design de ponta para o mundo prático dos artesãos que dão vida a essas visões? Em um recente curso de construção e design de 11 dias no Bamboo U, nos mergulhamos em um mundo onde a tecnologia encontra a tradição, experimentando a mistura inovadora da construção de bambu e tecnologias de realidade aumentada (AR). Guiados pela experiência do Dr. Kristof Crolla e Dr. Garvin Goepel, da Universidade de Hong Kong e da Universidade Chinesa de Hong Kong, embarcamos em uma jornada emocionante para construir não uma, mas duas, encantadoras cúpulas de concha de grade, sob o auxílio de instruções holográficas. Neste artigo, exploramos essa dinâmica interseção entre tradição e tecnologia no mundo da arquitetura de bambu a partir da perspectiva do Bamboo U.
De fato, diante das mudanças climáticas, parece bem razoável voltarmos a valorizar nas construções aspectos como ventilação e iluminação naturais, por exemplo, tal qual se fazia no passado — e, com isto, reduzir o consumo de energia e a produção de gases de efeito estufa.
https://www.archdaily.com.br/br/1004818/urbanismo-sustentavel-de-volta-para-o-futuroVitor Meira França
Os softwares de realidade aumentada (RA) têm marcado presença entre as ferramentas profissionais de projeto há algum tempo. Mas o recente lançamento dos óculos Vision Pro da Apple mostra que o setor de dispositivos vestíveis de realidade mista está ganhando espaço também nos mercados de consumo, à medida que uma das maiores marcas mundiais de design e tecnologia entra nesse ramo.
Uma das principais razões para a imensa expectativa em torno da incursão da Apple no hardware de RA/RV é a decisão de posicioná-lo como "computação espacial". Ao utilizar a complexidade da realidade aumentada para aprimorar um setor familiar ao consumidor - a computação pessoal - a marca sediada em Cupertino simplificou toda a experiência, ampliando sua compreensão e apelo.
O tempo em que o Modulor – homem perfeito de Le Corbusier – era o único que "poderia" ocupar nossas cidades e arquiteturas ficou no passado. Há algumas décadas, constatou-se que os ambientes estavam sendo criados como uma representação ideológica que não refletia a demanda real e toda a sua diversidade de classes sociais, gênero, cores, faixas etárias, orientação sexual, entre outros. Planejamentos e projetos disfarçados de uma concepção “neutra”, mas que na verdade reproduzem o olhar de um homem branco de classe média. Nesse sentido, chegou o momento em que a cidade deveria deixar de ser organizada a partir dessa experiência errônea de uma apropriação universal e materializar em seus espaços as necessidades particulares de cada cidadão.
Os dados do uso global da água não são encorajadores e o mercado da construção tem uma grande participação no seu consumo. Está na hora de pensar em formas de reduzir esse impacto. A necessidade de projetar edifícios a partir dessa perspectiva nos proporciona uma oportunidade única para explorar alternativas inovadoras e sustentáveis que minimizem ou até mesmo eliminem completamente o uso de água na construção.
Teoricamente, a arquitetura é uma disciplina multisensorial que envolve texturas, cores, sombras, sons e aromas. No entanto, na prática, a linguagem visual é frequentemente priorizada para explorá-la, limitando-se principalmente à visão para identificar elementos arquitetônicos e navegar autonomamente em ambientes construídos e contextos urbanos. Portanto, é crucial integrar superfícies de pavimentação tátil na arquitetura.
Cegueira e deficiência visual transcendem ser uma condição ou deficiência; elas representam uma forma alternativa de perceber o ambiente ao nosso redor. Nesse sentido, o toque se torna uma linguagem e um guia fundamental para interagir com a arquitetura. De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Artigo 9), todas as pessoas têm o direito inerente de acessar o ambiente físico em igualdade de condições com as outras.
https://www.archdaily.com.br/br/1003749/como-funcionam-as-superficies-tateis-para-cegosEnrique Tovar
Ao longo da história da cidade, as edificações passam por mudanças de uso e de programa. Não teria como ser diferente, já que cada época possui suas questões e necessidades específicas. O tipo de moradia, a densidade demográfica em determinadas regiões e os novos comércios e serviços alteram a configuração da cidade, sem que as construções acompanhem as mudanças na mesma velocidade. Sendo assim, a requalificação – ou reabilitação – das construções não só fazem sentido, como também são necessárias.
Os avanços tecnológicos abriram caminho para uma abordagem revolucionária da arquitetura, que envolve responsividade e movimento. Este conceito chamado de "arquitetura cinética" permite que os edifícios se adaptem dinamicamente ao seu ambiente em constante mudança. Hoje em dia, os princípios cinéticos são aplicados para melhorar a sustentabilidade ambiental dos prédios, especialmente por meio das fachadas. No entanto, a arquitetura cinética também tem o potencial de impactar o ambiente construído em outros aspectos. Nos espaços públicos, a arquitetura cinética tem um grande potencial, apresentando oportunidades para torná-los mais acessíveis, inclusivos e amigáveis ao usuário. A introdução de elementos cinéticos nos espaços públicos desafia as suposições tradicionais sobre a arquitetura como um arranjo passivo, inaugurando uma nova era de ambientes urbanos interativos e envolventes.
Analisar casas que arquitetos projetaram para si mesmos pode abrir perspectivas sobre seu processo de design, prioridades e filosofia. Embora muitas vezes reduzidas em escala, essas residências pessoais oferecem um olhar sobre o processo dos arquitetos e a maneira como eles traduzem suas ideias em espaços habitáveis sem restrições impostas pelo cliente no resultado final. As estruturas também refletem os valores pessoais, estilos de vida e preferências estéticas de seus criadores.
Frequentemente, esses projetos são experimentos e campos de testes para seus próprios princípios de design, ampliando os limites da expressão arquitetônica. Desde Ray e Charles Eames, que acabaram passando suas vidas em uma casa experimental criada para a pré-fabricação, até Frank Gehry, que usou sua casa holandesa colonial em Santa Monica para testar as ideias de desconstrutivismo que mais tarde viriam a definir sua carreira, esses projetos representam uma face diferente do processo de projeto de arquitetos renomados mundialmente.
Conforme exploramos práticas sociais que desafiam o modelo hegemônico na arquitetura, passamos a reconhecer a importância de abordar questões relacionadas à identidade, gênero, raça e orientação sexual no âmbito da prática espacial. Ao considerar essas dimensões, nosso objetivo é destacar como o ambiente construído pode promover novas maneiras de visualizar a sociedade e moldar o relacionamento que tecemos com o mundo ao nosso redor. Em busca de vozes que apresentem novas perspectivas, selecionamos uma bibliografia que demonstra as pesquisas e experiências de indivíduos que desafiam as normas ditadas por uma abordagem universalizante. Uma bibliografia de 20 livros internacionais que oferece diversas narrativas que nos convidam a perceber, imaginar e vivenciar o espaço por meio de uma lente LGBTQIA+.
Evidências científicas cada vez mais robustas e promissoras podem auxiliar arquitetos e demais projetistas que busquem pelo design inclusivo, levando em consideração as mentes diversas, ou seja, elaborar ambientes construídos que dialoguem com a neurodiversidade. A existência da neurodiversidade sempre esteve presente na humanidade. O termo abrange as pessoas com as mais diversas condições neurológicas e foi criado pela socióloga Judy Singer, em 1999.