Future University of Hakodate (2005). Image Courtesy of Isao Aihara
Transparência, integração e limites são palavras chave para entender a obra de Riken Yamamoto. Vencedor do Prêmio Pritzker em 2024, o arquiteto japonês pode ser reconhecido por sua capacidade de estabelecer e desafiar conceitos espaciais de materialidade convencionais, criando espaços que promovem interações e conexões entre as pessoas e seu entorno. A transparência, seja na configuração física dos edifícios, na escolha dos materiais empregados ou na filosofia subjacente aplicada a todas as obras, emerge como um elemento central que perpassa toda sua carreira.
Tijolos fazem parte do imaginário coletivo quando pensamos em construção. Tratam-se de materiais elementares, onipresentes, modulares, leves e confiáveis para erigir edifícios. No entanto, a fabricação tradicional de blocos cerâmicos depende da queima de argila em fornos a altas temperaturas, muitas vezes alimentados por combustíveis fósseis não renováveis, como carvão ou gás natural. Além disso, o processo de transporte aumenta significativamente sua pegada ambiental, por se tratarem de materiais pesados e volumosos. Com um interesse crescente em materiais de construção alternativos, que oferecem menor impacto ambiental e maior sustentabilidade, tijolos de solo cimento são um bom exemplo, apresentando uma pegada ambiental menor por utilizar matérias primas locais e dispensar o processo de queima, mas mantendo muitas das qualidades intrínsecas dos tijolos tradicionais.
Espaços públicos, sejam eles internos ou externos, públicos ou privados, caracterizam-se como locais dos encontros, das oportunidades, trocas de ideias ou mercadorias, e, em última análise, são o que conferem identidade às cidades. Contudo, com a ascensão da internet e das redes sociais, diversas dessas funções migraram para o ambiente virtual ou perderam parte de sua relevância e tivemos um baque nas relações durante o longo tempo de isolamento com a pandemia. Diante desse desafio, os arquitetos se deparam com a questão fundamental de como revitalizar esses espaços cruciais para a sociedade, sabendo de sua importância vital. Será que o design pode ser a chave para reavivar esses locais? Como tornar locais que são, ao mesmo tempo, de todos e de ninguém, realmente confortáveis para as pessoas permanecerem?
Casas pré-fabricadas de madeira têm uma história que remonta ao século XIX, quando as chamadas "casas de kit" se tornaram populares na América do Norte. Vendidas por empresas como a Sears, ofereciam opções de moradia acessíveis e convenientes, sobretudo para pessoas vivendo em áreas rurais, onde a mão de obra era escassa e cara. Os clientes tinham a escolha de alguns designs e dimensões, e os kits normalmente incluíam todos os materiais necessários para construir a habitação, incluindo madeiras numeradas e pré-cortadas, pregos, telhas e outros componentes necessários. Durante algum tempo, no entanto, casas pré-fabricadas foram encaradas como construções de menor qualidade ou prestígio, e junto à falta de flexibilidade destas soluções, entraram em declínio.
Hoje em dia, aliadas às tecnologias que dispomos, construções modulares e pré-fabricadas têm despontado como soluções de construção limpas, sustentáveis e eficientes energeticamente. Junto a isso, as inovações em torno da madeira engenheirada têm evidenciado as possibilidades deste sistema construtivo, o que inclui imensas possibilidades estéticas e estruturais. Foi nesta linha que o escritório UNA BV desenvolveu o projeto Modular 5.5, cujo objetivo era criar uma construção modular flexível, que pudesse ser montada em diferentes arranjos, permitindo a construção de casas com dimensões e necessidades diversas para terrenos diversos. Conversamos com Fernanda Barbara e Fábio Valentim sobre este projeto:
A crise global da habitação gera uma gama diversificada de desafios, abrangendo desde a situação de pessoas sem teto até a realidade de milhões que enfrentam condições habitacionais precárias, sobrelotação e aluguéis excessivamente altos. Enfrentá-la envolve vontade política, a união de Estado e iniciativa privada, mas principalmente soluções inovadoras que priorizem a acessibilidade, a sustentabilidade e mecanismos governamentais que propiciem isso. Uma coisa é certa: precisamos construir massivamente no futuro para melhorar essa situação. A implementação de métodos de construção eficientes, como pré-fabricação e construção modular, pode acelerar a criação de unidades habitacionais acessíveis, reduzindo custos e prazos de construção e a adoção de práticas de construção ecológicas, como a utilização de materiais reciclados e a concepção de estruturas energeticamente eficientes, não só contribuindo para a sustentabilidade, mas minimizando as despesas operacionais a longo prazo para os residentes.
