Para os arquitetos, o Kimbell Museum de Louis Kahn é solo sagrado. Para Renzo Piano, que projetou a primeira grande expansão do museu, isto se provou difícil de superar. Sua adição ao museu não poderia ficar muito próxima ao prédio de Kahn, nem muito longe. Ele teve que resolver um problema de estacionamento, mas respeitar o desgosto de Kahn por carros. Teve que responder à progressão majestosa dos espaços de Kahn — e àquela luz natural alva que faz as pernas dos arquitetos tremerem. E, ainda, não poderia simplesmente emprestar de Kahn sua cartola mágica.
Eu fiz minha primeira peregrinação à Kimbell em agosto deste ano. Em meio a um canteiro de obras enlameado, eu imaginava ver mais um dos edifícios de Piano, que os críticos descrevem como tecnicamente sublimes mas esteticamente estéreis. Desde o diminuto Museu Gardner em Boston até seu grande anexo no Chicago Institute of Art, as pessoas tem comparado suas obras recentes com aeroportos e parques de escritórios suburbanos.
Mas Piano me surpreendeu. Voltei para Fort Worth em outubro, justamente quando as novas galerias do Pavilhão Piano eram concluídas para a grande inauguração em 27 de novembro de 2013. Eu esperava encontrar uma série de espaços museológicos altamente funcionais que, na melhor das hipóteses, poderia alcançar uma elegante discrição. Sim, seu trabalho se desenvolve a partir de um compromisso profundo com Kahn. Mas mais do que isso, Piano, no confronto com todas as duplas negativas de seu programa ("não x, mas não não x"), criou um edifício que tem a sua própria linguagem — e sua própria grandeza.
Piano foi a escolha natural para o trabalho. Ele começou sua carreira na década de 1960 no escritório de Kahn. Após a morte de Kahn, ele seguiu os passos do mestre para projetar a Coleção Menil em Houston, que, como o Kimbell, é celebrado por transformar a luz natural do Texas em ambiente ideal para apreciar arte.
No Kimbell, o primeiro movimento de bravura do Piano é invisível: uma estrutura de estacionamento enterrada entre os dois edifícios. Até agora a maioria das pessoas entravam no Kimbell através da pouco auspiciosa porta dos fundos, perto do estacionamento antigo. Agora os visitantes poderão emergir do novo ambiente subterrâneo até a superfície através de um lindo gramado novo, a fachada principal de Kahn — uma intervenção arquitetônica ideal que fortalece as características do edifício de Kahn.
O espaço entre os dois pavilhões é a segunda "jogada" invisível de Piano. Nem muito perto, nem muito longe, os edifícios se comunicam não através de gritos, mas um murmúrio harmonioso. E o gramado emoldurado por dois edifícios torna-se um terceiro elemento no complexo — um espaço que convida a refrescar a mente entre obras-primas, ou simplesmente lançar um frisbee em uma tarde ociosa.
Então, é claro, há o Pavilhão Piano propriamente dito. Que ecoa Kahn de muitas formas: as três alas, a entrada rebaixada, as colunas quadradas, os pé diretos de 6,7 metros, a fachada de 90 metros de comprimento. Acima de tudo, os dois edifícios compartilham uma reverência comum pela luz natural. No entanto, Piano utiliza tecnologias do século 21 para criar um edifício com uma dinâmica mais ágil. O telhado parece flutuar no topo de vigas de madeira maciça. Em vez de eleger travertino para os pisos, Piano adere ao carvalho de cor clara. Mesmo as paredes móveis da galeria são diminuídas a apenas 25 centímetros. Enquanto o edifício de Kahn assemelhe-se a um enorme monumento descoberto em passado antigo, o Pavilhão do Piano parece ter sido construído a partir de ferramentas altamente sofisticadas, podendo ser desmontado e remontado rapidamente.
Se eu tivesse que identificar uma fraqueza do Pavilhão de Piano, é que ele contém, talvez, muita informação, tanto em termos de formas quanto de materiais. É impossível pensar o contrário à luz do edifício de Kahn, onde tudo é limitado ao essencial. Eu também sinto falta das formas envolventes de Kahn, acabamentos naturais táteis e dimensões mais íntimas que parecem trazê-lo a uma relação mais íntima com a própria arte.
No entanto, eu hesitaria em chamar essas diferenças de defeitos. Elas também poderiam ser vistos como contrapontos deliberados em uma relação complexa e bela. Muitos críticos, como Goldilocks, tentarão determinar se Piano fez muita reverência a Kahn, ou se não fez o bastante, ou apenas a quantidade certa. Opiniões individuais podem variar, do que tenho certeza é que gostaria de retornar a Kimbell o mais rápido possível, não apenas pela sua impressionante coleção de arte, mas também para ouvir as fascinantes conversas sobre arquitetura que acontecem naqueles gramados.
Texto escrito por Robert Landon. Imagens fornecidas pelo fotógrafo Paul Clemence e pelos fotógrafos do Kimbell Art Musuem Robert Laprelle e Robert Polidori.
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