Nos últimos anos, a Índia testemunhou o ressurgimento do interesse em materiais de construção naturais, impulsionado pelo aumento das preocupações ambientais e um crescente desejo de resgatar estilos de vida tradicionais. De Mumbai, com suas movimentadas ruas, às tranquilas aldeias de Kerala, arquitetos, construtores e comunidades estão se unindo para explorar o potencial da terra, do bambu, da cal e de outros materiais orgânicos na criação de estruturas que sejam relevantes para cada contexto e que também incorporem os ideais contemporâneos do país. Essa mudança em direção ao uso de materiais naturais e recursos vernaculares reflete um movimento em prol da sustentabilidade e de uma conexão mais profunda com a natureza.
Taipa de pilão: O mais recente de arquitetura e notícia
Os méritos do greenwashing: estigma social em torno da construção natural na Índia
Principais pavilhões e instalações de 2023: interrogando a arquitetura do Sul Global
A arquitetura no Sul Global frequentemente incorpora uma rica herança cultural e artística, integrando cores, padrões intricados e elementos simbólicos. Ela também enfrenta desafios como recursos limitados, rápida urbanização e desigualdade social, buscando soluções inclusivas e comunitárias. Instalações e pavilhões servem como modelos radicais para questionar esses ideais arquitetônicos e buscar soluções inovadoras. Como parte da nossa retrospectiva de 2023, apresentamos algumas das principais instalações arquitetônicas do ano, abrangendo exposições como a Bienal de Arquitetura de Veneza, além de pavilhões permanentes que exploram materiais locais, reuso de resíduos e ressignificação de narrativas históricas.
Construindo com terra na América Latina: 12 exemplos na arquitetura contemporânea
Sendo um dos primeiros métodos de construção desenvolvidos pelos seres humanos, a terra batida provou sua resistência e durabilidade ao longo do tempo. Embora as técnicas de construção tenham evoluído e se atualizado com o passar dos séculos, ainda há um longo caminho a ser explorado, onde a compreensão a respeito pelo clima, localização geográfica, sustentabilidade, requisitos estruturais e outros fatores determinam até que ponto elas podem ser aplicadas.
Com baixo impacto ambiental e passível de ser usado em uma ampla variedade de técnicas, como paredes de taipa, esse material oferece a possibilidade de proporcionar não apenas estética, mas também conforto térmico, isolamento e outros benefícios. Com a intenção de descobrir as diferentes formas de utilização, selecionamos cerca de 12 projetos distribuídos pela América Latina, incluindo Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, México, Paraguai, Peru e Equador.
Misturando cores naturais da argila e pigmentação artificial em paredes de taipa
A terra compactada é um dos métodos mais antigos de construção de paredes e ainda possui um grande potencial na construção moderna com terra. Um aspecto desse potencial são suas cores e camadas, que se tornam visíveis à medida que as fôrmas são removidas. Como um processo que envolve a compressão camada por camada de cascalho, areia, silte e argila, sua aparência resultante é uma estratificação horizontal de tons de terra, conteúdo material e procedimentos de cura. Essa aparência colorida das paredes de terra compactada pode ser controlada e explorada por meio de padrões, textura, pigmentação e cores naturais da argila, oferecendo uma oportunidade para ampliar seus limites na arquitetura.
A madeira é uma solução sustentável para o Oriente Médio?
O movimento de arquitetura "sustentável", como o entendemos hoje, começou a ganhar forma no final do século XX em resposta às crescentes preocupações com a degradação ambiental, o consumo de energia e a escassez de recursos. Dentro desse diálogo global sobre sustentabilidade, a madeira tem sido exaltada como um símbolo de consciência ambiental e descarbonização. Sendo um dos materiais de construção mais versáteis, se tornou ainda mais procurada com a ascensão desse movimento. As árvores absorvem dióxido de carbono durante seu crescimento, que permanece na madeira quando esta é usada na construção — ou seja, menos CO2 na atmosfera.
Qual a diferença entre a taipa de mão e a taipa de pilão?
