Cidade-Colcha: Bagagens Afetivas em Florianópolis
As três intervenções que se seguem foram realizadas na cidade de Florianópolis durante o mês de fevereiro de 2013 e fazem parte do trabalho de graduação em Arquitetura e Urbanismo de Paula Franchi Macedo. Com o título "Cidade-Colcha: Bagagens Afetivas em Florianópolis", o trabalho busca chamar atenção para pequenos detalhes da cidade que cativam o olhar da estudante e que formaram parte da bagagem que esta leva de suas vivências na cidade.
Cidade Pop-Up: Um olhar de viajante no cotidiano da cidade
O centro da cidade de Florianópolis, assim como em outras cidades, possui muitos apelos. Durante o dia, um grande fluxo de pessoas passa por suas ruas movimentadas por comércios e serviços de todos os gêneros. Nelas, recebemos apelos de todos os lados: ambulantes, vitrines, pessoas que entregam folhetos, músicos e artesãos. Enfim, muita coisa pra se olhar, pra se escutar.
Estamos sempre olhando as vitrines, andando apressados, ao passo que se olhássemos para cima, teríamos agradáveis surpresas. Tudo parece mais tranquilo nos andares acima do nível da rua. Menos sinais, menos pessoas e muitos prédios interessantes. Janelas, sacadas e texturas que nunca vemos, pois nunca nos damos o luxo de olhar para cima.
Este ensaio visa chamar o olhar do transeunte, que passa pelas ruas do Centro de Florianópolis todos os dias para que ele veja estes pequenos detalhes que agregam muita qualidade ao ambiente construído das ruas.
Esta ideia surgiu a partir do momento em que ao fotografar as ruas do centro, percebi que o modo como eu enquadrava os detalhes de edifícios nas fotos, geralmente detalhes em níveis mais altos, era muito comum quando eu estava neste estado de contemplação dos edifícios, olhando para cima.
Este tipo de olhar, logo percebi, é geralmente de quem está a passeio, visitando um lugar novo. Olhar este, geralmente ausente no nosso dia a dia, pois estamos sempre imersos em nossas tarefas e afazeres e é este olhar que é capturado por meio de imagens e reproduzido para que outras pessoas possam ver também a cidade de Florianópolis com um olhar de contemplação, de viajante.
Para tanto, foram confeccionados 20 cartões, que lembram cartões postais de viagem. Estes cartões reproduzem uma imagem em preto e branco de um detalhe ou fachada de edifício, e ao serem abertos mostram uma imagem colorida com um detalhe em 'pop-up'. Assim, estes detalhes poderiam então de fato 'saltar aos olhos'.
Paisagens Têxteis no trajeto do Volta ao Morro Pantanal
O Volta ao Morro Pantanal é uma linha de ônibus de Florianópolis a qual utilizei muitas vezes para chegar até o centro, meu local favorito da cidade. E neste ensaio o objetivo principal é fazer com que as pessoas que pegam o ônibus Volta ao Morro Pantanal possam ver, assim como eu vejo, todas as pequenas belezas naturais e construídas que seu trajeto proporciona.
Assim como na colcha de retalhos composta por pedaços, fragmentos têxteis onde estão reproduzidos fragmentos da paisagem foram deixados junto aos assentos do ônibus. Estes fragmentos não são meras reproduções fotográficas, mas carregam consigo uma marca, um bordado em algum detalhe da imagem.
Os bordados são a minha marca, meu ponto de contato entre eu mesma e as pessoas que dividem este trajeto comigo. São bordados empíricos, sem técnica, experimentações de linha, que acrescentam cor aos fragmentos preto e branco da paisagem.
Num primeiro momento, a pessoa que entra em contato com este artefato têxtil, enxerga, com certo estranhamento até, aquele retalho de tecido impresso como algo novo, que funciona como uma espécie de deslocamento de seu cotidiano habitual no trajeto do ônibus.
Após este momento de deslocamento, de interrupção da continuidade de seu cotidiano, ela pode então reconhecer em determinado ponto do trajeto, qual é a paisagem ali representada, e assim, olhá-la com os olhos de outro.
A experiência pode então transformar não só o modo como a pessoa faz o seu trajeto cotidiano para casa ou para o trabalho, como pode também transformar o modo como a pessoa verá a paisagem a partir daí, atentando para detalhes que talvez ela nunca tenha visto e que podem ser redescobertos diariamente a cada trajeto.
"Pegar uma lupa é prestar atenção, mas prestar atenção já não será possuir uma lupa? A atenção por si só, é uma lente de aumento." - Gaston Bachelard
Atmosferas - Pessoas e Ações na Praça XV
Considerando a Praça XV como um espaço envolvente - que envolve a vida e onde a vida das pessoas se desenrola - este ensaio visa captar e reproduzir alguns fragmentos do cotidiano da Praça - local emblemático da cidade de Florianópolis -, chamando atenção para os indivíduos que ajudam a compor sua atmosfera através das mais diversas ações que ali realizam.
Estes fragmentos capturados no cotidiano da praça se materializam através de cubos cujas faces contêm imagens, textos e espelhos. Com estes cubos-fragmento busca-se atentar para as inúmeras ações, fragmentos de vida, que têm lugar na Praça e que muitas vezes não percebemos, estando nós mesmos, imersos nas nossas próprias vidas, impedindo que vejamos alguns aspectos que se encontram fora dela.
Os cubos-fragmento são dispostos sobre alguns dos bancos da Praça XV, próximos aos locais em que as imagens foram captadas. As pessoas ao sentarem-se nos bancos, podem ver nas faces dos cubos alguma ação que já teve lugar ali. Entram então em contato com um fragmento de instante da vida de outra pessoa que esteve no mesmo local em que ela agora se encontra. A pessoa pode assim, reconhecer o local daquelas ações ou mesmo se reconhecer naquelas pessoas. E ao entrar em contato com instantes de vida de outras pessoas, há a possibilidade de se transformar de alguma forma.
Instalação
Para expor o trabalho na escola, foram confeccionadas maletas de MDF de diferentes tamanhos onde ficaram dispostos os produtos de cada uma das intervenções juntamente com imagens e textos explicativos. O objetivo principal desta instalação é que as pessoas pudessem entrar em contato com o trabalho não somente através da leitura de textos e imagens, mas também através do toque e da manipulação dos artefatos produzidos.
Paula Franchi (agora) é arquiteta e urbanista, fundadora da Simplee e co-fundadora da Piscina.