Atualmente, mais de 50% da população mundial vive em áreas urbanas e, em 2050, essa população urbana quase dobrará de tamanho com 7 em cada 10 pessoas no mundo vivendo em cidades. À medida que as cidades continuaram a crescer e se expandir ao longo da história, um novo vocabulário também surgiu, muitas vezes para comunicar melhor a escala da vida urbana em um contexto relativamente contemporâneo. Um exemplo é o termo megalópole – normalmente definido como uma rede de grandes cidades que se interconectaram com áreas metropolitanas vizinhas por infraestrutura ou transporte. Na realidade, é uma região percebida de forma urbana abrangente, dentro da qual existe um fluxo constante de comércio e migração.
Embora o termo megalópole seja frequentemente usado de forma intercambiável com megacidades, ele se distingue das últimas, já que, as megacidades são tipicamente uma aglomeração urbana que inclui a população que vive nos subúrbios, fora da fronteira estabelecida de uma única cidade. Uma megalópole, por outro lado, geralmente resulta da expansão urbana que ocorre a partir da proximidade geográfica das áreas metropolitanas entre si.
O geógrafo francês Jean Gottmann definiu a megalópole como uma região na década de 1950, após estudar o caráter urbano do nordeste dos Estados Unidos – uma área que se estende de Boston, ao norte, a Washington, D.C, ao sul. Para Gottman, as ligações pendulares, de comunicação e transporte, aliadas à atividade econômica concomitante, tornaram a megalópole um método útil para definir a grande área.
Hoje, as megalópoles estão presentes globalmente. Na Ásia, por exemplo, a área metropolitana de Jakarta-Bandung da Indonésia, o Delta do Rio das Pérolas da China e as megalópoles sobrepostas do Japão são apenas uma parte das existentes em um contexto completamente diferente do corredor Boston-Washington dos Estados Unidos.
No continente africano, as megalópoles são em menor número quando comparadas à Ásia, mas em uma região que continua se desenvolvendo como centro de discussões urbanas, é importante entender a utilidade do termo “megalópoles” no contexto africano.
No Egito, a Grande Cairo é a 6ª maior área metropolitana do mundo, e continua evoluindo – envolvendo a vizinha Gizé a oeste e Qaliubiyya a nordeste -, a megalópole neste contexto é uma definição útil de um enquadramento geográfico. E em uma área urbana dessa escala, manter conectividade adequada e conexões de infraestrutura pode ser um desafio.
Os meios de transporte que são relativamente mais acessíveis na região, como metrôs, microônibus e ônibus, estão espalhados em uma rede de transporte extremamente grande, o que significa que para um viajante dentro da Grande Cairo são necessárias várias viagens para chegar ao seu destino, em última análise, aumentando o custo final do deslocamento.
Na região da Grande Cairo, cidades satélites do deserto, como a 6th of October City na província de Gizé e New Cairo, nos limites da província, tentaram absorver a população de Cairo, mas isso tem sido um esforço difícil - já que, os regulamentos nas cidades do deserto têm limitado a capacidade do setor informal de negócios e, além disso, um grande número de unidades habitacionais tem assumido a forma de condomínios fechados para classes socioeconômicas mais altas.
A região da Grande Cairo, apropriadamente definida como uma megalópole, é emblemática dos desafios enfrentados por assentamentos dessa escala em todo o mundo, onde a política local coordenada pode ser difícil de se implementar em toda a região e onde a infraestrutura de transporte é falha.
Mas no continente africano, talvez a definição de megalópole possa ser ajustada para outro fenômeno – a aglomeração "transfronteiriça". Em uma região onde as fronteiras entre as nações foram formalmente implementadas no domínio colonial, criaram-se assentamentos que, apesar de estarem localizados adjacentes uns aos outros e abrigar culturas que se cruzam, estão localizados em nações separadas e são mal conectados.
Com uma população de mais de 19 milhões, Kinshasa–Brazzaville é o exemplo mais representativo desse fenômeno urbano. Composta pela capital da República Democrática do Congo, Kinshasa, e Brazzaville, capital da República do Congo, as duas cidades são divididas pelo rio Congo. Do ponto de vista comercial, a desconexão Kinshasa-Brazzaville está bem documentada, com pouco comércio bilateral formal entre as cidades, apesar de serem dois polos comerciais regionais. Brazzaville, por exemplo, atualmente é considerado um mercado insignificante para a maioria das empresas em Kinshasa.
No âmbito da infraestrutura, entretanto, essa desconexão é mais explícita. Apesar de Brazzaville e Kinshasa estarem em frente uma da outra no rio Congo, atualmente não há pontes entre as duas cidades, apesar de existirem propostas para uma ponte rodoferroviária sobre o rio. As ligações de transporte são, consequentemente, poucas e distantes entre si, pois as duas cidades estão conectadas por uma pequena seleção de balsas e canoas motorizadas particulares. Entre os voos internacionais mais curtos do mundo está a rota Kinshasa-Brazzaville, com duração de cinco minutos.
No caso de Kinshasa-Brazzaville, talvez seja útil olhar para esta área urbana como uma megalópole que poderia ter sido. Vale a pena notar, por exemplo, que uma razão concomitante do porquê essas duas cidades não estarem melhor conectadas hoje é que elas estavam sob o domínio colonial de duas nações concorrentes – França e Bélgica – cada país procurando combater a expansão do outro.
Sempre tendo em mente como os assentamentos menores e rurais são parte integrante da composição do todo urbano, a megalópole é um termo de referência útil para o contexto africano onde, embora sua definição às vezes seja obscura e mutante, permite um pensamento de maior escala que envolve complexas áreas metropolitanas desse continente de tamanho considerável.