Eduardo Souza

Editor Sênior de Brands & Materials no ArchDaily. Arquiteto e Mestre pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

NAVEGUE POR TODOS OS PROJETOS DESTE AUTOR

Selvas de concreto: 6 alternativas ao cimento para reduzir seu impacto nas cidades

A expressão "tempestade perfeita" refere-se a um evento, geralmente não favorável, que é agravado em decorrência de uma confluência de fatores negativos ou imprevisíveis. É muito utilizada para retratar fenômenos meteorológicos, mas também abrange outros campos, como a economia, por exemplo. Essa analogia também pode funcionar para a relação entre a crise climática e a dependência do mundo com o concreto. Conforme evidenciado no Relatório da Chatam House, enquanto o cimento (essencial para a fabricação de concreto) é um material extremamente prejudicial ao efeito estufa e à crise climática, representando cerca de 8 % das emissões globais de CO2, prevê-se que sua produção global aumente nos próximos 30 anos para suprir a demanda da rápida urbanização de regiões como o Sudeste Asiático e a África Subsaariana. Ao mesmo tempo, o último relatório da IPCC nos alertou que nos restam apenas 11 anos restantes para reduzir as emissões e evitar danos irreversíveis da mudança climática. Ou seja, o setor de cimento está enfrentando uma expansão significativa no momento em que as emissões precisam cair rapidamente.

Resultado do "Architecture Student Contest" da Saint-Gobain

A 17ª edição do "Architecture Student Contest” chegou ao fim, com a participação de mais de 220 universidades de 32 países. Neste ano, o desafio era transformar um distrito em Varsóvia, Polonia, com o objetivo de revitalizar uma área localizada ao lado da Estação Ferroviária de Warszawa Wschodnia, trabalhando simultaneamente no desempenho, bem como nos aspectos arquitetônicos, ambientais e sociais. Isso envolveu o design de uma nova moradia de estudantes e novas habitações, além de um centro de reuniões e entretenimento em um antigo prédio industrial que foi classificado como patrimônio histórico da cidade. O objetivo do concurso é desenvolver um projeto com impacto positivo para seus usuários e no planeta, com baixas emissões de carbono durante todo o seu ciclo de vida. 

Usando papéis de parede para transformar os interiores

Os papéis de parede estão longe de ser um consenso. Eles podem fazer referência a espaços domésticos antiquados, mas também podem dotar de personalidade um espaço sem graça. E o melhor, isso pode ser feito muito rapidamente e sem grandes custos. Da mesma forma, faz com que não perdurem por tanto tempo e sejam rapidamente descartados e substituídos, tornando-se, portanto, itens transitórios de decoração. Como afirma Joanna Banham, pesquisadora do tema, “O papel de parede é frequentemente considerado a Cinderela das artes decorativas - a mais efêmera e menos preciosa das decorações produzidas para o lar. No entanto, a história do papel de parede é um assunto longo e fascinante que remonta ao século XVI e abrange uma enorme variedade de belos padrões criados por mãos anônimas e por alguns dos designers mais conhecidos dos séculos XIX e XX.” Atualmente, temos visto mais um ressurgimento dos papéis de parede, com inúmeras possibilidades de materiais, padrões e cores e há diversos exemplos de arquitetos que os têm utilizado para criar novas atmosferas aos seus projetos. Neste artigo, delinearemos um pouco sobre a história destes elementos e algumas das opções mais atuais, através de um mergulho no catálogo do Architonic.

Substituindo cimento por resíduos: economia circular através da tecnologia de polímeros

Ao abordarmos sobre reciclagem de materiais de construção há algumas dificuldades a se enfrentar para um resultado realmente abrangente e efetivo. Primeiramente, uma demolição sem cuidado pode tornar o processo muito complexo, misturando produtos com destinações distintas. Além disso, nem todos os materiais contam com processos realmente eficientes para sua reciclagem ou processamento como um outro produto. Muitos ainda são caros ou complexos demais. Mas a indústria da construção, sendo uma enorme contribuidora para a produção de resíduos e a emissão de gases do efeito estufa, também tem desenvolvido múltiplas novas tecnologias para melhorar suas práticas. É o caso do projeto WOOL2LOOP, que busca resolver um dos maiores desafios na utilização de resíduos de construção e demolição com uma abordagem de circularidade.

Intervenção costeira com impressão 3D: bancos e abrigos para a fauna aquática

À medida que a humanidade toma consciência do seu impacto no meio ambiente, também tem buscado formas para reverter alguns dos malefícios causados à fauna e à flora, sobretudo nas cidades. Nosso padrão de vida, de consumo e de construção tem causado danos severos à natureza. De fato, segundo um estudo no Weizmann Institute of Science, estamos em um ponto de inflexão onde a massa de todos os materiais fabricados pelo homem é igual à biomassa do planeta, e isso deve dobrar até 2040. Mas não necessariamente tudo o que construímos deve ter um impacto negativo. O projeto "The Tidal Dout" é um exemplo, parte de um projeto de revitalização abrangente em Kuk Po Village em Sha Tau Kok em Hong Kong, e que consegue reunir duas ecologias diferentes, o ambiente antropocêntrico e o natural.

