Rafael Altamirano

NAVEGUE POR TODOS OS PROJETOS DESTE AUTOR

Cinema e Arquitetura: "O Vingador do Futuro" (1990)

Um clássico de ação, "O Vingador do Futuro" é um filme que transcende seu rótulo de obra comercial, cuja mensagem vai mais além do que um simples entretenimento fundamentado somente na ação. Baseado em um relato do grande autor de ficção científica, Phillip K. Dick e dirigido por Paul Verhoeven, o filme apresenta um perfeito balanço entre uma fantasia tecnológica, uma crítica social e a violência que não se envergonha para mostrar uma realidade onde a humanidade entrou em um espiral decadente e pessimista do qual parece não haver saída.

A realidade do planeta na primeira metade do filme é apresentada dentro de um futuro palpável e próximo, que superpovoado obrigou a humanidade a tomar decisões drásticas sobre sua forma de vida. Filmado quase por completo nos estúdios Churubusco da Cidade de México, devido a mão-de-obra barata da época, a maioria das locações que vemos nesta primeira parte pertence a edifícios emblemáticos da própria cidade e da arquitetura mexicana. Tais obras vão desde a década de 70 até os anos 90 como uma busca, por parte do governo, de integrar o país dentro da modernidade.

Cinema e Arquitetura: "O Demolidor"

O cinema de ação clássico, caracterizado por altas doses de testosterona fílmica e um estilo impróprio encontrou o final da sua era no início dos anos 90. O gosto do público se concentrou nos filmes com efeitos especiais revolucionários, onde fantasias como “Jurasic Park” (1993) tornaram-se clássicos instantâneos no momento da sua estreia. Justo neste ano, onde se produziu o ponto de inflexão, vemos a estreia de “Demolition Man”. Apesar do mencionado anteriormente, sua acolhida entre o público foi boa, em grande parte pelo caráter irreverente e cômico que mostrava, quase como uma paródia, a fórmula clássica do cinema de ação, transportando-nos à um futuro pacífico onde somente os homens vindos do passado "bárbaro" da humanidade poderiam corrigir o rumo da mesma.

A premissa do filme, mesmo que simples, nos permite observar o processo de evolução da área metropolitana de Los Angeles. No presente (1996) nos mostra uma versão apocalíptica, uma cidade consumida pela violência e criminalidade onde somente a brutalidade policial consegue manter a ordem a preço de converter o território em um campo de batalha. Tal situação imaginária foi baseada no aumento da criminalidade na cidade e no ceticismo em encontrar uma solução clara para erradicá-la.

Cinema e Arquitetura: "As Crônicas de Riddick"

O personagem de Richard B. Riddick viu seu nascimento no ano de 2000 dentro do filme de baixo orçamento "Pitch Black", que mesmo com poucos recursos conseguiu captar a atenção do público e crítica através do seu estilo de humor negro e um universo espacial intrigante, que embora não fosse tão bem representado na tela, contextualizava a ação dentro do filme. Seu diretor, David Twohy teria a oportunidade de levar aos cinemas uma nova aventura do personagem de Riddick quatro anos mais tarde, dando à história um rumo inesperado.

Ao invés de criar um filme seguindo a fórmula do original, ele optou por uma expansão abrupta dos seus elementos, construindo um universo rico e palpável dentro da tela. Se no filme prévio contava-se com cenários limitados e elementos minimalistas, agora conta com uma arquitetura detalhista, intimista e exuberante, que tem tanto peso quanto os próprios personagens na história.

Cinema e Arquitetura: "Divergente"

Dentro do cinema atual existe uma febre pela adaptação de sagas literárias juvenis. "Divergente" faz parte deste âmbito para criar uma série de filmes cada vez mais rentáveis economicamente. A recorrente comparação com "Jogos Vorazes" diminuiu sua originalidade devido a similaridade do seu argumento, entretanto, ambos apresentam características próprias que os tornam únicos e oferecem panoramas muito diferentes quanto seu desenvolvimento. Particularmente, "Divergente" mostra um contexto mais palpável e completo, que nos permite analisá-lo a fundo. 

