Em um mundo de texturas, cores e sabores extravagantes, quem diria que uma substância incolor, insípida e inodora é justamente a mais essencial para a existência humana. Antagônica por si só, a água carrega uma ambiguidade de valores e significados os quais lhe conferem um alto grau de complexidade sustentado pelo seu perfil versátil e dissolúvel que a singulariza em uma complexa simplicidade. Nesse sentido, a água, como fonte de vida, ao longo do tempo se tornou tanto um objeto de devoção quanto de estudo, fomentando um esforço contínuo focado em entender, transportar e controlar este elemento.
Carlo Scarpa: O mais recente de arquitetura e notícia
A poética da água: significados simbólicos no espaço construído
Guia de arquitetura de Veneza: 15 atrações históricas e contemporâneas na cidade italiana dos canais
Construída em um conjunto de 118 pequenas ilhas na rasa Lagoa de Veneza, a cidade de Veneza, na Itália, tem cativado a imaginação de arquitetos e turistas há séculos. A área é habitada desde a antiguidade. Teve grande poder financeiro e marítimo durante a idade média e o período do renascimento, como comprovado pela rica arquitetura que caracteriza a cidade até hoje. Com influências dos estilos bizantino, gótico e renascentista, a cidade representa um palimpsesto de narrativas arquitetônicas, sobrepostas que influenciaram umas às outras. Veneza também se tornou uma grande atração para arquitetos atraídos pela La Biennale di Venezia, que reúne pavilhões nacionais, exposições e eventos sobre temas urgentes relacionados à profissão.
Além da Bienal, Veneza em si é um museu ao ar livre para amantes da arquitetura. Como a cidade é conhecida por seus edifícios históricos, as intervenções modernistas e contemporâneas adicionam uma nova camada de interesse, com muitos arquitetos contemporâneos trabalhando com o tecido histórico, como a intervenção e reabilitação da Fondaco dei Tedeschi da OMA, ou a restauração da Procuratie Vecchie de David Chipperfield, um dos edifícios que definem a Piazza San Marco. Além do que a cidade tem a oferecer, o local da Bienal de Veneza também é marcado por intervenções de arquitetos famosos como Carlo Scarpa, Sverre Fehn e Alvar Aalto, tornadas permanentes devido às suas qualidades excepcionais.
Carlo Scarpa: o mestre da escultura e da luz
A luz natural é um dos elementos mais críticos na arquitetura. Embora imaterial e difícil de controlar, desempenha um papel crucial na definição de como o espaço é percebido em termos de escala, texturas, materialidade e atmosfera geral. A luz natural também afeta as emoções que as pessoas sentem em um espaço, seja por sua ausência ou abundância. Mas, assim como a luz impacta a arquitetura, a arquitetura também impacta a luz. Através do enquadramento de vistas, criando massas tridimensionais que lançam sombras marcantes, ou esculpindo vazios que criam projeções de luz únicas, alguns arquitetos dominaram técnicas de projeto que integram perfeitamente luz e volumetria — e talvez um dos melhores nisso tenha sido o arquiteto veneziano Carlo Scarpa.
Pavilhão da Suíça na Bienal de Veneza 2023 explora as relações territoriais com tema "Vizinhos"
O projeto da Suíça para seu pavilhão nacional na 18ª Exposição Internacional de Arquitetura-La Biennale di Venezia terá curadoria de Karin Sander e Philip Ursprung para explorar as relações territoriais dentro do Giardini de La Biennale. Com o título Vizinhos, o projeto se concentra na proximidade espacial e estrutural entre o Pavilhão Suíço e seu vizinho venezuelano. Ao transformar a própria arquitetura na exposição, o projeto também destaca a ligação entre os arquitetos das duas estruturas: o suíço Bruno Giacometti (1907 - 2012) e o italiano Carlo Scarpa (1906 - 1978). A exposição ficará aberta de 20 de maio a 26 de novembro de 2023.
A relação entre a arqueologia e a arquitetura
Em sua essência, a arquitetura é uma profissão interdisciplinar. Desde engenheiros estruturais a agrimensores, um projeto de arquitetura desenvolve-se com a colaboração de indivíduos de diversas áreas de trabalho. Uma conexão muitas vezes esquecida é o elo entre os campos da arquitetura e da arqueologia, que, de várias maneiras, têm muito em comum. Numa época de maior consciência sobre as questões de sustentabilidade e patrimônio, a expertise presente no campo da arqueologia desempenha um papel vital na preservação de marcos arquitetônicos de importância histórica. Essa experiência também pode desempenhar um papel significativo na criação de intervenções arquitetônicas sensíveis, adequadas ao seu contexto, contemporâneas em seu projeto, ao mesmo tempo, em que respondem a precedentes históricos.
9 Arquitetos famosos que não possuíam um diploma de arquitetura
Teve a pior banca possível? Falhou nas provas finais? Não se preocupe! Antes de cair em sua cama e chorar até dormir, veja essa lista de nove célebres arquitetos que compartilhem uma característica em comum. Você pode pensar que um diploma de arquitetura brilhante é um requisito para ser um arquiteto de sucesso; por que mais você estaria há tantos anos na escola de arquitetura? Bem, embora o título de "arquiteto" possa ser protegido em muitos países, isso não significa que você não pode projetar arquitetura incrível - como demonstrado por esses nove arquitetos, que jogaram as convenções fora e tomaram a estrada menos percorrida para a fama.
