Ao longo dos últimos meses, a interdependência entre interação social e saúde mental nunca esteve tão evidente e manifesta. Entretanto, se isso parece tão óbvio visto desde dentro da nossa própria casa, imagine para aquelas pessoas que não tem onde morar – comunidades forçadas a abandonarem sua pátria para poder sobreviver ou em busca de uma vida melhor e mais segura. Estima-se que atualmente mais de 70 milhões de pessoas, das quais 25 milhões são refugiados, enfrentam traumas e problemas de saúde mental por estarem longe de casa, ou pela falta de um lugar seguro para viver.
Refugiados: O mais recente de arquitetura e notícia
Centros comunitários para populações deslocadas: 10 projetos no mundo
Para além da habitação temporária: cinco exemplos de infraestrutura social para refugiados
Ao longo da história do planeta terra, a migração humana - seja em busca de alimento, abrigo ou melhores condições de vida - tem sido a norma e nunca a exceção. Atualmente, no entanto, estamos testemunhando um fenômeno migratório sem precedentes. Segundo números publicados pelas Nações Unidas, mais de 68,5 milhões de pessoas encontram-se bem longe de suas casas no presente momento; os números oficiais apontam para mais de 25 milhões de refugiados, dos quais, mais da metade tem menos de dezoito anos. Entre outros fatores, os conflitos que os países do chamado "primeiro mundo" levam para países como a Síria e Mianmar, estão transformando algo que está na natureza do homem - o processo migratório - em uma crise sem precedentes e um dos principais desafios do século XXI.
Projetos emergenciais geralmente são associados à catástrofes naturais como terremotos e tsunamis. Abrigos emergenciais tem sido projetados e construídos ao longo dos últimos anos com mais e mais frequência e em números cada vez maiores. Mas até hoje, por incrível que pareça, projetos de habitação emergencial que possam proporcionar mais dignidade à vida de milhões de refugiados não tem recebido apoio suficiente e muito menos, a atenção devida por parte da nossa comunidade internacional de arquitetos. Questões importantíssimas permanecem sem respostas: Como adaptar as nossas cidades para poder atender às necessidades mais urgentes criadas pelo cada vez mais intenso processo de migração? Como podemos garantir que nossas comunidades sejam capazes de absorver e integrar refugiados e migrantes em seu tecido urbano e contextos culturais, econômicos e sociais?
No dia mundial dos refugiados, queremos chamar a atenção de todos os arquitetos e arquitetas, divulgando cinco exemplos brilhantes de projetos sociais ao redor do mundo - escolas, hospitais e centros comunitários - especificamente aqueles criados para dar abrigo e uma vida mais digna para populações deslocadas e refugiados.
Estudante propõe habitações temporárias para imigrantes venezuelanos
Desenvolvido para o concurso estudantil Habitação temporária para refugiados, o projeto a seguir - de autoria de Rodolfo Cavalcanti e premiado com o segundo lugar no certame - busca oferecer uma solução para os problemas oriundos do fluxo migratório entre Brasil e Venezuela através de uma proposta baseada em modularidade, reprodutibilidade e economia.
Saiba mais sobre o projeto e leia o memorial descritivo enviado pelo autor, a seguir:
Concurso propõe alternativas para reintegração social após guerra no Iraque
Archstorming anunciou os vencedores do Open Ideas Competition: Mosul Postwar Camp, em que arquitetos e estudantes de arquitetura tinham o desafio de projetar uma solução de reintegração social com ajuda humanitária essencial para as pessoas que retornam a Mosul após a guerra do Iraque contra o ISIS. Os resultados do concurso provaram que existem muitas formas de revitalizar a vida das pessoas deslocadas através dos espaços que habitam.
Shigeru Ban projetará 20 mil novas habitações para refugiados no Quênia
O arquiteto Shigeru Ban assinou recentemente um acordo com a UN-Habitat - a agência das Nações Unidas encarregada de orientar o desenvolvimento sustentável - para projetar 20 mil novas habitações para refugiados no assentamento de Kalobeyei, no Quênia. Atualmente lar de mais de 37 mil refugiados, o assentamento em breve ultrapassará sua capacidade original de 45 mil - mais de 17 mil chegaram apenas este ano.