A trama nos situa em uma realidade daqui a cem anos. Diferentemente das realidades altamente tecnológicas ou apocalípticas que a ficção científica geralmente representa, vemos uma cidade de Chicago congelada no tempo. Seu skyline se mantém firme sobre o horizonte, e nele, vemos os estragos de um conflito marcado na sua estrutura como se fosse uma radiografia. Os caminhos foram destruídos e o grande lago Michigan foi substituído por um deserto que rodeia a cidade até perder-se no horizonte.

Cinema e Arquitetura: "Final Fantasy: Os Espíritos Interiores" (2001)

Se algo caracterizou ao longo dos anos a saga dos games "Final Fantasy" é a profundidade das suas histórias e personagens, assim como o desdobramento imaginativo para recriar seus mundos extraídos praticamente de sonhos. A etapa, da qual esteve encarregado Hironobu Sakaguchi, fundador da saga, é amplamente reconhecida por explorar todos estes elementos, a nível de considerar seus trabalhos como obras-primas; impecáveis mundos de fantasia nos quais o jogador se encontra profundamente imerso como na melhor das literaturas ou no filme mais clássico.

Dentro de todas aquelas fantasia, talvez a que agora é nosso tema de análise, é, de fato, a mais incompreendida. Nem os críticos, nem o público em geral a receberam com ânimo, feito que levou a falência a companhia Square, que a produziu, carregando um maior estigma e rejeição como se fosse uma lenda obscura.

Cinema e Arquitetura: "Elysium"

A utopia tem sido retratada muitas vezes no cinema, mas poucas visões resultaram tão inovadoras, apresentando novos paradigmas como aqueles criados pelo diretor Neil Blomkamp. Com claras obsessões urbanas, já no primeiro longa-metragem “Distrito 9", apareciam temas tão controversos como a marginalidade e exploração de classes. Em "Elysium", tema da nossa análise, ele se aprofunda na marginalidade do nosso modelo atual de fazer as cidades.

Há um ponto que marca a diferença entre as outras utopias/distopias clássicas em que o poder ou a classe dominante obriga a classe baixa, através da força, a viver em um ambiente degradado e marginal. Em "Elysium", é a população mais abastada que se auto segrega do grupo, construindo um habitat artificial, onde resguarda todos os seus privilégios.

Cinema e Arquitetura: "Dredd (2012)"

Dredd não é a primeira adaptação da série de comics homônima. Em 1995, o diretor Danny Cannon e o ator Sylvester Stallone fizeram uma aproximação da cidade caótica de “MegaCity One”, a qual estava claramente influenciada pela estética de Blade Runner ao mostrar uma cidade coberta pela escuridão e lutas trepidantes sobre arranha-céus. Comparando com a tal ambientação impressionante e futurista, essa nova adaptação nos oferece uma visão muito mais "real", quase palpável do que pode ser o futuro da humanidade.

O filme inicia com a imagem de um grande deserto, uma extensão incomensurável de terra árida onde a vida não existe. Uma voz em off nos alerta da sua condição radioativa, enquanto isso, no plano de fundo é possível perceber a silhueta de vários arranha-céus espalhados no horizonte. A humanidade conseguiu finalmente degradar seu meio ambiente após uma grande guerra, abrigando-se sobre a última extensão de terra que restou. As pessoas se refugiam em seu maior invento, a cidade, buscando consolo e esperança, encontrando somente infelicidade e conflitos na sua própria criação.

Cinema e Arquitetura: "Æon Flux"

No momento da sua estreia “Aeon Flux” foi duramente criticado, sobretudo pelo público em geral, como uma má adaptação da série de animação que leva o mesmo nome e por oferecer uma trama típica e cenas de ação sem muita coerência, que na época, corresponderam muito a influência de "Matrix"  no início da década. Oferecendo uma análise posterior, é muito difícil debater tais observações, podendo resgatar, talvez, algumas atuações, mas, acima de tudo, enfatizar o ótimo trabalho de arte gráfica que foi feito para a configuração deste trabalho no cinema.

A priori, o argumento do filme obrigava a representar uma sociedade futura, do século XXV, que após um desastre não especificado, estava condenada a viver em um território delimitado e de aparência paradisíaca. Um dos maiores acertos do filme foi o de não cair em noções fantasiosas de arquiteturas impossíveis e de tecnologias que desafiam a lógica, mas sim traduzir a realidade do futuro com elementos já existentes dentro da nossa realidade atual.