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Piso de madeira: infinitas possibilidades de paginações e cores

Piso de madeira: infinitas possibilidades de paginações e cores - Imagem de Destaque
© Eduardo Souza (ArchDaily)

Pisos de madeira trazem aconchego, personalidade e estilo para quaisquer interiores, sejam eles antigos ou novos. Com um aspecto ao mesmo tempo rústico e elegante, a madeira entrega boas características térmicas, com uma temperatura agradável ao toque, além de melhorar a acústica do ambiente, por absorver parte das ondas sonoras. Também são altamente duráveis e resistentes ao desgaste diário e, não por acaso, um dos materiais preferidos e mais cobiçados para interiores residenciais. Sua aparência também agrada a muitos: mesmo de uma mesma espécie e fabricante, há variações entre as peças, conforme o local de onde saiu do tronco. Entre diferentes espécies de árvores, tonalidades e desenhos também variam muito, de amarelos claros a marrom escuro, com infinitas possibilidades. Além disso, é possível paginar os pisos de madeira das formas mais diversas, conforme as dimensões das peças e o efeito desejado para o espaço. Veja, abaixo, uma série de possibilidades de pisos de madeira no Architonic.

Madeira feita de kombucha?

Madeira feita de kombucha? - Image 1 of 4
Cortesia de Symmetry Wood

Florestas cobrem cerca de um terço do Planeta e desempenham papel fundamental para a vida. Segundo Peter Wohlleben, autor do livro “A vida secreta das árvores”, por meio de tramas de fungos, as espécimes de uma floresta podem se comunicar umas com as outras, inclusive trocando nutrientes, ajudando as mais fracas, e organizando estratégias de sobrevivência, o que é imprescindível para o crescimento saudável dos indivíduos. A preservação das florestas existentes e a criação de novas são imprescindíveis para a biodiversidade, recuperação natural e sequestro de carbono, mas também para atender à demanda pelo uso de madeira. Um relatório da WWF (World Wide Fund for Nature) estima que a quantidade de madeira retirada no mundo deverá triplicar até o ano de 2050, com o aumento da população e da renda nos países em desenvolvimento, além de ser estimado um maior uso da madeira para fabricar biocombustíveis, produtos farmacêuticos, plásticos, cosméticos, eletrônicos de consumo e têxteis. Buscar substitutos ao material pode ser um caminho inteligente para um futuro sustentável, sobretudo se estes utilizam-se dos resíduos gerados por alguma outra indústria. Pyrus, por exemplo, é um material de madeira sem petróleo produzido de forma sustentável com resíduos de celulose bacterianos reaproveitados da indústria de kombucha.

Lajes impermeabilizadas com água? Entenda a solução desenvolvida por Brasil Arquitetura

Durante o período moderno observou-se a mudança do protagonismo dos edifícios que utilizavam os tradicionais telhados inclinados com telhas, escoando as águas o mais rápido possível, para dar lugar às conhecidas ‘lajes planas impermeabilizadas’. Ao mesmo tempo que essa solução proporciona uma estética limpa e austera ao projeto, proporcionando a utilização da última laje como um espaço de estar e contemplação, ela pode ser uma tremenda dor de cabeça aos futuros ocupantes da edificação, quando a execução e o detalhamento não forem cuidadosos. Não é por acaso que histórias de infiltrações em famosos edifícios modernos são conhecidas, como na Ville Savoye e na Casa Farnsworth, de grandes mestres da arquitetura. Atualmente, a indústria da construção civil já desenvolveu produtos e técnicas mais sofisticadas que reduzem drasticamente as possibilidades de infiltrações posteriores. Mas pode-se dizer que lajes planas impermeablizadas continuam sendo pontos frágeis nas edificações. O escritório Brasil Arquitetura aprimorou uma solução inventiva e muito simples para evitar infiltrações em lajes planas, muito usada na década de 70 por arquitetos como Paulo Mendes da Rocha, Vilanova Artigas e Ruy Ohtake, preenchendo-as com vegetação. Conversamos com eles para entender melhor o sistema.

Liberdade formal e customização em massa: desafios técnicos da impressão 3d

Ao examinarmos a tag 3d printing no ArchDaily é visível como essa tecnologia tem se desenvolvido rapidamente. Se nos primeiros anos observávamos o conceito como um futuro distante ou com exemplos em pequena escala, nestes últimos temos observado construções inteiras impressas e volumes cada vez mais complexos sendo produzidos. Desenvolvido através da leitura de um arquivo de computador, a manufatura aditiva com concreto - ou outro material construtivo - apresenta inúmeras dificuldades para proporcionar um processo eficiente e que possibilite que a técnica construtiva torne-se realmente massificada. O exemplo do pavilhão impresso pelo consórcio De Huizenprinters ilustra bem este processo.

Como funcionam as estruturas tensionadas e quais materiais podem ser usados?

