Light Matters: Vídeo-mapeamento 3D, fazendo da arquitetura uma tela para narrativas urbanas

Projetores de vídeo a preços acessíveis abriram o caminho para uma jovem e impressionante forma de arte: vídeo-mapeamento 3D, um modo de projeção que usa a própria arquitetura como tela. Artistas e pesquisadores iniciaram o movimento, desenvolvendo uma nova linguagem visual para interpretar a arquitetura. Mais tarde, a publicidade adotou essa técnica para promoção de marcas, com projeções em larga escala em arranha céus; ativistas políticos também iniciaram diálogos, transformando intervenções efêmeras em interessantes formas de destacar e abordar problemáticas de desenho urbano.

Mais sobre como artistas e outros grupos desenvolveram essa linguagem visual para narrativas urbanas na continuação.

O vídeo-mapeamento 3D surge como uma forma artística relativamente nova. Softwares especiais permitiram que usuários planejassem animações e as mandassem para um ou vários poderosos projetores de vídeo, cobrindo e transformando toda a fachada de um edifício. Essas imagens dinâmicas criam um ambiente virtual 3D a partir da arquitetura real e iniciam uma nova interpretação do espaço.

Desta maneira artistas introduzem imagens (de vídeos geralmente abstratos até sofisticados vídeos modulados) que brincam com a textura das fachadas e a história do edifício. Em comparação às fachadas multimídia, que são instalações permanentes onde imagens dinâmicas representam uma parte integral e original do edifício, as instalações temporárias de vídeo-mapeamento induzem uma nova identidade.

Para Thorsten Bauer, líder do estúdio de design alemão Urbanscreen, essa diferença é essencial: “As instalações temporárias surpreendem com uma nova interpretação do antigo. [...] o antigo é o ponto de partida dramatúrgico da produção... A fachada com uma instalação permanente está sob a pressão de não ter identidade real com a qual contrastar."

As primeiras instalações de vídeo-mapeamento 3D em contextos urbanos surgiram por volta de 2005. Foi a época que os primeiros projetores de vídeos com alta potência de 10.000 Ansi-Lumen se tornaram mais acessíveis, custando algo em torno de 20.000 Euros. Os projetores de vídeo contemporâneos possuem a capacidade de 15-30.000 Ansi-Lumen e instalações maiores podem precisar de mais de 20 projetores. Os artistas mais antigos - como Antivj, easyweb.fr e Urbanscreen - encontraram muitos desafios técnicos.

Hoje em dia scanners 3D permitem projetistas documentar sua arquitetura de maneira rápida e precisa, e a tecnologia de última geração permite ajustes em tempo real e a implementação de conteúdo interativo. A base para as imagens é formado por softwares comuns para edições de imagens e vídeo. A arquitetura como meio imagético deve oferecer uma superfície com acabamento de alta reflectância para uma boa visibilidade das imagens projetadas. Por essa razão, fachadas envidraçadas, com seu efeito reflexivo, assim como superfícies pretas, com sua baixa reflectância, não são muito práticas neste aspecto.

As novas intervenções temporárias nos edifícios fascinaram o cenário da arte e curadores começaram a incluir instalações de vídeo-mapeamento em festivais como “Genius Loci” em Weimar, o “Mapping Festival” em Genebra, o “Vivid Sydney” ou o proeminente festival de luzes "Fête des Lumières“ em Lyon. Com o crescimento do número de instalações de vídeo e as aplicações criativas para essas impressionantes imagens, as agências de publicidade também adotaram esse recurso para o lançamento de produtos e promoção de marcas. Essas animações são organizadas como grandes eventos, apoiados por mídias sociais, e clamam por atenção com momentos surpreendentes que culminam na exposição do produto.

Para o artista Thomas Vaquié, do estúdio belga Antivj, no entanto, vídeo-mapeamento é mais do que um maneirismo. Para Vaquié, projeções necessitam de uma transformação notável no contexto existente: "Mapeamento na arquitetura tem que ir além de uma simples projeção de conteúdo que está de acordo com o tamanho da estrutura. É mais sobre capturar o espaço, a arquitetura, a acústica e o que mais emergir disso antes de qualquer tratamento. Também se trata de utilizar movimentos existentes e forçar pontos dentro da arquitetura."

Com seu projeto ”0 (Omicron)” no Hall Centenário de Varsóvia na Polônia, Antivj ganhou reconhecimento mundial devido ao tamanho colossal do edifício e a estética de ficção científica. AntiVJ confrontou o público com visões de um futuro através de referências como Metropolis, de Fritz Lang e os projetos utópicos de Archigram.

Romain Tardy do Antivj considerou sua animação como um processo de desenho técnico derivado da arquitetura em si: "Sobre a escolha de uma estética minimalista, veio do mundo da ficção científica, artistas contemporâneos que amamos como o Sol LeWitt, mas também de desenhos técnicos, esquemas... esse tipo de desenhos que não são considerados uma obra de arte. O que é projetado no domo também pode ser interpretado como algum tipo de processo de desenho técnico, talvez desenhado pelo próprio edifício."