Cinema e Arquitetura: "A Ilha"

Antes que o diretor Michael Bay ficasse estereotipado com a saga campeã de bilheteria, "Transformers", suas obras se caracterizavam por serem filmes que combinavam ação eletrizante com roteiros dinâmicos e atuações que se tornavam icônicas graças a um contexto sólido e coerente. "A Ilha" é um exemplo contundente disso, nos transportando até uma realidade fria, mecanizada e cruel onde o humano tornou-se um produto a mais no mercado.

Se alguém assiste o filme sem conhecer a fundo os detalhes da obra, ele nos apresenta primeiramente uma sociedade humana, a qual sobreviveu aos estragos de um desastre biológico. Refugiados dentro de uma enorme instalação composta por grandes torres de apartamentos, a população humana sobrevive a esta realidade com a promessa de um futuro reconstruído. Eles contam com todos os serviços e comodidades, mas todos os aspectos da vida estão sendo monitorados e estritamente controlados por uma só autoridade, que dita quais ações são mais favoráveis para cada um.

Cinema e Arquitetura: "Tron: O legado"

O fato de que um diretor novato foi o escolhido para dirigir a continuação do filme "Tron", deixou muitos surpresos e marcou para sempre a qualidade do produto final, em muitos planos diferentes. Por um lado, a crítica e o público concordam com uma história simples e sem complicações, na qual os protagonistas não conseguiam conectar-se completamente com o público; mas por outro lado, ninguém se atreveu a criticar negativamente a qualidade visual do filme, que nos mostrava um universo perfeitamente consolidado em todos seus detalhes.

A pouca experiência de Joseph Kosinki como diretor é compensada com a de arquiteto. Um dos seus principais objetivos no filme foi manter o espírito original do filme do anos oitenta. Este surpreendeu graças ao uso inovador da animação digital e efeitos especiais, com uma estética muito geométrica e simples devido às limitações da época. Kosinki sabia que a animação atual oferecia recursos ilimitados, entretanto, não desejava um desenho completamente orgânico. Suavizou as formas, mas a todo o momento manteve uma forte presença da geometria pura, estabelecendo assim uma conexão com o passado.

Cinema e Arquitetura: "Distrito 9"

O filme "Distrito 9", do diretor Blomkamp, foi desde o momento da sua estreia uma sensação, já que simbolizava inovações tanto em sua cinematografia quanto na visão do gênero da ficção científica, para nos mostrar uma história de alienígenas desde um ponto de vista totalmente diferente. Aqui os vilões não são eles e sim nós, e ainda que o conflito seja novamente por um território, é visível que a tecnologia futurista e a própria presença extraterrestre não sejam mais que uma desculpa para apresentar um retrato da sociedade atual. 

Cinema e Arquitetura: "Minority Report"

Steven Spielberg é um renomado cineasta cujo trabalho sempre se caracterizou por mostrar um alto padrão de qualidade, não sempre perfeito, mas que confere aos seus filmes um contexto formidável em que a fantasia pode se desenrolar sem problemas e o espectador é verdadeiramente transportado a um mundo o qual quase pode tocar com a ponta dos seus dedos.

Para Minority Report, três anos antes da filmagem, Steven reuniu uma comitiva de quinze especialistas de várias áreas como arquitetura, ciência computacional e biomedicina, para que imaginassem como seria o mundo no futuro. Isso levou à criação da "bíblia de 2054", um guia completo de oitenta páginas em que se detalhou o funcionamento econômico, social e tecnológico que mais tarde se converteria no contexto do filme.

Cinema e Arquitetura: "O Fantasma do Futuro"

O Fantasma do Futuro foi um êxito total em todo o mundo, no seu formato caseiro. Apesar de não contar com uma estreia nos cinemas do continente americano e europeu, sua popularidade cresceu como espuma através do boca a boca, tanto que hoje é considerado uma obra-prima do cinema cult. Isso se deve ao fato de que as gerações jovens ficaram maravilhadas, não somente pelo deleite visual e pelas incríveis cenas de ação, mas também porque abria um leque de questionamentos filosóficos sobre a origem da nossa própria existência. O que determina nossa humanidade?

O filme se passa em um futuro próximo, onde o desenvolvimento da tecnologia alcançou níveis absurdos, tanto na vida diária como nos avanços militares representados em detalhes no decorrer da história. Sobre tudo, o desenvolvimento da Rede cria um papel fundamental dentro do filme, graças a presença de inteligencias artificias sofisticadas. A pesar de tudo isso, o desenvolvimento da cidade não é uniforme. 