A prática do upcycling, predominante em setores da moda à construção, não só revitaliza itens descartados, acrescentando valor e função, mas também contribui para transformá-los em recursos valiosos. Adotar o espírito da economia circular, aproveitando resíduos agrícolas, como espigas de milho, palha de arroz e bagaço de cana-de-açúcar para materiais de construção marca uma mudança fundamental em direção a práticas sustentáveis, promovendo um sistema de circuito fechado que minimiza os resíduos e otimiza a eficiência dos recursos.
CornWall®, desenvolvido pela Stone Cycling, surge como uma inovação pioneira neste sentido. Inspirado na mudança imperativa para uma economia de base biológica, incorpora uma solução transformadora que aborda as preocupações prementes do impacto ambiental da indústria da construção. Conversamos com Ward Massa, um visionário da Stone Cycling, sobre este material. Trata-se de um material de acabamento de paredes fabricado a partir de biomassa vegetal, obtida principalmente a partir dos núcleos das espigas de milho de origem regional. Estes resíduos orgânicos estão amplamente disponíveis e destinam-se normalmente à fermentação, à queima como biomassa ou a tornarem-se simples resíduos orgânicos.
Seja através de pequenas amostras de materiais ou por uma colagem digital, um moodboardé uma ferramenta de projeto valiosa para arquitetos e designers, como um painel de inspiração com cores e elementos que guiarão as escolhas. A ideia é que ele seja utilizado para que os profissionais tenham inspirações para comporem seus projetos, seus panos de fundo, texturas predominantes e detalhes de destaque. Para tal, as superfícies desempenham um papel fundamental na definição de um espaço, dando o tom do espaço, tal qual uma música, onde todos os outros elementos podem combinar ou não na harmonia da paleta escolhida.
A arquitetura, ao longo da história, sempre esteve associada à elite e aos mais ricos, que encomendavam edifícios suntuosos para satisfazer suas necessidades estéticas e funcionais. Essa tendência remonta a civilizações antigas: faraós egípcios construíam pirâmides e templos imponentes, imperadores romanos erguiam anfiteatros e palácios magníficos. A arquitetura era, e muitas vezes ainda é, um símbolo de poder e prestígio. Com o tempo a profissão se expandiu para abranger diversos tipos de edifícios e públicos, desde residências simples até estruturas públicas e comerciais e o avanço da tecnologia e das técnicas de construção tornou-a mais acessível em termos de custos. Mas a desigualdade em relação ao acesso a bons projetos de arquitetura ainda prevalece, especialmente em países subdesenvolvidos ou contextos vulneráveis socialmente. Diversas regiões enfrentam sérios problemas de habitação, infraestrutura e planejamento urbano devido à falta de recursos e investimentos adequados, com condições construtivas precárias, com áreas de favelas, falta de saneamento básico e edifícios inseguros.
Certificações de construção sustentável podem desempenhar um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas ao estabelecer critérios sólidos para fomentar práticas ecologicamente responsáveis na indústria da construção. Elas não apenas conferem visibilidade pública e monitoram o desempenho, assegurando a conformidade com regulamentações, mas também estimulam a redução do impacto ambiental, ao mesmo tempo em que recompensam edifícios que cumprem rigorosos padrões de sustentabilidade. Ao estabelecer níveis mais elevados de excelência em projetos e construções, essas certificações exercem influência na evolução dos códigos de construção, na capacitação dos profissionais e nas estratégias corporativas.