O percurso histórico da construção conta, também, a história da humanidade. Os exemplares que perduraram no tempo dizem sobre seus contextos particulares, e os resquícios que sobreviveram às intempéries e deterioração narram o desenvolvimento tecnológico humano. Nos primórdios da construção, a operação comum (e a única possível) aos humanos era utilizar matéria-prima disponível do local onde estavam inseridos. Para muitos, isso significava construir com barro.
Explorando a sabedoria vernacular: uma jornada pela arquitetura enraizada na tradição e na comunidade
Em um momento marcado por desafios ambientais e uma crescente demanda por autenticidade e diversidade cultural, os arquitetos estão recorrendo cada vez mais aos sistemas de conhecimento indígena não apenas como fontes de inspiração, mas como soluções viáveis para se adaptar e responder aos desafios locais e globais. Como guardiãs tradicionais da terra, as comunidades indígenas possuem uma compreensão profunda de seus ecossistemas, materiais disponíveis localmente, normas culturais e restrições sociais. Esse conhecimento é valioso para a arquitetura contemporânea, podendo ajudá-la a se adaptar tanto às pessoas quanto aos seus ambientes.
As práticas vernaculares e indígenas estão surgindo como base para a reimaginação arquitetônica, dando informações sobre disposições espaciais, escolha de materiais e técnicas de construção, ao mesmo tempo em que permite a integração da inovação e da expressão contemporânea. Essa cuidadosa combinação de tradição e modernidade pode ter um impacto significativo em termos de sustentabilidade, pois arquitetos que adotam a abordagem indígena para aproveitar os recursos disponíveis podem não apenas criar estruturas enraizadas em seu contexto, mas também minimizar o impacto ecológico da construção. Além disso, colaborar diretamente com as comunidades indígenas leva a projetos que priorizam a participação comunitária, a sensibilidade cultural e ao desenvolvimento sustentável.
Coleta e manejo eficiente de água em três residências na Índia
A escassez de água é uma das situações mais degradantes que alguém pode enfrentar. E, no entanto, na Índia, um país que abriga 18% da população mundial, mas possui apenas 4% dos seus recursos hídricos, essa é uma luta recorrente, com um número significativo de famílias indianas tendo que lidar com a escassez de água diariamente.
Lá, o ciclo da água oscila entre extremos. Monções severas e períodos de enchentes se transformam em secas implacáveis, tornando cada vez mais difícil controlar e preservar os recursos hídricos. Embora a maioria das ações em larga escala se concentre nas consequências para os setores agrícola e de produção, o resultado também é percebido no nível individual das residências. Assim, ações cumulativas em pequena escala oferecem um caminho possível para os cidadãos mitigarem o problema.
Kengo Kuma propõe jornada sensorial para Museu Arqueológico Nacional em Atenas
A proposta de Kengo Kuma para o Museu Nacional de Arqueologia em Atenas, Grécia, visa chamar a atenção para a importância da ciência na arqueologia, o valor das suas coleções e o caráter fundamental do museu no presente e no futuro. À medida que a memória do museu é reconstituída, palavras como enterrar, ocultar e revelar ganham importância. Estas três palavras são momentos cruciais de transição que ajudam a moldar o museu no que ele é hoje e abrir caminho para sua aplicação futura.
Francelle Cane e Marija Marić serão as curadoras do Pavilhão de Luxemburgo na Bienal de Veneza 2023
O projeto Down to Earth de Francelle Cane e Marija Marić foi escolhido por unanimidade para ocupar o Pavilhão de Luxemburgo para a 18ª Bienal de Arquitetura de Veneza. O júri elogiou a análise detalhada do território nacional e dos seus habitantes, dando ao projeto uma inflexão universal. A equipe vencedora é composta por duas curadoras, Francelle Cane e Marija Marić, apoiadas por um Conselho Consultivo e uma equipe de colaboradores nas áreas de cenografia, produção de conteúdo e mídia. A equipe também contará com uma rede de parceiros nacionais e internacionais.
