Multifacetado e cheio de complexidades, o cenário da arquitetura e do urbanismo na América Latina revela nuances e desafios específicos diante das problemáticas enfrentadas pelos diversos países, como a desigualdade social, a violência e o crescimento urbano acelerado. Nesse contexto, a prática arquitetônica assume um papel relevante na construção de soluções possíveis e adequadas a cada realidade, em que ainda se destaca a importância da reafirmação das referências e narrativas locais nessa elaboração.
Perante a hegemonia estabelecida especialmente pela América do Norte e Europa, que muitas vezes marginaliza as realizações arquitetônicas e urbanísticas latino-americanas, sobretudo a produção que sequer é considerada como tal, a valorização dessa diversidade e complexidade torna-se um imperativo para qualquer pensamento e intervenção sobre a região. A seguir, selecionamos seis entrevistas que nos ajudam a entender a arquitetura da América Latina, e que contribuem para uma abordagem mais contextualizada e sensível de suas necessidades, potencialidades e riquezas.
Apesar de manterem escritórios separados em Portugal, os irmãos Manoel e Francisco construíram suas trajetórias profissionais em conjunto e colaboração, ficando conhecidos como Aires Mateus, sobrenome de ambos. Juntos, os arquitetos portugueses já assinaram projetos em diversos países e se tornaram uma referência no mundo da arquitetura contemporânea, admirados por suas criações inovadoras e elegantes, e reconhecidos internacionalmente por seus projetos que combinam simplicidade, tradição e funcionalidade.
As interseções entre arte e arquitetura são muitas: a fruição estética, a composição de elementos formais, a relação com o lugar, a abstração, entre outras inúmeras. As combinações possíveis entre aspectos desses dois campos do conhecimento faz com que cada escritório de arquitetura (ou artista) destaque-se em sua prática e linguagem. O Diogo Aguiar Studio é um dos escritórios de arquitetura que explora esses cruzamentos entre arte e arquitetura, e distende os contornos que separam um campo do outro.
Essa atuação entre arquitetura e arte informa e move cada projeto, resultando em um trabalho que não apenas busca atender as necessidades funcionais, mas também explora novas fronteiras no que diz respeito à pesquisa espacial. Destacam-se especialmente a pesquisa material e sensorial de espaços arquitetônicos e artísticos imersivos.
A palavra "rede" tradicionalmente remete à um entrelaçamento de fios. Na concepção contemporânea, entretanto, adquire um significado relacionado à conexão, colaboração e integração, seja de ideias, de pessoas ou de processos. Não por acaso, essas são justamente as diretrizes fundamentais do Rede Arquitetos, ateliê colaborativo de arquitetura fundado em 2011 na cidade de Fortaleza, Ceará, pelos arquitetos Bruno Perdigão, Epifanio Almeida, Igor Ribeiro e Bruno Braga. Atualmente, a equipe é liderada por Braga, Luiz Cattony e João Torquato e tem como princípio o trabalho coletivo, acreditando no encontro, e não na sobreposição de ideias, como estratégia para alcançar as melhores soluções.
Com um portfólio de projetos diversificados e altamente característicos, sobretudo no que diz respeito às suas representações, o escritório de arquitetura fala é marcado por um processo criativo ousado, refinado e dinâmico. Fundado em 2013 pelos arquitetos Filipe Magalhães, Ana Luisa Soares e Ahmed Belkhodja, o fala tem sede na cidade de Porto, Portugal, e costuma trabalhar em diferentes escalas: "de territórios a casas de passarinho".
A fruição de um espaço depende de fatores múltiplos: área, iluminação, vista, temperatura, novidade. Em outras palavras, a emoção que se manifesta em uma pessoa dentro de um espaço é resultado de vários dos elementos próprios da arquitetura (intencionais ou não). Da parte do arquiteto, além do cliente ou da proposta, existe uma intenção formal, ou seja, estética, que seja digna do lado artístico da disciplina. O equilíbrio entre essas premissas são a base do pensamento arquitetônico em geral, mas o compromisso com ele é o que norteia a produção do spaceworkers, fundado por Carla Duarte, diretora financeira, Henrique Marques e Rui Dinis, diretores de criação do escritório.
A arquitetura, em geral, é entendida como construção positiva, isto é: tectônica, volume, objeto no mundo. E ela é. Contudo, se alteramos a perspectiva do observador – da vista aérea e longínqua para a interna, de quem ocupa aquele volume –, a noção de objeto no mundo se converte em “mundo” para o ocupante. Além disso, também pode se converter em moldura: o que recorta ou direciona o olhar. De fato, a vista é um quesito de valorização arquitetônica, pois destaca um determinado ângulo do que está fora, e convida o ocupante à contemplação. Os projetos da TETRO Arquitetura evidenciam essa alternância entre forma e recorte.