"O principal será projetar e construir um abrigo onde não seja necessária nenhuma supervisão técnica, usando materiais disponíveis nos arredores e ecológicos. É importante que as casas possam ser facilmente mantidas pelos habitantes ".
Maidan Tent: uma resposta arquitetônica para a crise de refugiados na Europa
Nos últimos dois anos, mais de um milhão de pessoas fugiram do conflito sírio para se refugiar na Europa, testando exaustivamente a capacidade do continente de responder a uma crise humanitária em grande escala. Com a crise de refugiados síria ainda não resolvida, e campos de refugiados temporários agora firmemente estabelecidos nas fronteiras da Europa, arquitetos e designers dedicam energia para melhorar as condições de vida das pessoas que fogem da guerra e da perseguição.
Um exemplo emergente de arquitetura humanitária é a Maidan Tent, um centro social a ser construído em um campo de refugiados em Ritsona, Grécia. Liderado por dois jovens arquitetos, Bonaventura Visconti di Modrone e Leo Bettini Oberkalmsteiner, e com o apoio da Organização Internacional das Nações Unidas para Migrações, Maidan Tent permitirá que os refugiados se beneficiem do espaço público interno - uma área comunal para descontrair o trauma psicológico induzido pela guerra , perseguição e migração forçada.
Obras de arte foram recicladas e se tornaram cobertores para refugiados sírios
A artista jordana Raya Kassisieh, com o apoio do escritório norte-americano NADAAA, reutilizou a exposição realizada na Amman Design Week, na Jordânia, para criar cobertores para refugiados sírios e famílias jordanas. A exposição Entrelac, consistia em 300kg de lã tricotada à mão, que foi posteriormente cortada e costurada para criar cobertores para aqueles que fogem da Guerra Civil da Síria.
IKEA recria habitação síria em uma de suas lojas para conscientizar sobre a crise de refugiados
A gigante sueca IKEA está tomando medidas para combater as péssimas condições de vida enfrentadas pelos refugiados sírios.
Em parceria com a Cruz Vermelha da Noruega e com a agência de publicidade POL, a IKEA instalou uma réplica de uma casa de refugiados de Damasco, capital da Síria, em uma de suas lojas localizada em Slependen, Noruega.
Forensic Architecture reconstrói digitalmente uma prisão síria a partir da memória de sobreviventes
Forensic Architecture, uma agência de pesquisa com sede na Universidade de Londres, em colaboração com a Anistia Internacional, criou um modelo 3D de Saydnaya, uma prisão de tortura síria, usando sistemas de modelagem arquitetônica e acústica. O projeto, iniciado este ano, reconstrói a arquitetura do centro secreto de detenção a partir da memória de diversos sobreviventes que são agora refugiados na Turquia.
Desde o início da crise da Síria em 2011, dezenas de milhares de sírios foram levados a uma rede de prisões e centros de detenção secretos administrados pelo governo de Assad sob alegação de crimes contra o regime. Após passarem por uma série de interrogatórios, muitos prisioneiros foram levados a Saydnaya, um "destino final" notoriamente brutal, onde métodos de tortura são usados não apenas para obter informações, mas também para aterrorizar e frequentemente matar os detentos.
Localizada cerca de 25 km ao norte de Damasco, Saydnaya ocupa um edifício dos anos 1970. Recentemente, nenhuma visita de jornalistas independentes ou grupos de monitoramento foram permitidos, portanto, não há registros fotográficos recentes dos interiores do centro, a única coisa que existe são as memórias daqueles que escaparam de lá com vida.
Ikea Foundation lança concurso em busca de soluções que melhorem a vida de refugiados
Contribuir com soluções inovadoras para a integração de refugiados em contextos urbanos é o objetivo do concurso lançado por três entidades: a Ikea Foundation, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a plataforma holandesa What Desing Can Do For You. A ideia é que arquitetos e designers de todo o mundo desenvolvam projetos que abordem este tema.
