Revisando o livro 'Urban Hopes': um olhar sobre as últimas obras de Steven Holl na China

Neste artigo originalmente publicado pela Metropolis Magazine como "Urban Hopes, Urban Dreams" (Esperanças Urbanas, Sonhos Urbanos), Samuel Medina analisa um novo livro sobre a obra de Steven Holl na China. Concentrando-se em cinco grandes projectos, o livro coloca o trabalho de Holl no contexto mais amplo de suas influências urbanísticas - incluindo idéias de sua própria arquitetura no papel que só agora estão reaparecendo.

Steven Holl é o raro arquiteto cujos conceitos são tão conhecidos quanto seus edifícios. O rendimento prolifico de Hall aparece tanto em edifícios quanto em monografias através da sua habilidade em marcar suas idéias. Urban Hopes: Made in China (Lars Müller, 2014) uma leitura condensada das mais recentes obras de Holl na China, é o último de uma sequência de pequenos livros que tem continuamente embalado o crescente corpo de trabalhos do arquiteto.

Ancoragem e Entrelaçamento apareceu em 1996 e expôs temas arquitetônicos e noções espaciais apenas parcialmente evidenciados através do seu trabalho até aquele momento. Em ambos, os prédios eram poucos e distantes entre si, espalhados entre as páginas impressas com  a "arquitetura de papel", saída principal para as energias criativas de Holl nas décadas anteriores, desde sua mudança para Nova Iorque em 1976. Esses e outros títulos foram acompanhados por Parallax, em 2000, uma mistura de referências filosóficas, científicas e poéticas que ungem a arquitetura com a áurea do Gesamtkunstwerk. A ideia de Holl sobre "porosidade" fez sua estreia aqui, prematuramente, onde foi aplicada quase literalmente no Simmos Hall, MIT, em sua fachada esponjosa. Não foi até alguns anos mais tarde, quando o arquiteto colocou seus pés na China, que o conceito seria batizado como um princípio central do desenho urbano do século  21. O Urbanismo de 2009 tanto avança quanto recapitula as grandes ideias do livro anterior.  

Leia a seguir a revisão do livro Urban Hopes

The Linked Hybrid in Beijing, 2009. Image © Shu He

As visões em larga escala do Urbanismo foram apresentadas ainda como tentativas, como quase todos ainda não haviam sido construídos ou, para aqueles situados na China, estavam em construção. Com Urban Hopes, a proporção de projetos construídos e não construídos é diferente do primeiro. Dos cinco complexos urbanos planejados para diferentes cidades em toda a China, três já foram concluídos e estão abertos ao público. Segundo Holl, eles exemplificam cinco pontos do breve, auto-intitulado "manifesto" que abre o livro e que poderia ser chamado de "Rumo a uma Arquitetura Geopolítica". A homologia com os cinco pontos do modernismo de Le Corbusier é, naturalmente, intencional, mas talvez não sem fundamento. O fantasma de Corbu há muito tempo tem assombrado a arquitetura de Holl.

The Horizontal Skyscraper in Shenzhen, 2009. Image © Iwan Baan

No entanto, cada ponto captura adequadamente as novidades do trabalho de Holl na China, mesmo que dessa vez pareça que ele apressou o devaneio com a nomenclatura. As idéias saem bastante brandas; categorias como "Formação do Espaço", SuperVerde & Urbano" e sim, "Ideia" são simultaneamente opacas e banais. O primeiro de quatro pontos, "Edifícios Híbridos" e "Ancoragem" são mais evocativos e nos deparamos mais com a força na obra construída, como no Linked Hybrid em Pequim e no Horizontal Skyscraper em Shenzhen. Ambos, juntamente com o impressionante Sliced Porosity Block em Chengdu, foram construídos nos últimos cinco anos e facilmente figuram entre as melhores construções novas da China. Juntos eles representam alguns dos projetos arquitetônicos mais ousados e audazes desse século.

The central urban space at the Sliced Porosity Block in Chengdu, 2012. Image © Hufton+Crow

É, por fim, redimindo Holl que o germe desses projetos podem ser encontrados em seus antigos planos "utópicos" e especulativos do final dos anos 80. A ironia, pelo menos, não está perdida para ele: "A exploração de estratégias para combater a expansão na periferia das cidades e a formação de espaços em vez de objetos, foram os objetivos principais da nossa "Edge of a City"  (Borda de uma Cidade), projetos feitos entre 1986 e 1990". As ideias estavam longe de seu lugar, mas as suas aplicações iludiram Holl durante 20 anos.

Proposta especulativa de Holl para grandes estruturas localizadas nas bordas das cidades que trabalham para conter a expansão. Imagem Cortesia de Steven Holl Architects

O boom imobiliário na China e o crescimento das classes de elite no país deram a Holl a chance de colocar em prática suas ideias juvenis e atualizá-las para um novo milênio. As formas são familiares - o "quadrado" continua aparecendo - mas o "super verde" é novo. Isso inclui poços geotérmicos subterrâneos usados para aquecer e resfriar os complexos, sistemas de águas reaproveitadas, painéis de cobertura PV, e mais uma ampla quantidade de gramados verdes. Tão importante quanto a performance de um edifício, Holl diz, é a sua capacidade de delinear uma forma significativa e criar espaços urbanos. "Todos esses projetos", explica ele, "partilham ambições urbanas: ideias para a orientação dos pedestres, formação de espaço público aberto, justaposição e uma variedade de programas urbanos e arquitetura super verde".

