Como marco da arquitetura religiosa contemporânea de Portugal, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus opõe-se formalmente aos modelos tradicionais representando uma obra livre de estigmas historicistas. Fruto de um concurso de projeto organizado em 1960, ela se destaca por sua dimensão cívica, pelo papel urbano e pelo seu significado antimonumental e social. Ao integrar-se na malha regular do bairro das Avenidas Novas, este exemplar do Movimento de Renovação da Arte Sacra (MRAR) faz parte de um complexo paroquial maior que passa despercebido ao transeunte. Sua rua exterior cria um espaço público inesperado, convidando à entrada e à integração num adro onde arquitetura e cidade se fundem. Finamente trabalhada em termos de espacialidade, detalhes e luz, a Igreja reserva muitas surpresas a quem nela adentra.
Edificações Religiosas: O mais recente de arquitetura e notícia
Studio Libeskind projeta memorial em homenagem às vítimas do atentado na Sinagoga Tree of Life
O Studio Libeskind, em colaboração com o Memorialization Working Group, apresentou o projeto preliminar para o memorial em homenagem às 11 pessoas falecidas em 27 de outubro de 2018 na Sinagoga Tree of Life, em Pittsburgh, nos Estados Unidos. Desenvolvido a partir de um processo que envolveu as famílias das vítimas, líderes comunitários e representantes da congregação, o projeto visa proporcionar um espaço para reflexão pública e comunitária.
Uma igreja modernista esculpida na rocha: a história do Temppeliaukio Kirkko, em Helsinque
Perto do centro de Helsinque, na Finlândia, no bairro de Töölö, encontra-se a Igreja Temppeliaukio, um templo luterano de aparência incomum, aninhado entre rochas de granito. Aproximando-se da praça pela rua Fredrikinkatu, a igreja surge sutilmente: uma cúpula plana que se eleva pouco acima da paisagem circundante. Uma entrada despretensiosa, flanqueada por paredes de concreto, conduz os visitantes por um corredor escuro até o santuário iluminado esculpido na rocha. As paredes de pedra exposta renderam-lhe o nome alternativo de “A Igreja da Rocha”. Para contrastar com o peso dos materiais, claraboias ao redor da cúpula criam um jogo de luz e sombras e uma sensação de leveza.
A igreja é resultado de um concurso de arquitetura vencido pelos irmãos arquitetos Timo e Tuomo Suomalainen em 1961. Foram reconhecidos não apenas pela criatividade, mas também pelo respeito que demonstraram ao objetivo do concurso: “incluir o plano de organização para toda a Praça Temppeliaukio, tendo em mente que a maior parte possível do afloramento rochoso da praça deve ser preservada.” A proposta vencedora consegue isso incorporando a igreja dentro da rocha e colocando as instalações paroquiais nas bordas da colina. Este artigo explora a história por trás da Igreja Temppeliaukio, narrativamente e visualmente, através das lentes de Aleksandra Kostadinovska, uma fotógrafa profissional de Skopje.
Modernidade sagrada: explorando a arquitetura sacra no movimento modernista
Se pedíssemos a alguém que imaginasse uma igreja católica, a primeira imagem que viria à mente dessa pessoa provavelmente se assemelharia a uma catedral gótica medieval com contrafortes, arcos pontiagudos e um pináculo apontando para o céu. Pensando bem, muitos outros estilos poderiam ser facilmente identificados como arquitetura católica: as estruturas simples e grandiosas do românico ou talvez os estilos ornamentados do barroco e do rococó. Uma imagem mais difícil de associar à arquitetura sacra é a do modernismo. A Igreja Católica Romana é particularmente conservadora. O modernismo, por outro lado, é revolucionário; é racional, funcional e técnico; rejeita ornamentos e abraça a inovação. Surpreendentemente, nos anos que se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial, os locais de culto desafiaram as expectativas. Blocos de concreto, matérias-primas, formas angulares e estruturas expostas foram utilizadas para romper com a tradição e criar igrejas que nada tem a ver com a imagem tradicional de uma igreja. Este artigo explora a arquitetura modernista mid-century da Igreja com imagens de Jamie McGregor Smith.
Convertendo o sagrado em profano
Cotidianamente nos deparamos com imagens de edifícios históricos que foram recentemente modernizados, ressignificados e trazidos de volta à vida. O contraste entre passado e presente, entre memória e a história viva de um determinado lugar ou edifício e a tensão entre estas duas coisas é algo que muito contribui para com a experiência da arquitetura e do espaço construído. E mais do que isso, a reabilitação de estruturas históricas pode ter um significado ainda mais profundo, principalmente quando tratamos da vida das pessoas que habitam estes lugares. Neste sentido, a arquitetura pode ser vista como um contentor de memórias coletivas compartilhadas, e o seu desenvolvimento, um livro que narra a própria história da humanidade, seus desafios, conquistas e traumas.
Quando a luz encontra o concreto: reflexões sobre a obra de Tadao Ando
Quando perguntaram a Tadao Ando, arquiteto japonês vencedor do Prêmio Pritzker de 1995, qual seria o elemento mais consistente em sua obra, ele respondeu sem pestanejar: a luz. Através de sua arquitetura, Tadao Ando se apropria da luz e da sombra de uma forma quase coreográfica. Em determinados momentos, a sombra projetada em uma parede de concreto mais parece uma impressionante obra de arte. Em outros projetos são os reflexos na superfície d'água que transformam por completo a nossa compreensão do espaço. Sua abordagem arquitetônica enraizada na tradicional arquitetura japonesa e potencializada por um vasto vocabulário arquitetônico moderno, provocou profundas transformações em nossa disciplina durante a segunda metade do século XX colocando-o como uma das mais importantes figuras do regionalismo crítico. Cada um de seus projetos apresenta soluções individuais e profundamente conectadas à seus contextos específicos - como a Igreja da Luz, a Casa Koshino ou o Templo da Água-, aproximando a arquitetura tradicional japonesa à universalidade da arquitetura moderna. Ele foi capaz de reproduzir a luz difusa do interior das casas japonesas, filtrada pelas paredes de papel, através do uso criativo dos materiais e da simples configuração dos espaços.
Light Matters: Espaços Sagrados
A utilização da luz pode levar a diversos sentimentos: um raio de sol chama a atenção; o brilho sobrepõe; o céu noturno fascina, enquanto que uma densa floresta escura desperta medo. As religiões têm feito uso destas experiências para transmitir os aspectos místicos de suas respectivas divindades - assim, também o fazem os seus edifícios construídos.
A seguir, uma exploração das diferentes abordagens de uso da luz como veículo de significado simbólico e experiência espiritual em espaços religiosos.