A luz é um elemento arquitetônico integral e emotivo. O acesso à luz é tanto aproveitado como limitado na arquitetura. Enquanto habitações tropicais caras celebram vistas ensolaradas com vidraças expansivas, uma ampla gama de galerias de arte rejeita a luz em sua forma natural, eliminando-a em conformidade com os requisitos sensíveis de suas exposições. A luz em um sentido arquitetônico e urbano também é altamente simbólica, evidente nas muitas metrópoles do nosso mundo, mas onde esse simbolismo assume uma dimensão interessante é no arquipélago de Zanzibar.
Matthew Maganga
Colaborador do ArchDaily e Assistente Curatorial na Trienal de Arquitetura Sharjah de 2023. Nascido e criado em Dar es Salaam, Tanzânia, vive no Reino Unido. Interessado em habitação, urbanismo, política de terras, patrimônio e como vivemos em nossas cidades.
Zanzibar: os múltiplos significados da luz
Criatividade utilitária: reinventando a tipologia do silo
Pesados, imponentes e utilitários, os silos são estruturas duráveis, usadas para o armazenamento de produtos a granel. Eles são importantes elementos físicos da indústria agrícola, armazenando grãos, fermentados e outros alimentos. Os volumes altos e tipicamente cilíndricos continuam sendo objeto de fascínio arquitetônico — de símbolos do progresso tecnológico no modernismo do início do século XX, até os tempos contemporâneos, provocando abordagens criativas para a reutilização adaptativa.
Arquitetura da nuvem: a pegada do data center
No contexto contemporâneo, como já foi dito inúmeras vezes, parece que vivemos no que se chama de uma era digital. Uma pandemia global aumentou a popularidade dos meios digitais de comunicação — como o Microsoft Teams e o Zoom, e o aplicativo de mensagens multiplataforma WhatsApp com mais de 2 bilhões de usuários ativos. Do ponto de vista ambiental, vemos a migração dos negócios para a “nuvem” como uma vitória da sustentabilidade. Em termos simplificados e para citar um exemplo específico, as empresas podem abster-se de armazenar dados em discos rígidos externos, e armazenar seus dados em serviços de hospedagem de arquivos online.
Esculpindo a terra: land art e o envolvimento com o solo
Os artistas são frequentemente inspirados pela terra — sejam as interpretações de paisagens americanas do pintor Robert S. Duncanson ou as subversões de William Kentridge das pinturas britânicas da era colonial retratando paisagens africanas. No entanto, alguns artistas preferiram trabalhar diretamente com a terra, criando estruturas que se assentam em paisagens ou esculpindo o próprio solo. Esse estilo de arte — formalmente denominado land art — ganhou destaque nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970 com a ascensão do movimento ambientalista em meio aos protestos pelos direitos civis e contra a guerra, quando os artistas buscavam se separar do mercado de arte.
Cor, composição e escala: analisando a fotografia de arquitetura brutalista
Ora escultural e expressivo, ora monolítico e monótono, o estilo arquitetônico brutalista é igualmente diverso e polêmico. Desde suas origens como subproduto do movimento modernista na década de 1950 até hoje, os edifícios brutalistas continuam sendo um ponto de discussão popular no debate arquitetônico. Uma possível explicação para isso é que estes edifícios brutalistas geralmente são muito fotogênicos; suas texturas e sombras dramáticas criam imagens apelativas.
Vivendo em espaços pequenos: mobiliário e acessibilidade
O canal do Youtube Never Too Small tem 2,25 milhões de inscritos – uma plataforma que apresenta a manipulação imaginativa do espaço em plantas pequenas. Vídeos de microapartamentos, em Paris, Londres e outras cidades alcançam milhões de visualizações. Claramente há uma demanda por conteúdo voltado para a vida em espaços pequenos, já que uma crise imobiliária global acelerou a queda na disponibilidade de residências acessíveis e maiores em áreas urbanas. Para aproveitar ao máximo o espaço limitado dentro dessa realidade restrita, arquitetos têm projetado plantas com menos de 40 metros quadrados visando criar uma experiência espacial não claustrofóbica.
A identidade arquitetônica das sedes de governo
Conhecido como a casa do estado, o palácio presidencial ou uma variedade de outros termos - o edifício que abriga a sede do governo de um país geralmente é bastante impressionante em termos arquitetônicos. Frequentemente opulenta, grandiosa e às vezes imponente, a casa do governo destina-se a funcionar como um marco visual distinto de uma nação - uma extensão da identidade de um país. No continente africano, região que viu uma parte significativa ser colonizada por nações europeias, essa identidade de estado, no sentido arquitetônico, é complexa.
Inteligência artificial, moradias pequenas e o que mais construímos em 2022
2022 foi um ano agitado que, novamente, resultou em uma cobertura diversificada no ArchDaily, desde a especulação acerca dos materiais de construção do futuro até a análise do papel narrativo que a arquitetura desempenha na literatura. Uma seleção de artigos do ano que passou foi reunida abaixo, organizada em quatro tópicos.
A história da Costa Suaíli através da arquitetura de suas portas
Uma característica marcante da arquitetura da Costa Suaíli — além de seus edifícios de pedra coral — é, sem dúvida, a porta ornamentada tão comumente encontrada nesta área costeira. Ricamente decoradas, e muitas vezes repletas de significado, estas portas, além de servirem à função mais utilitária de uma entrada, também eram indicadores de status e riqueza. Da Costa Suaíli até a Península Arábica, as portas são indicativos de sua localização, representativas do comércio e da migração.
