O cobiçado título "vencedor do Prêmio Pritzker" é hoje mais ou menos sinônimo de "star-architect", um termo que eu detesto e que a maioria daqueles descritos como tal provavelmente consideram irritante e constrangedor. E com razão. Estrelato no sentido de celebridade não ajuda a causa da arquitetura. A esposa de Wang Shu, Lu Wenyu, disse o mesmo quando pediu para não ser nomeada "co-laureada" com seu marido. Em uma entrevista para El Pais, observou "Estou feliz de poder fazer a arquitetura que acredito que ajude a melhorar nossas cidades. Estou convencida de que falar sobre isto desperta o interesse nos outros - e não ser famoso."
É claro que o Prêmio Pritzker não pretende criar uma escola de arquitetos famosos por serem famosos, mas reconhecer, celebrar e apoiar o talento, persistência e talvez uma contribuição única à causa da arquitetura. Cada um dos vencedores do prêmio merece este reconhecimento quer concordemos ou não com a escolha de um destinatário individual.
A cultura da fama é gerada não tanto por instituições culturais altruístas, mas em grande parte por uma mídia deslumbrada que busca criar um elenco de personagens famosos para escrever sobre. Há, é claro, pressão dos editores para fazê-lo, temendo talvez que com qualquer outro assunto possam perder leitores famintos pela cultura de celebridades. Os críticos, é claro, recebem também um status de celebridade secundária através da associação a esta cultura do estrelato.
Como resultado, o Prêmio Pritzker facilita que a mídia e patrocinadores se sintam confiantes de estar lidando com nada menos do que arquitetos que são verdadeiramente líderes mundiais. Dessa forma, o Pritzker é como uma garantia de estrelato e do potencial de destaque para edifícios associados a vencedores do prêmio. O perigo aqui é que o prêmio significa que as pessoas não precisam mais procurar tanto pelo que é bom em termos de arquitetura e edifícios específicos: podem, ao invés disso, confiar em uma opinião formada.
É aqui que o Prêmio Pritzker começa a perpetuar um ambiente que não é saudável para a arquitetura: cria-se uma separação muito grande entre vencedores e não vencedores do mesmo calibre. O jogo da fama em si - mesmo que não intencional - é o vencedor final. Comissões e outras oportunidades talvez mais adequadas a outros candidatos acabam indo para vencedores do prêmio, ajudando a reforçar a tendência de "edifícios de designers" na mesma veia de bens de consumo e produtos de grife. "Quem" tende a se tornar mais importante do que "como" ou "por que". Políticos e empresários são particularmente suscetíveis a este tipo de jogo de personalidades.
Este é um dos muitos desafios que a arquitetura enfrenta hoje. Os vencedores do Prêmio Pritzker não são os culpados. Entretanto, o prêmio deveria talvez procurar outras maneiras de comunicar o que vê como desafios contemporâneos da arquitetura. Sua divulgação poderia ser mais variada, com menos foco em se concordamos ou não com a seleção de um laureado em particular. Ao invés disso, poderia incluir um simpósio ou livro que refletisse não tanto o vencedor, mas as questões que o júri estivesse discutindo em um determinado momento. O Pritzker tem a seriedade para fazer isto, desde que a comissão tenha o desejo de combater o fenômeno do "star-architect" que vem inadvertidamente promovendo.
A escolha de Shigeru Ban foi amplamente vista como uma forma do Pritzker destacar e elogiar a causa social e humanitária na arquitetura. É possível argumentar que este seja um passo na direção de um processo de seleção que procura tornar o papel do arquiteto na sociedade mais relevante, distanciando-se da "star architecture”. Talvez isto seja verdadeiro, mas eu não gostaria de ver o Prêmio Protzker se tornar excessivamente politizado. Há muitas facetas da arquitetura, da estética, à tecnológica, à antropológica. E, é claro, preocupações sociais que podem ser celebradas, embora seja uma tarefa impossível dizer qual dessas é mais importante. O prêmio deveria ser comunicado de uma maneira que destacasse as ambições coletivas futuras da arquitetura em seu melhor - com os vencedores, cada um em seu direito, adicionando à definição do que a arquitetura pode e deve ser.
Laura Iloniemi trabalha em relações públicas em arquitetura há mais de quinze anos. Escreveu um livro sobre o assunto - Is It All About Image - publicado por Academy & Wiley. Iloniemi estudou filosofia da arquitetura na University Cambridge e promoção de artes em The Ècole du Louvre. Siga-a @BiennaleBooks.