Modular Eco-Housing . Image Cortesia de Yvonne Witte
Quando falamos de tecnologia, muitas vezes pensamos em robôs, super computadores, data centers ou smartphones. Mas a tecnologia também se refere à invenção das primeiras ferramentas de pedra lascada, ou ao desenvolvimento da máquina a vapor, responsável pela primeira Revolução Industrial. O termo provém da junção das palavras gregas techne (arte, artesanato) e logos (palavra, discurso) e, nada mais é que a aplicação do conhecimento para atingir objetivos de uma forma específica e reprodutível, para fins práticos. No setor da construção, que movimenta grandes quantidades de recursos e pessoas, mais tecnologia significa incorporar novos métodos, ferramentas, automatização e softwares que possam melhorar a eficiência das construções. Esta, uma indústria historicamente resistente a inovações, representa enorme impacto no meio ambiente, através de emissões de carbono e exploração de matérias-primas. No entanto, à medida que a construção se volta para o mundo digital, os construtores têm encarado a tecnologia como um meio de otimizar práticas e identificar, construir e gerenciar seus projetos.
A inovação prospera quando pausamos para observar, questionar e reimaginar o mundo ao nosso redor, transformando desafios em oportunidades de progresso. A natureza, em particular, serve como uma rica fonte de inspiração. Ao observá-la, estudar seus desafios cotidianos e contemplar os processos existentes, podemos descobrir insights valiosos que inspiram soluções inovadoras.
Um destes desafios atuais no mundo é a produção de concreto, um material antigo e extremamente popular. Ele também é responsável por uma parcela significativa das emissões globais de CO2 devido ao processo intensivo em energia da produção de cimento e as reações químicas envolvidas. Estima-se que a produção de concreto seja responsável por aproximadamente 8% das emissões anuais de CO2 do mundo, bombeando 11 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera todos os dias - causando 8% das emissões anuais de CO2 e consumindo 9% da água industrial anual do mundo. Aliado a isso, temos a projeção de que o estoque de construção do mundo deve dobrar até 2060 - o equivalente a construir uma cidade inteira de Nova York todos os meses pelos próximos 36 anos, o que significa uma demanda incrivelmente crescente por cimento e concreto. Com esse cenário desalentador, temos algo a fazer? Neste artigo, conversamos com Loren Burnett, CEO da Prometheus Materials, que tem desenvolvido um material que imita processos da natureza para recriar o concreto como conhecemos.
Laurent Troost é um arquiteto belga com uma rica trajetória em projetos realizados na Holanda, Espanha e Dubai, decidiu mudar-se para o Brasil em 2008, estabelecendo-se na cidade de Manaus. Nessa região repleta de desafios e inspirações, Troost desenvolveu uma prática arquitetônica única ao unir suas experiências na concepção de prédios de luxo no exterior com edificações no coração da Amazônia. Seu trabalho conquistou reconhecimento internacional e foi agraciado com várias premiações. Em 4 de setembro, esteve em Florianópolis para uma palestra no NCD Summit, onde pudemos conversar sobre sua obra e suas opiniões sobre a arquitetura e a sustentabilidade.
A madeira engenheirada tem emergido como uma alternativa sustentável para substituir os componentes de concreto nas construções, uma vez que este contribui, sozinho, para 8% das emissões globais de CO2. Com variados exemplos nas mais distintas escalas e programas, este material tem se mostrado promissor para revolucionar a indústria, agregando eficiência, resistência e conforto. Mesmo quando lidamos com processos altamente padronizados e eficientes na fabricação das peças estruturais, sempre há espaço para aprimoramento e redução de desperdícios. Principalmente porque o processo industrial tradicional de serrar os troncos em partes pode gerar resíduos substanciais.
É nesse contexto que surge o A.I. Timber, um material de construção inovador projetado para minimizar o desperdício, ao preservar os contornos naturais das árvores. No lugar dos métodos convencionais de serrar troncos únicos em placas padronizadas, A.I. Timber utiliza a Inteligência Artificial de forma engenhosa para encaixar esses troncos como peças de um quebra-cabeça perfeitamente montado. Para entender mais sobre a iniciativa e o futuro deste material, conversamos com Carlo Ratti e Mykola Murashko, que coordenaram o projeto.