Esculpindo a terra: land art e o envolvimento com o solo
Os artistas são frequentemente inspirados pela terra — sejam as interpretações de paisagens americanas do pintor Robert S. Duncanson ou as subversões de William Kentridge das pinturas britânicas da era colonial retratando paisagens africanas. No entanto, alguns artistas preferiram trabalhar diretamente com a terra, criando estruturas que se assentam em paisagens ou esculpindo o próprio solo. Esse estilo de arte — formalmente denominado land art — ganhou destaque nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970 com a ascensão do movimento ambientalista em meio aos protestos pelos direitos civis e contra a guerra, quando os artistas buscavam se separar do mercado de arte.
A ciência por trás da resiliência da arquitetura feita com terra
A arquitetura feita com terra passou no teste do tempo: resiste a desastres naturais como furacões e terremotos devido às propriedades estruturais da terra. É uma história antiga que continua a ser contada através de estruturas que resistiram ao tempo. As técnicas indígenas de construção com terra foram pioneiras em muitas civilizações antigas de todo o mundo. As comunidades originalmente construíram abrigos de terra, o material mais acessível a elas, e ensinavam suas técnicas de construção de geração em geração. A arquitetura feita com terra evoluiu buscando compreender cuidadosamente a geografia e as especificidades do lugar onde está inserida. Com práticas aperfeiçoadas ao longo das gerações, é fascinante vê-la mantendo-se resiliente em meio às adversidades.
Após mais de 50 anos em construção, megaescultura de Michael Heizer é aberta ao público
A imensa escultura City, de Michael Heizer, uma obra ambiciosa de dimensões extraordinárias, começará a receber visitas do público a partir de 2 de setembro deste ano. O anúncio foi feito pela Triple Aught Foundation, organização sem fins lucrativos responsável pela gestão e manutenção da escultura de Michael Heizer. A obra de arte de um quilômetro e meio de comprimento e quase 800 metros de largura está localizada em uma região remota do alto deserto de Nevada. As obras tiveram início em 1972, quando o artista tinha 27 anos.
Materiais para construir a identidade da Índia
Ao se tornar um país soberano, livre do domínio britânico, o povo da Índia se viu diante de perguntas que nunca haviam respondido. Vindo de diferentes culturas e origens, os cidadãos começaram a se perguntar o que significaria a Índia pós-independência. Os habitantes agora tinham a opção de construir seu próprio futuro, com a responsabilidade de recuperar sua identidade — mas qual era a identidade da Índia? Eram os templos e as cabanas do povo indígena, os altos palácios da era Mughal ou os escombros do domínio britânico? Iniciou-se a busca por uma sensibilidade indiana contemporânea que levasse as histórias coletivas dos cidadãos em direção a um futuro de esperança.
"Nossa visão da arquitetura é primitiva e essencial": entrevista com Equipo de Arquitectura
O escritório Equipo de Arquitectura foi fundado por Horacio Cherniavsky e Viviana Pozzoli em 2017. Do Paraguai, suas obras como Caixa de Terra ou Casa Intermediária traduzem a visão de uma arquitetura que aborda o primitivo e o essencial. De uma arquitetura que busca constantemente integrar o ambiente natural existente com o artifício, o construído. Em particular, uma prática que acredita na verdade material como uma ética de projeto.
O grupo foi escolhido pelo ArchDaily como um dos Novos Escritórios de 2021, e realizamos a seguinte entrevista para saber mais sobre todas as suas inspirações, motivações e formas de trabalho.
Tons da terra: os incríveis desenhos das paredes de taipa em Gana
Construções em taipa não são novidade, muito pelo contrário: partes da Grande Muralha da China foram feitas utilizando essa técnica. Ofuscadas e ultrapassadas por métodos mais modernos de construção, as paredes de barro vêm ressurgindo como uma solução econômica, sustentável e de baixo impacto. Inclusive, uma jovem empreendedora aposta que podem ser a resposta para o déficit de moradias na África. A taipa de pilão é um sistema rudimentar de construção em que a terra é comprimida em caixas de madeira, chamadas de taipas. O barro é disposto horizontalmente em camadas de cerca de 15 cm de altura e socado - com piladores manuais ou socadores pneumáticos - até atingir a densidade ideal, criando uma estrutura resistente e durável.