Em tempos muito remotos, os humanos vagueavam em grupos mais ou menos organizados, caçando e comendo do que havia. Não tinham ainda descoberto como domesticar animais e cultivar plantas; não produziam excedentes e não havia cidades. Um dia, do alto de uma colina um chefe de um desses grupos viu ao longe uma nuvem de pó que avançava e pensou: se matarmos aqueles, toda a caça e mantimentos que eles possuem será um excedente para nós. Assim fizeram e continuaram na colina exercitando armas. Quando avistaram outro grupo, pensaram melhor: matamos a maior parte e escravizamos os mais fortes para ficarem a trabalhar para nós a ver se domesticam aquelas cabras bravas. Tal qual. Pelo sim, pelo não, e porque aquela colina era estratégica e os outros invejavam suas riquezas e posição, fortificaram o lugar e ergueram uma torre no meio. Tinha nascido a primeira cidade.
A Rua da Estrada: O mais recente de arquitetura e notícia
Histórias do início do mundo / Álvaro Domingues
Rua da Estrada do Brasil / Álvaro Domingues
A Rua da Estrada do Brasil é hiper-realista. Aquilo que noutro lugar seria apenas uma mínima manifestação de qualquer coisa apenas esboçada, toma aqui um visual transbordante como nos ambientes da realidade aumentada: estacionar na berma pode ser de frente, de lado e de viés; as cores e as letras multiplicam-se numa cacofonia de signos, códigos e suportes fixos ou ambulantes; o asfalto vai incerto por esbatidos limites de vias, valetas e passeios. Nos fios que se penduram nos mesmos postes, Ariadne não saberia encontrar solução para Teseu que até podia não ser comido pelo Minotauro mas morreria electrocutado ou permaneceria eternamente no labirinto sem nunca perceber se o fio era de telefone, de electricidade, fibra óptica ou pesca à linha.