Cinema e Arquitetura: "Robocop (1987)"

Paul Verhoeven pegaria o mundo do cinema desprevenido em 1987, quando atrás de um filme de ação cheio de violência excessiva e um humor grotesco, apresentava uma crítica sócio-política sobre temas tão atuais como os efeitos negativos do capitalismo neoliberal, a corrupção, o narcotráfico e os perigos da tecnologia ao cair nas mãos erradas. As cenas de ação, como uma realização impecável, são vitais e refrescantes para o filme tal qual os cortes informativos onde a sociedade é retratada como um ente que perdeu o rumo e se encontra em total decadência ética e econômica.

A história nos leva para um futuro próximo - ainda vigente - na cidade de Detroit, a qual sofre grande depressão econômica e onde os serviços públicos caíram nas mãos da toda poderosa corporação OCP, a qual controla a cidade sem nenhum reparo. A criminalidade se tornou incontrolável na cidade e com grande poderio de armas de fogo supera de longe a polícia, que sem recursos, se tornam carne de canhão frente ao desejo da OCP de liberar o caminho para sua grande utopia: Cidade Delta.

Cinema e Arquitetura: "O Corvo"

Considerada uma obra cult, “O Corvo” é um filme emblemático, cujos elementos serviram de inspiração e têm sido adotados por vários cineastas. Marcado pela tragédia real de sua protagonista, cada aspecto emana melancolia, desespero e uma sensação agoniante das sombras em uma cidade onde o sol nunca aparece.

A estética do filme, está marcada dentro de uma época de mudança social onde os temores da sociedade já não vem dos agentes externos como a guerra ou um desastre nuclear, mas sim da própria natureza humana e sua degradação dentro das grandes cidades. Aqui a distopia aparece através da autodestruição dos modelos e das instituições estabelecidas. Prevalece a delinquência sobre a justiça, o abuso das drogas sobre um emprego honesto e o modelo familiar enfraquece, diante de pessoas que procuram, de maneira egoísta, a satisfação dos seus prazeres antes de se preocuparem com o paradeiro dos seus filhos.

Cinema e Arquitetura: "Quem Quer Ser um Milionário?"

O tema pobreza já foi abordado através de vários pontos de vista ao longo da história do cinema. Muitas delas são visões românticas e que servem como mero plano de fundo para uma história pouco comprometida com a realidade. Poucos pontos de vista são ousados, destacando talvez o trabalho de Fernando Meirelles com seu maravilhoso “Cidade de Deus”, o principal comparativo com o filme que iremos analisar.

Os diretores de ambos os filmes se expressaram diante dessa comparação, já que suas visões são retratos dos mundos mais baixos e miseráveis da cidade. Mesmo com enfoques similares, as obras possuem um caráter totalmente diferente. Uma é o resultado fiel de uma determinada época e a outra, uma história de amor que narra, ao fundo, a evolução de uma cidade.

Cinema e Arquitetura: "Batman"

A representação de Gotham variou com o tempo, quase tanto como a própria concepção da cidade utópica do futuro. Nela se quis ver representada uma Nova York, uma Chicago ou uma Pittsburgh decadentes, no entanto sua essência se torna mais das problemáticas universais de qualquer cidade que perdeu o controle de si mesma.

Assim é como Gotham entra em crise, incapaz de combater a criminalidade através de um sistema policial ineficiente e corrupto, onde o dinheiro vale mais do que a vida humana e onde as indústrias inundam o panorama da cidade, a cobrindo de um ar espesso e contaminante, onde nunca brilha o sol e as pessoas vivem aterrorizadas.

Cinema e Arquitetura: "A Origem"

Em “A Origem”, Christopher Nolan nos apresenta como nos seus outros filmes, um bom jogo de linguagem cinematográfica. Procura sempre levá-lo a seus limites e nos dá a sensação de que estamos lendo uma obra literária e não vendo como se desenvolve um roteiro de cinema na telona. Nesse filme, ele utiliza especialmente o conceito de memória, sobre o manipulável e o questionável de sua natureza na nossa vida diária. O objetivo do autor a todo o momento é fazer com que entendamos que a realidade não existe.