A “Caixa” de Bot & Dolly igualmente fez a ligação de tecnologia de ponta com projeção de mapeamento robótico de grande escala para uma demonstração artística. O grupo demonstrou uma visão de uma nova expressão para transformar apresentações teatrais.

O grupo alemão Urbanscreen também se baseia na arquitetura, mas seus projetos frequentemente envolvem um toque humano através do uso de atores. Suas projeções podem ser divididas em dois tipos: um remix de instalações ou um teatro virtual site specific. O remix de instalações revelam um discurso refinado com a forma, a textura e a função da arquitetura. Eles estão intimamente relacionados com um lugar em específico, como foram as instalações na Opera House de Sidney. A famosa obra em forma de conchas foi transformada em dinâmicas velas de barcos e os performistas projetados refletiram a missão artística do edifício.

No entanto, na segunda abordagem de Urbanscreen, de teatro virtual site specific, atores assumem o papel principal, criando situações surrealistas para contar uma história urbana. Em sua performance "“What is up?” na cidade de Eindhoven, o público foi colocado na posição de protagonista, à medida que o acompanhavam o desenrolar de situações surrealistas. As projeções em fachadas se tornaram uma interface lúdica entre o interior e o exterior - similar à roupa humana.

Em outro projeto, “Searchlight,” o Urbanscreen procurou maneiras de como o movimentos de cones de luz poderiam ser utilizados para contar uma história de maneira interativa, enquanto mantinham o conteúdo ligado à configuração específica do ambiente a ser projetado. Aqui, uma fascinante combinação de performistas reais e figuras virtuais interagem; a história se revela pouco a pouco, mas continua na cabeça do espectador - um caminho emocionante e visionário entre arquitetura real e histórias virtuais.

Em comparação a essas animações pré-definidas de Antivj e Urbanscreen, que demonstram uma ligação próxima com uma arquitetura específica e são frequentemente apresentadas durante vários dias, outros tipos de projeção de vídeos existem que possuem um caráter ainda mais efêmero e móveis. Por exemplo, o projeto “Minneapolis Art on Wheels” de Ali Momeni, atualmente professor assistente de arte na Carnegie Mellon University, utilizou projeções de som e vídeo de grande escala para mobilizar a comunidade e explorar o espaço público. Momeni foca em performances com participações ao vivo; com seus sistemas portáteis de projeções ele pode fácil e rapidamente se deslocar para locais diferentes, começar seus eventos de luzes interativas e nunca deixar nenhuma marca física.

Em contraste com as performances artísticas de Momeni , a missão de “The Illuminator” é guiada principalmente por questões políticas. É concebida para manter viva a conversa sobre o movimento Occupy Wall Street, "Para acabar com os mitos da indústria da informação e permitir que as pessoas descubram por si mesmas pelo que os 99% estão lutando." A van New York Illuminator, equipada com um sistema de projeção de vídeo e áudio, reúne demonstrações ou aparece aleatoriamente, como uma intervenção de guerrilha para induzir o diálogo político no espaço público, como o evento no Parque Zucotti em Manhattan, em 2012.

A extraordinária vantagem para grupos políticos, que usam essas técnicas de vídeo em edifícios para comunicar sua mensagem de guerilha e sua missão sócio-cultural, é que as projeções não encostam nem danificam o edifício mas, ainda sim, deixam uma notável mensagem residual. Para essas intervenções frequentemente rápidas, plataformas de vídeo como YouTube e Vimeo se tornaram muito importantes para preservar e distribuir suas imagens e mensagens.

Com equipamentos modernos, artistas e ativistas não precisam mais enfrentar desafios técnicos; ao invés disso, o desafio será inspirar o público com conceitos convincentes. Para desenvolvimentos de projetos urbanos, o vídeo-mapeamento, com sua presença em larga escala na cidade noturna, oferece uma oportunidade de sensibilizar o público sobre os problemas negligenciados. Para artistas como Thorsten Bauer, da Urbanscreen, o objetivo será "criar um forte diálogo entre mídias de arte e arquitetura. Arquitetura deve assumir a responsabilidade para a permanente midiatização de seus edifícios."

Light Matters, uma columa mensal que trata da luz e espaço, é escrita por Thomas Schielke. Residente na Alemanha, é fascinado por projetos luminotécnicos em arquitetura, trabalha para a empresa de iluminação ERCO, publicou numerosos artigos e é coautor do livro "Light Perspectives". Para mais informações, confira www.arclighting.de ou siga ele em @arcspaces

Sobre este autor
Cita: Thomas Schielke. "Light Matters: Vídeo-mapeamento 3D, fazendo da arquitetura uma tela para narrativas urbanas" [Light Matters: 3D Video Mapping, Making Architecture The Screen for Our Urban Stories] 29 Out 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Santiago Pedrotti, Gabriel) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-149323/light-matters-video-mapeamento-3d-fazendo-da-arquitetura-uma-tela-para-narrativas-urbanas> ISSN 0719-8906

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