Encontrando um equilíbrio: o dilema das cidades históricas
Sujeitas às forças do capital, populações migratórias e circunstâncias políticas, as cidades estão em constante evolução. Essa evolução contínua é evidente no tecido construído dos assentamentos, à medida que arquitetos e urbanistas constroem sobre camadas já existentes, alguns tendo a árdua tarefa de integrar com sucesso as áreas urbanas históricas com intervenções e sistemas arquitetônicos contemporâneos.
As cidades desta categoria estão frequentemente em conflito interno - muitas vezes tendo que lidar com os objetivos às vezes contraditórios de sustentar as populações locais e acolher investimentos externos e projetos de desenvolvimento nacional.
Os limites do algoritmo e as tendências humanas nas imagens feitas com inteligência artificial
2022 foi o ano dos geradores de imagem IA. Recentemente, esses sistemas de aprendizado de máquina foram ajustados e refinados até encontrar sua atual popularidade com o usuário comum da Internet. Esses geradores de imagens (DALL-E e Midjourney indiscutivelmente os mais populares) geram imagens a partir de texto, por exemplo, permitindo que as pessoas criem interpretações conceituais das arquiteturas do futuro, presente e passado. Mas, como somos parte de um cenário digital repleto de preconceitos humanos, navegar nesses geradores de imagens requer uma reflexão cuidadosa.
Como conciliar criação pecuária e ambiente urbano?
À medida que as pessoas continuam a migrar das áreas rurais para as urbanas, o espaço se torna um privilégio. Muitos lugares estão ficando cada vez mais congestionados – com moradias adequadas e acessíveis em escassez e sistemas de transporte lutando para atender os moradores. Mas, por mais que a conversa sobre urbanização seja sobre pessoas, às vezes também é sobre os animais que vêm com essas pessoas – a criação pecuária urbana que desempenha um papel fundamental no sustento a nível individual, além de se tornar uma via para o comércio.
Questionando a representatividade da África nas Bienais de Arquitetura
Da Bienal de Arquitetura de Tbilisi à Trienal de Arquitetura de Sharjah, as exposições de arquitetura estão cada vez mais presentes nos calendários culturais do mundo contemporâneo. As novas edições aproveitam o caminho trilhado por mostras do passado — e essas exposições históricas moldaram o discurso arquitetônico que temos hoje. Porém, como nasceram de uma estrutura ocidental, há pouca representatividade africana na história dos palcos arquitetônicos das bienais e trienais, reduzindo uma variedade de culturas a apenas uma, com estilos arquitetônicos distintos reunidos de maneira incoerente.
Questões sobre as megalópoles no sul global
Atualmente, mais de 50% da população mundial vive em áreas urbanas e, em 2050, essa população urbana quase dobrará de tamanho com 7 em cada 10 pessoas no mundo vivendo em cidades. À medida que as cidades continuaram a crescer e se expandir ao longo da história, um novo vocabulário também surgiu, muitas vezes para comunicar melhor a escala da vida urbana em um contexto relativamente contemporâneo. Um exemplo é o termo megalópole – normalmente definido como uma rede de grandes cidades que se interconectaram com áreas metropolitanas vizinhas por infraestrutura ou transporte. Na realidade, é uma região percebida de forma urbana abrangente, dentro da qual existe um fluxo constante de comércio e migração.
Do que serão feitos os móveis do futuro?
Nas conversas sobre arquitetura que estamos tendo no mundo de hoje, os materiais são um assunto muito difundido. Há discussões sobre a viabilidade do concreto no contexto contemporâneo, sobre como a madeira pode ser obtida de forma mais sustentável e sobre como materiais biodegradáveis, como o bambu, devem ser mais presentes em nossos ambientes urbanos.
Mas também precisamos falar sobre o que acontece nesses prédios – ou seja, os móveis que decoram, aprimoram e tornam habitáveis os prédios ao nosso redor. Os materiais usados para fabricar esses objetos evoluíram constantemente ao longo dos séculos e, à medida que nos aproximamos do final de 2022, vale a pena perguntar – o que o futuro reserva para os materiais que nossos móveis serão feitos?
Os antigos arranha-céus do Iêmen: como o conflito apaga o patrimônio
Arranha-céus são elementos inerentes às cidades contemporâneas. Seja em São Paulo ou Nova York, em Seul ou Dubai, essas estruturas imponentes são onipresentes no tecido urbano e a imagem convencional que se tem delas é de planos de vidro. Isso não ocorre no Iêmen, onde há exemplos antigos que são bem diferentes dos arranha-céus atuais. No centro do país, a cidade de Shibam é cercada por uma muralha fortificada e é o lar de exemplos deslumbrantes de habilidade arquitetônica: casas em torre que datam do século XVI com até sete andares de altura.
O direito à praia: murando a erosão costeira
No início da pandemia de coronavírus, em março de 2020, os parisienses abastados afluíram para suas segundas residências na costa atlântica da França, quando foi declarado o lockdown no país. Em junho de 2020, quando as restrições afrouxaram na Inglaterra, os moradores se dirigiram para cidades litorâneas como Bournemouth para aproveitar o tempo ensolarado. O primeiro cenário reflete a crescente lacuna entre ricos e pobres da França, enquanto o último é um reflexo do poder democratizante das praias de acesso público.
Em ambas as situações, o que se busca é a tranquilidade natural normalmente encontrada nas praias. Globalmente, no entanto, há um fenômeno inquietante, segundo o qual, entrelaçado com mudanças climáticas e decisões políticas, as praias estão se tornando cada vez mais espaços privados e inacessíveis.