The Linked Hybrid, seen from a distance. Note the sky bridges, lifted from the "Edge of a City" concept, which find their realization here. Image © Shu He

Holl traz essas ideias para dentro do termo bem sugestivo o "condensador social", um conceito bem familiar para os estudantes de arquitetura. Originalmente utilizado pelos construtivistas soviéticos para descrever o impulso sociológico que sustenta seus blocos habitacionais, a frase se tornou recorrente no meio arquitetônico desde então. O que eles e Holl, realmente querem dizer não é uma radial reestruturação dos tipos de habitação, mas sim um modelo espacial que impulsiona o urbano. Isso é claramente refletido nas plantas e cortes do projeto Sliced Porosity Block. O complexo, no coração de Chengdu, é composto por cinco formas irregulares, torres interligadas agrupadas em torno de uma grande praça central, cuja seção revela três praças distintas. Um shopping center fica diretamente abaixo de uma das praças e pode ser vislumbrado através de uma película rasa de vidro. As lojas estão localizadas nos extremos, enquanto os escritórios e apartamentos estão acima. Três instalações artísticas - uma feita por Holl, outra por Ai Wei Wei, e outra pelo falecido Lebbeus Woods - são encaixadas nas frestas e espaços que sobram entre as torres. O ato de caminhar através do "Block" ascendendo pelas suas diferentes alturas, cruzando seus espaços públicos e descendo até o seu centro comercial subterrâneo constituem em uma experiência urbana real. Holl pode ser certo em chamá-lo de "cidade em uma cidade". (Não é por acaso que, uma nova exposição com o mesmo nome, foi dedicada aos trabalhos de Holl na China. Ela está atualmente aberta ao público na Casa Schindler em L.A.)

Uma aquarela por Holl ilustrando a parte fundamental dos Tianjin Museums. Imagem Cortesia de Steven Holl Architects

Os outros dois projetos explorados no livro são mais difíceis de definir. Enquanto o Linked Hybrid aspira a urbanidade racionalizada do Rockefeller Center, e o Sliced Porosity Block supõe um San Gimignano futurista, esses outros projetos não realizados não possuem precedentes urbanos claros ou pontos de referência. Os Tianjin Museums, projetados para uma nova cidade em construção em Bohai Bay, quebram a linearidade dos outros projetos de Holl na China para se aproximar do escultural. O museus, um dedicado à ecologia e o outro ao planejamento, se assemelham a pedaços de um quebra-cabeça gigantesco, como o projetado por Jean Arp. O Plano de Porosidade Tropical evita princípios ordenadores para algo completamente diferente. Elaborado em 2011 para Dongguan, no sul da China, essa "cidade" é uma colagem dos tipos previstos para 7.000 pessoas. As estruturas fantasiosas são dispostas de uma forma aparentemente aleatória, cercadas apenas pelos limites do lugar. Se construída, será a coleção mais densa da arquitetura de Holl em qualquer lugar do mundo.

Modelo do "Tropical Porosity Plan" de Holl feito por Dongguan, China. Imagem Cortesia de Steven Holl Architects

Se houver um trocadilho para ser dito sobre o livro, seria que é a sua insistência em insinuar o movimento de Holl dentro de uma herança de precedentes arquitetônicos que não o fazem perfeitamente. Os dois ensaios que suportam os extremos da maior parte do estudo (ou seja, dos edifícios) são supérfluos, enquanto os diagramas sem autenticidade relacionam esses complexos enormes com o desenho das ruas do West Village ou das composições urbanas medievais das "cidades" italianas. O resultando final parece forçado. Dito isso, um ensaio introdutório sobre as pinturas chinesas e sua influência nas próprias aquarelas de Holl brilhantemente complementa as fotografias da obra construída. A inclusão de Lebbeus Woods "Manifesto Lento" também é tão comovente quanto oportuna. "As novas cidades exigem um arquitetura que sobe, desce e volta para a fluidez", escreveu Woods. As condições urbanas no século XXI precisarão de propostas arquitetônicas visionárias como as de Holl ou sua sugestão implícita. Para Woods, novas tecnologias e condições políticas produzirão "desenhos arquitetônicos tão pensados quanto os que já foram construídos -  arquiteturas construídas tão pensadas como se nunca tivessem sido desenhadas."

Sobre este autor
Cita: Medina, Samuel . "Revisando o livro 'Urban Hopes': um olhar sobre as últimas obras de Steven Holl na China" [Reviewing 'Urban Hopes': A Look at Steven Holl's Latest in China] 17 Mar 2014. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-183149/revisando-o-livro-urban-hopes-um-olhar-sobre-as-ultimas-obras-de-steven-holl-na-china> ISSN 0719-8906

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