Voltemos à primeira aula de estrutura e a classificação dos esforços estruturais. Na maioria das estruturas, sejam elas naturais ou criadas pelo homem, primordialmente são as forças de compressão as que mais atuam. Tratam-se dos esforços empreendidos com cargas iguais e opostas, aplicadas na direção interna à superfície, tendendo a um encurtamento da peça em uma direção, ou comprimindo-a, como o nome diz. Não é difícil encontrar exemplos disso: por exemplo, uma parede de pedra ou um tronco de madeira resistem ao peso de uma cobertura através dos esforços internos de compressão, inerentes de cada material. Esforços de tração, por outro lado, tendem a alongar a peça no sentido da reta de ação da força aplicada. O aço é um material com boa resistência à tração, por exemplo. Ele é utilizado no concreto armado justamente nas partes onde a peça é tracionada. Mas também é possível que uma estrutura somente apresente peças tracionadas. É o caso das estruturas de membrana, tensionadas, ou tenso-estruturas, que consistem no uso de superfícies tracionadas por conta da ação de cabos ou cordas e cabe aos mastros absorverem os esforços de compressão.

Um pavilhão que une upcycling de materiais, fabricação automatizada e realidade virtual

A indústria da construção tem experienciado mudanças severas nas últimas décadas. Se antes era possível contar com mão-de-obra abundante e uma falsa noção de que os recursos naturais eram infinitos, hoje em dia o setor tem se esforçado a buscar inovações para tornar-se mais sustentável, sobretudo considerando o seu enorme impacto e importância no mundo. Além disso, a recente pandemia do COVID-19 alterou diversos contextos e dinâmicas e exigiu dos projetistas criatividade para superar os desafios. Isso pode abranger o próprio processo projetual que precisou ser revisto em alguns casos. O projeto S'Winter Station, desenvolvido por alunos e professores da Ryerson University’s Department of Architectural Science, é um destes exemplos, já que se amparou na tecnologia existente de visualização e fabricação para ser concretizado.

Reduzir o custo de uma edificação sem sacrificar a qualidade: a experiência de VAGA

Desde os primeiros rabiscos de um projeto, é imprescindível que as restrições estejam bem definidas. Isso guiará o projeto, tornando-o mais adequado ao local, às possibilidades dos proprietários e às condicionantes locais. Dentre as restrições mais comuns, reduzir o custo da obra talvez seja a mais comum. Conversamos com a equipe do VAGA, escritório sediado em São Paulo, sobre os desafios e as possibilidades que trabalhar em obras com orçamentos apertados impõem:

Durabilidade e Sustentabilidade podem ser sinônimos: o exemplo dos tijolos

É crucial considerar o impacto ambiental futuro de tudo o que criamos. As mudanças climáticas continuam no topo da agenda global e todos os setores devem participar da meta de alcançar o Net Zero, ou neutralidade em carbono. Uma das indústrias mais desafiadoras diz respeito à construção, que desempenha um papel vital no processo de descarbonização e enfrenta constantemente desafios para se tornar mais verde. Portanto, exige técnicas inovadoras e desenvolvimento de dados para encontrar processos novos e sustentáveis. Uma solução é introduzir e projetar materiais mais limpos e eficientes. Os tijolos são um bom exemplo, pois podem ser usados na construção civil para garantir um processo circular e minimizar as emissões de carbono, sendo um material extremamente durável que pode ser produzido com técnicas mais sustentáveis.

Projetando edifícios virtuosos: 6 projetos que combinam sustentabilidade e desempenho

As vestimentas utilizadas pelos povos nômades no deserto (beduínos, berberes, tuaregues, entre outros) são geralmente escuras, compridas e de tecido pesado. Ao contrário do senso comum, que recomendaria roupas leves, claras e curtas para um clima quente, as roupas pesadas e soltas do corpo favorecem a convecção, criando um fluxo de ar constante junto ao corpo, conferindo um conforto térmico no clima árido. Para edificações a analogia funciona. Ao abordarmos eficiência energética e desempenho dos projetos, inevitavelmente falaremos da sua envoltória, entre outros aspectos do projeto. Nem sempre uma solução exitosa em um local será eficiente em outro. 

Durante os últimos 2 anos, temos criado uma série de artigos sobre bem-estar e sustentabilidade focados na indústria da construção. Mas de que forma os projetos, conforme suas demandas e contexto, aplicam as soluções para torná-los, de fato, eficientes e de bom desempenho?

Francis Kéré: "Eu desenho em papel, mas prefiro desenhar no solo"

Essa frase chamou a atenção durante a palestra de Diébédo Francis Kéré no AAICO (Architecture and Art International Congress), que ocorreu no Porto, em Portugal, entre 3 e 8 de setembro. Após ser introduzido por ninguém menos que Eduardo Souto de Moura, Kéré iniciou sua fala com a simplicidade e humildade que pautam seu trabalho. Suas obras mais conhecidas foram construídas em locais bastante remotos, onde materiais são escassos e a força de trabalho é dos próprios moradores, utilizando os recursos e técnicas locais.