CatalyticAction projeta parques infantis para crianças refugiadas no Líbano
"Dentro de programas humanitários as crianças muitas vezes se tornam invisíveis." (Marc Sommers)
A guerra civil na Síria obrigou milhares de famílias a deixarem suas casas em busca de lugares seguros para continuar suas vidas. Muitas famílias se mudaram para o Líbano, onde a ONU ergueu uma série de assentamentos informais. Embora eficaz no fornecimento de abrigo, eles não fornecem soluções específicas para crianças, muitas dos quais tiveram seus estudos interrompidos e não têm espaços públicos equipados para praticar esportes e interagir com outras crianças.
Em resposta a esta situação, os arquitetos da CatalyticAction projetaram e construíram um parque infantil em uma das escolas desenvolvidas pela Fundação Kayany e pelo Centro de Engajamento Cívico e Serviços Comunitários da Universidade Americana de Beirute, envolvendo crianças ao longo de todo o processo e permitindo que a estrutura seja facilmente desmontada, transportada e remontada ou reaproveitada.
Artistas sírios constroem réplicas dos monumentos destruídos pela guerra em seu país
Ao longo dos quatro anos de guerra na Síria, muitos dos antigos monumentos e artefatos do país foram demolidos pelo ISIS e pelas bombas sírias lançadas sobre militantes islâmicos. Em agosto, o Estado Islâmico destruiu Palmyra, uma antiga colônia romana de mais de dois mil anos.
Neste contexto, um grupo de artistas sírios refugiados na Jordânia, com o apoio das Nações Unidas, tem se dedicado a salvar algumas memórias dos artefatos destruídos em seu país. Desde novembro de 2014, estes artistas vêm construindo modelos em miniatura da arquitetura antiga da Síria para um projeto conhecido como "Syria History and Civilization".
Como criar um acampamento para 130 mil refugiados?
Segundo o jornal El País, a guerra civil da Síria (que já dura três anos) já causou a migração interna de seis milhões de sírios, além de 2,5 milhões que decidiram cruzar as fronteiras nacionais. 589 mil destes chegaram à Jordânia, país vizinho, onde o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) montou, a apenas doze quilômetros da fronteira com a Síria, o acampamento Azraq para 130 mil refugiados.
Após a experiência anterior do acampamento Zaatari, na Jordânia (originalmente para 20 mil pessoas, mas que acabou se tornando o lar temporário de 100 mil), a ACNUR aprendeu a lição: "Aproveitamos o feedback dos refugiados do acampamento Zaatari para nos ajudar a projetar", assinala Bernadette Castel, chefe ACNUR do acampamento Azraq.
Mais informações a seguir.
Unidade de Habitação para Refugiados é selecionada como finalista do World Design Impact Prize
Um protótipo modular de uma Unidade de Habitação para Refugiados produzido pela empresa IKEA foi selecionado como um dos três finalistas para o World Design Impact Prize 2014. O projeto piloto foi elogiado por proporcionar um "abrigo temporário que torna mais fácil 'um sentimento de normalidade' para as famílias nos campos de refugiados". O projeto será avaliado juntamente com o “BioLite HomeStove” e o “ABC Syringe” antes que um vencedor seja anunciado. Saiba mais sobre a unidade temporária aqui, e veja os demais projetos que competiam pelo prêmio aqui.
Além da tenda: Por que campos de refugiados precisam de arquitetos (agora mais do que nunca)
Só em 2013 cerca de 1 milhão de pessoas saíram da Síria para escapar de um conflito civil travado há mais de dois anos. O total de refugiados sírios está bem acima de 2 milhões, um número sem precedentes e uma realidade perturbadora que colocou os países que acolhem estes refugiados sob imensa pressão em relação a infraestrutura.
Os países tem ao menos um protocolo a seguir. Manuais da ONU são consultados e utilizados para informar uma abordagem apropriada quanto ao planejamento dos acampamentos. A terra é negociada e uma organização em grelha é definida. O método, em geral, é meticuloso - adequado para uma questão com prazo de validade.
Ou seria, se a questão fosse, de fato, temporária.