Carlo Scarpa, o arquiteto da água
Desde a sua mais tenra idade, Carlo Scarpa, aquele que se tornaria um dos mais importantes arquitetos italianos de todos os tempos, tinha muito presente o elemento fundamental que descreveria e fundamentaria sua obra muitos anos depois: a água. Enquanto brincava e se divertia por entre aquele emaranhado de vielas e canais, Scarpa vivenciava todo um universo de informações, especialmente a riqueza de estímulos que sua cidade natal o oferecia. Sua enorme sensibilidade para com o espaço è fruto dos estímulos que lhe proporcionava Veneza, sua mais bela inspiração. Sua devoção pelo simples, pelo despretensioso, exatamente o contrário da exuberância, do cenográfico e ostensivo, vai sendo construída pouco a pouco; a arte, o espaço e a história estavam presentes em suas leituras, em sua viagem em direção ao conhecimento.
Carlo Scarpa desenvolveu sua arquitetura à partir de sua extraordinaria cultura visual e de seu respeito pela tradição; percorrendo as evidências do passado e reinterpretando-as à sua manera, transformando-as em espaço arquitetônico onde todas as peças são unidades independentes mas bem orquestradas, uma narrativa espacial que, como ele mesmo dizia, poderia ser interpretada como uma música. Utilizava toda sua sabedoria e sensibilidade para se posicionar em relação ao passado, às preexistências. Mergulhando na história e interpretando o passado, construía suas obras de modo que valorizassem o contexto onde estavam inseridas.
Projetando o espaço da morte: a arquitetura de cemitérios
Embora os cemitérios tenham servido por muito tempo como um lugar no qual podemos honrar e recordar nossos entes queridos, eles historicamente também atuaram como epicentros da arte, arquitetura e paisagismo. No final do século XIX, os cemitérios evoluíram a partir de espaços urbanos superlotados e insalubres, para centros sociais e semelhantes a parques. Nas cidades carentes de parques públicos, os cemitérios tornaram-se destinos populares para piqueniques, lazer e outras reuniões familiares.
A arquitetura religiosa ainda é relevante nos dias de hoje?
Algumas das mais importantes obras de arquitetura ao longo da história da humanidade se devem à religiosidade e espiritualidade do ser humano. Ao longo das últimas décadas, um crescente número de pessoas têm se importado cada vez menos com as práticas religiosas no sentido mais tradicional, isso não significa que a maioria delas seja completamente cética, mas o fato é que muitos destes monumentos arquitetônicos têm lentamente começado a perder parte de seu significado. Aquilo que Louis Kahn chamou de “imensurável” e Le Corbusier se referia como “inefável” estaria deixando de ser relevante para as pessoas?
A proposta do Vaticano para a Bienal de Veneza de 2018 - primeira participação do país no mais importante evento de arquitetura do mundo - é apresentada como “uma espécie de peregrinação não apenas religiosa, mas também cética”. Com isso, está cada vez mais evidente que o papel dos espaços “religiosos” está se transformando pouco à pouco, de espaços iconográficos para ambientes mais ambíguos que procuram refletir a "espiritualidade" de uma maneira mais ampla.
E o que isso significa? Ainda há espaço para a espiritualidade na arquitetura? É possível criar espaços religiosos abertos para pessoas de diferentes crenças e até mesmo para aquelas mais céticas? E o que faz com que um espaço seja dotado de "espiritualidade"?
10 Obra-primas difíceis de visitar e como chegar nelas
Visitar obras-primas da arquitetura dos grandes mestres pode parecer uma peregrinação, especialmente quando estão longe e são difíceis de chegar. Nem todo mundo desprende o tempo necessário para visitar estes edifícios quando estão viajando, o que faz do fato de conseguir chegar lá ainda mais especial. Com estranhos horários de funcionamento e localizações difíceis, mostramos a seguir uma seleção de obras-primas da arquitetura e o que é preciso fazer para chegar nelas. Não esqueça de levar sua câmera!
Em foco: Carlo Scarpa
Um dos arquitetos mais enigmáticos e pouco valorizados do século XX, Carlo Scarpa (2 de junho de 1906 - 28 de novembro de 1978) é conhecido por sua abordagem instintiva em relação aos materiais, combinando habilidades artesanais com processos modernos de produção. Em um documentário de 1996 dirigido por Murray Grigor, Egle Trincanato, então presidente da Fondazione Querini Stampalia para quem Scarpa realizou o projeto de renovação de um palácio veneziado em 1963, descreve como "acima de tudo, ele era excepcionalmente habilidoso em combinar materiais básicos e valiosos."
Peças de concreto para móveis inspiradas na arquitetura de Carlo Scarpa
Material Immaterial Studio divulgou MIRAGE, uma série de peças em concreto para mobiliários inspirados pela obra do arquiteto Carlo Scarpa.
A série MIRAGE é composta de puxadores, de concreto e ganchos de roupas, todos os quais visam criar um caráter através da luz e sombra. Algumas das peças, com um padrão de ziguezague, são destinadas a reduzir o peso do material de concreto, tornando-o leve e delicado, enquanto outras peças são destinadas a expressar uma sensação de solidez.