Em seu mais recente artigo para o The Guardian, Olly Wainwright observou uma série de projetos e teses produzidos pelos melhores e mais brilhantes estudantes do Reino Unido. Wainwright se surpreendeu - e não foi pela exibição de habilidades técnicas ou imaginação destes estudantes - mas pela pura falta de conexão desses projetos com a arquitetura real, construída e imperfeita: "Uma e outra vez, os projetos pareciam fugir do mundo real de pessoas e de lugares, de escala e de contexto; se parecem mais com reinos de fantasias de formas complicadas, sem nenhum propósito aparente."
É uma armadilha que muitas escolas de arquitetura têm caído, no Reino Unido e ao redor do mundo, mas não é apenas um sintoma da natureza equivocada do ensino de arquitetura, também é sintoma da obsessão da Arquitetura com a imagem de arquitetura, uma imagem completamente distante da realidade.
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A idéia da imagem perfeita da arquitetura não é só propagada por professores que priorizam o as representações gráficas, os renderings, sobre as suas implicações práticas (fazendo com que os alunos passem horas aperfeiçoando a parte gráfica em vez de aperfeiçoar o projeto), mas também pelos meios de comunicação de arquitetura (e sim, nos incluímos nessa categoria). A mídia apresenta uma enxurrada de imagens brilhantes que "vendem" uma arquitetura idealizada para o público e, francamente, para os arquitetos.
Em seu ensaio "Digital Deception", escrito para a revista Design Observer, Belmont Freeman lamenta esta obsessão pela perfeição, imagem retocadas, que se tornaram - graças à tecnologia - muito fáceis de alcançar: "Nossos olhos são treinados para acreditar que uma fotografia é uma verdadeira representação de uma condição existente. Assim, na era digital, a representação gráfica da arquitetura foi além de um exercício de persuasão, tornou-se um exercício de engano. [... O arquiteto] tem todo o incentivo para entrar em dissimulação digital e pouco risco ao fazê-lo. Photoshop e softwares semelhantes tornaram-se ferramentas potenciadoras da profissão de arquitetura, impossíveis de detectar e absolutamente onipresentes".
O ponto de "engano" de Freeman é um passo importante. Eu acredito que os arquitetos têm comprado essa idealização da imagem não apenas por causa de sua educação ou influência dos meios de comunicação, mas também porque é um ato terapêutico de auto-engano. Trabalhando sobre as teorias de Jonah Hill, escrevo que essas imagens retocadas "permitem que o arquiteto veja o seu trabalho como seria antes de ser construído, uma visão sem compromisso".
O perigo disto é que, ao cabo, "a imagem existe independente do conceito, para ser avaliada como uma ilustração gráfica. Arquitetura como design gráfico"(Wenzel 73). Em outras palavras, a própria arquitetura é apagada, ofuscada por sua imagem e isso tem conseqüências reais, como Freeman diz: "Temo que a proliferação de tais fotografias leve clientes e o público em geral a esperar da arquitetura e arquitetos um grau de qualidade - a perfeição - que seja impossível entregar no mundo real".
E o que isso significa para as representações gráficas?
As representações gráficas, muitas vezes muito idealizadas, são necessárias para tentar vender a idéia de um projeto a um cliente, onde um pouco de liberdade artística é um mal necessário. No entanto, uma vez que a idéia é vendida, o que acontece com uma representação mais realista, que mostra como prédio vai ficar com as unidades de ar condicionado e suas imperfeições?
Em uma época em que a representação gráfica (e os meios de comunicação de arquitetura em geral) já definiu as expectativas muito mais elevadas do que a realidade poderia alcançar, os renderings realistas são inúteis? Poderia um rendering estilizado, na verdade, ser ruim para o projeto e ruim para a arquitetura em geral? Deveríamos todos nós utilizar maquetes e abandonar os renderings como faz Peter Zumthor?
O que você acha? Concorda que os renderings devem ser idealizados a fim de vender um projeto? Isso é errado? Devemos tentar apresentar arquitetura tão realista quanto possível, a fim de eliminar expectativas irreais (para clientes e para nós mesmos)? Deixe-nos saber nos comentários abaixo.