Quando se fala de arquitetura, inevitavelmente, fala-se em escala. Tanto para a representação gráfica e bidimensional, quanto para a área construída, tamanho do terreno, extensão da cidade. Normalmente, a arquitetura pretende-se uma disciplina grandiosa, construções robustas, metragens quadradas amplas. Mas amplo é o campo de atuação, que engloba as escalas “menores”: a habitação essencial, o terreno restrito, a pequena cidade.
Com um portfólio amplo e diversificado em termos de tipologias, escalas e localizações dos projetos, o MMBB Arquitetos é um escritório versátil e de múltiplas atividades. Fundado em 1991 na cidade de São Paulo, o escritório é atualmente composto por Maria João Figueiredo, Marta Moreira e Milton Braga, e ao longo das mais de três décadas de atuação já teve entre seus sócios Angelo Bucci, Vinicius Gorgati e Fernando de Mello Franco, além de ter realizado diversas parcerias com Paulo Mendes da Rocha.
Seja com a paisagem e a natureza do entorno de um terreno, ou com os desejos e necessidades de seus clientes, para o arquiteto paulista Gui Mattos, a elaboração de um projeto arquitetônico é sempre um processo de diálogos e trocas, construído em conjunto a uma série de outros elementos. Formado em 1986 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos (FAU Santos), ele lidera, desde 1987, o escritório de arquitetura que leva seu nome e que hoje conta com mais de 40 colaboradores.
O campo da arquitetura, em teoria, se separa da arte. Ou se discute uma espécie de hierarquia entre os dois. Por sorte, o escritório Vão é um exemplo de que a separação não precisa existir, e que a hierarquia é infrutífera para qualquer um dos lados. Fundado em 2013 por Anna Juni, Enk te Winkel e Gustavo Delonero em São Paulo, o escritório desenvolve projetos arquitetônicos alimentados pelo pensamento artístico, e trabalhos artísticos em escala arquitetônica.
Nesta entrevista com Paul Tange, presidente e diretor da Tange Associates em Tóquio, discutimos a relação com seu famoso pai Kenzo Tange (1913-2005; o arquiteto mais influente no Japão pós-guerra e vencedor do Prêmio Pritzker 1987), o destino da casa Tange Sênior construída para sua primeira família e a decisão de ingressar no escritório de seu pai logo após se formar em Harvard. Paul fala também de seu primeiro trabalho construído independentemente: a Mode Gakuen Cocoon Tower, em Tóquio, um campus vertical de 50 pavimentos capaz de acomodar dez mil estudantes.
Foi no início da década de 1960 que os jovens arquitetos Plínio Croce e Roberto Aflalo se uniram a Gian Carlo Gasperini para participar do maior concurso internacional da época, organizado pela UIA (Associação Internacional de Arquitetos). O desafio era projetar a mais alta torre de escritórios da América Latina que abrigaria a sede da Peugeot, em Buenos Aires. A vitória no concurso, com o edifício de 55 andares, foi o incentivo que faltava para criarem o aflalo/gasperini arquitetos apostando em projetos contemporâneos, focados em aspectos tecnológicos e, como eles mesmo definem, apresentando uma linguagem clara e honesta, sempre visando a satisfação dos clientes.
O estilista Paul Smith, a banda britânica Radiohead e o diretor de cinema sueco Ingmar Bergman parecem não ter nada em comum, exceto por serem constantemente citados como grandes inspirações para o arquiteto paulistano Isay Weinfeld. Uma gama multidisciplinar de influências que diz muito sobre a sua personalidade e, consequentemente, sobre suas obras.
Em meio à diversidade programática e à experimentação, o escritório carioca gru.a é um alento aos que desejam se aventurar pelo campo ampliado da arquitetura. Formado pelos sócios Caio Calafate e Pedro Varella em 2013, gru.a demostra o potencial da profissão quando dialoga com outras disciplinas.
“No local escolhido para a construção estava plantada uma das casas antigas de BH, que seria grato preservar do esquecimento. Engenhosos, Penna e sua equipe inseriram no conjunto o arco de entrada da velha construção. Criaram assim um elo visível entre o passado e o tempo presente. [...] O excelente trabalho dá à gente a alegria de sentir que nem tudo está perdido em Belo Horizonte. Os moços apontam o caminho”. Em 1982, quase no fim da sua vida, Carlos Drummond de Andrade escreve essa crônica para o Jornal do Brasil, o projeto em questão diz respeito à Sede da Casa do Jornalista de Belo Horizonte, escolhido por meio de concurso que teve como Gustavo Penna o grande vencedor.
Com sede em Belo Horizonte, em Minas Gerais, o escritório de arquitetura Arquitetos Associados apresenta um modo dinâmico e variado de tratar cada projeto. A partir de uma organização de trabalho própria e específica para cada caso, que permite uma equipe variada incluindo colaboradores externos, a forma de trabalho do escritório reflete em seus projetos singulares.
A rede balançando na varanda, a luz do sol transpassando os elementos vazados em uma dança de luz e sombra, a cor vibrante marcando os espaços e trazendo vida, essas são algumas das características presentes no cotidiano das obras do quarteto que forma o Lins Arquitetos Associados.