Ao longo da história da cidade, as edificações passam por mudanças de uso e de programa. Não teria como ser diferente, já que cada época possui suas questões e necessidades específicas. O tipo de moradia, a densidade demográfica em determinadas regiões e os novos comércios e serviços alteram a configuração da cidade, sem que as construções acompanhem as mudanças na mesma velocidade. Sendo assim, a requalificação – ou reabilitação – das construções não só fazem sentido, como também são necessárias.
Posto que a demolição completa da cidade para reconstrução é inviável e onerosa ambientalmente, as novas atividades passam a ocorrer nas construções existentes com adaptações e reformas, para que se atendam as novas demandas. Esse ponto tampouco é novidade na história das cidades. Contudo, alterações extensivas e mais contemporâneas – no sentido de atuais ao seu próprio tempo, independente de qual seja – oferecem soluções mais utilitárias e criativas para cada contexto.
Dentro da dinâmica citadina, existem regiões que acabam relegadas enquanto outras se valorizam, a criação de planos diretores pode alterar o uso legal ou prioritário de determinadas áreas, e os imóveis afetados passam a ter novas possibilidades de ocupação. Por vezes, edifícios vazios permanecem sem ocupação e sem previsão de demolição, enquanto envelhecem lentamente, e passam a oferecer risco de segurança para seus arredores e possíveis ocupantes – como estruturas desgastadas e instalações precárias. Para todos esses casos, a reabilitação passa a ser uma solução possível e, em geral, benéfica para a cidade. Afinal, edifícios ocupados são o propósito da arquitetura.
A escala habitacional é a mais extensa – e urgente – nas metrópoles contemporâneas. O grande número de residências construídas – de casarões a casas unifamiliares – proporcionam tamanhos diferentes que podem ser reutilizados para objetivos diversos: existe a possibilidade de uso uni ou multifamiliar até a acomodação de serviços e comércio. Especialmente em países do norte global, em que as cidades já se encontram “delimitadas” em termos espaciais, e que passam atualmente por um grande fluxo migratório, a reabilitação de edifícios existentes em habitações coletivas, por exemplo, faz muito sentido.
O cenário ideal seria o investimento em habitação de interesse social, não só para a Europa, como alguns dos exemplos aqui reunidos, mas globalmente. De antiga casa para loja, de casarão para habitação coletiva, de armazém em fazenda particular para residência, a reabilitação reocupa e transforma os espaços da cidade.
Reabilitação de um Celeiro / Maria José Pinto Leite
“Procurar dar ao edifício uma nova função revelando a sua história, foi opção do cliente reconvertê-lo em habitação, pois a sua função agrícola de secagem do milho há muito que deixou de existir. Em complemento ao alojamento na casa principal da quinta, o sequeiro alojará hóspedes ou parte da grande família que pontualmente se desloca em simultâneo para o local.”
Casas Trava & Quintero / TACO taller de arquitectura contextual
“Na época em que o projeto começou, os dois edifícios estavam funcionando como instalações comerciais há vários anos e, portanto, haviam recebido múltiplas intervenções em resposta às necessidades imediatas dos inquilinos atuais. A primeira ação do projeto consistiu em remover os elementos adicionados para compreender a estrutura original dos edifícios.”
Reabilitação la Centinela / FORarquitectura
“Mas a forte relação da arquitetura e do programa do edifício com o contexto rural, o aparecimento de um tipo de bloco de pedra popularmente conhecido como Arenito entre as suas paredes estruturais (utilizado na construção das naves da Catedral em Málaga durante o século XVIII) e o silenciamento da memória histórica e paisagística, todos estes fatores estão impulsionando e alimentando a preocupação pela preservação da memória.”
Habitação Pública Vilar 3 / Müller.Feijoo
“O edifício que tivemos de recuperar situa-se numa das zonas mais antigas e degradadas do centro histórico de Ourense. Possui duas fachadas, a principal voltada para a Rua do Vilar e a posterior voltada para um pátio de quarteirão. Antes da intervenção, o edifício possuía 3 andares, sendo um térreo de uso comercial e uma moradia nos dois pisos superiores.”
Casa dos Pátios / PF Architecture Studio
“O edifício, que teve ao longo da sua existência usos tão diversos como serviços e habitação, tendo chegado inclusive a ser usado como escola, encontrava-se abandonado e em estado de pré ruína há décadas. A proposta pretendia a criação de um conjunto de apartamentos e lojas, conservando toda a estrutura e conceito espacial da preexistência.”
Galeria Metara Porto Maravilha / Ateliê de Arquitetura
“O projeto manteve a volumetria e a fachada original do imóvel mas transformou completamente a sua área interna para adequa-la ao novo uso. Praticamente todas as paredes foram demolidas criando espaços mais amplos que possibilitam diversas maneiras de exposição.”
Loja Coven / Play Arquitetura e Design
“[…] o clima de casa deveria permear o novo espaço comercial, para que a experiência dos clientes e visitantes fosse marcada pelo acolhimento e hospitalidade. Essa atmosfera foi alcançada a partir da manutenção da tipologia residencial do imóvel, composta por volumes cobertos por telhados cerâmicos, e pela conservação de outros elementos da arquitetura original, como os pisos de madeira, os azulejos tradicionais e a principal delas: a cozinha como ponto central da casa – agora aberta com grandes portas de correr.”
Casa Mãe Terra / Memola Estúdio + Vitor Penha
“Ainda que não tenha mudado a área de projeção do imóvel, trata-se de uma reforma com ampliação. Houve a completa remodelação interna, com a eliminação de paredes que compartimentavam ambientes, a remoção dos revestimentos, o redesenho dos fluxos verticais, a execução de reforços estruturais e de nova rede de infraestruturas, e ocupou-se o espaço sob o telhado - também ele reconstruído.”
Restaurante 5um7 Pizza Napoletana / Aalva arquitetos
“Quantas histórias um edifício é capaz de abrigar? Originalmente construído em 1925 na cidade de Jaú como uma residência unifamiliar, este prédio foi elevado à showroom em 2011 […]. Uma década depois, o prédio seria objeto de uma nova conversão de atividade. Curiosamente, sua materialidade plenamente industrial serviria de abrigo para uma atividade em que seu protagonismo se encontra no âmbito artesanal, mas preservando-se sua herança italiana.”