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Gent Waste Brick. Image Cortesia de Carmody Groarke
Há certos símbolos que transcendem barreiras linguísticas e são prontamente reconhecidos e compreendidos por pessoas de diversas culturas. Exemplos incluem os ícones de banheiro masculino e feminino, a cruz que simboliza saúde e, mais recentemente, o símbolo universal do Wi-Fi. Entre esses ícones universais está o da reciclagem, concebido em 1971 por Gary Anderson, arquiteto e designer que, na época, era um estudante na Universidade do Sul da Califórnia. Como um ciclo contínuo, trata-se de um triângulo com três setas dispostas no sentido horário, cada qual representando a indústria, o consumidor e a reciclagem, respectivamente.
Reintegrar o que normalmente é considerado resíduo no ciclo produtivo é um princípio central da economia circular. Esse conceito é particularmente marcante na indústria da construção, que historicamente dependeu da destruição e extração de recursos para existir. E nada mais simbólico do que os tijolos, que também representam a construção de novas coisas, para aplicar os conceitos da circularidade. Mentes criativas têm abraçado este desafio, concebendo soluções que transformar materiais descartados em recursos de elevado valor, gerando uma ampla gama de produtos, abrangendo matérias-primas residuais que vão desde algas marinhas e plásticos até cabelos humanos. Tais inovações não apenas abordam questões ambientais prementes, mas redefinem essencialmente a maneira pela qual construímos e habitamos nossos espaços. Neste artigo, destacamos 7 iniciativas que têm transformado resíduos em tijolos.
O concreto possui enorme resistência aos esforços de compressão, mas é um material frágil em relação à tração, quando forças são aplicadas em direções opostas em uma estrutura, tentando separar suas partes. É por isso que a incorporação do aço, com sua alta resistência quando esticado, tornou o chamado concreto armado o método construtivo mais utilizado no mundo. Em outras palavras, o concreto armado combina as vantagens intrínsecas de seus dois componentes principais -concreto e armaduras de aço-, para resultar em um material extremamente robusto, versátil e prático. Essas armaduras, além de reforçarem a estrutura, podem ser utilizadas em instalações artísticas, fachadas e mesmo interiores.
O período geológico em que atualmente habitamos é conhecido como o Antropoceno, definido pelo impacto substancial humano nos ecossistemas e geologia da Terra. Em contraste, o Simbioceno, um termo cunhado pelo filósofo e ambientalista australiano Glenn Albrecht, apresenta uma visão do futuro caracterizada por uma relação positiva e simbiótica entre os seres humanos e o mundo natural. Na era do Simbioceno, os seres humanos colaboram ativamente com a natureza, reconhecendo sua interdependência com os ecossistemas da Terra e se esforçando para regenerar e restaurar o ambiente natural, criando assim um mundo mais harmonioso e sustentável.
A obra do arquiteto franco-suíço Charles-Édouard Jeanneret, é, entre muitos outro adjetivos, abrangente. Le Corbusier aventurou-se em escalas desde o desenho de mobiliários a planos urbanos para cidades inteiras, passando pela pintura, projetos diversos e a escrita de livros. Algo que não é tão falado, no entanto, foi a teoria de cores que ele desenvolveu e aplicou a vários de seus projetos arquitetônicos e esforços artísticos. Profundamente enraizada em sua crença de que a cor desempenha papel significativo para evocar emoções e criar ilusões espaciais, a teoria das cores de Le Corbusier foi descrita em seu livro "PolyChromie Architecturtale" (arquitetura policromia), publicado em 1931. Ali, ele introduziu seu conceito e uma gama cuidadosamente curada de cores que pretendiam ser usadas em contextos arquitetônicos específicos.
Quando se trata de fachadas, há muitas opções a serem consideradas para definir a aparência e a mensagem que um edifício busca transmitir. Enquanto superfícies envidraçadas trazem sofisticação e remetem ao mundo corporativo, o concreto aparente sobriedade e a madeira aconchego, poucos materiais são tão versáteis quanto o HPL (laminado de alta pressão) para fachadas. Com uma ampla variedade de dimensões, cores e texturas, esses painéis se adaptam facilmente a diferentes estilos arquitetônicos, proporcionando uma infinidade de possibilidades criativas.