Arquitetura pode ser definida de diversas maneiras, das mais técnicas às mais poéticas, valendo-se de inúmeros aspectos diferentes dentro de seu contexto: espaço, programa, tectônica e gesto. Este último faz referência ao traço, ao desenho, ao projeto. Talvez o croqui rápido que se anuncia à mente ao falar em gesto é aquele do abrigo: um corte ou elevação, com escala humana, de vedações verticais e cobertura.
A ideia mais comum de abrigo envolve quase sempre uma cobertura. Um plano que proteja o ser vivo de intempéries ou perigos, além de ser parte da estrutura de vedação das construções. A cobertura cumpre a função de vedação, e responde a particularidades locais em cada região do planeta. Atualmente, os sistemas construtivos diversos para coberturas permitem explorar formas, combinações e materiais para alcançar o objetivo do projeto. Materiais diferentes frequentemente utilizados nas construções possuem características distintas, com vantagens e desvantagens, e oferecem possibilidades múltiplas de acordo com a demanda de cada caso.
Telhas cerâmicas
A cobertura mais conhecida no Brasil é a de telhas cerâmicas, feitas de argila. Usam o mesmo material dos tijolos das alvenarias e passam pelo mesmo processo de fabricação destes. São parte da herança colonial portuguesa, portanto, representantes do que se pode chamar de arquitetura histórica brasileira. Todavia, não estão restritas ao contexto brasileiro, e respondem bem a contextos com clima tropical.
Em geral, é um material acessível e facilmente encontrado no campo da construção, e proporciona bom desempenho quando se trata de conforto térmico. Apoiadas sobre estrutura de madeira – que também têm um longo histórico na arquitetura colonial – as telhas cerâmicas seguem como exemplo construtivo tradicional, mas podem ser misturadas a propostas mais modernas. Essa mescla atualiza o telhado “ordinário” e confere-lhe ares mais atuais, o que evidencia seu custo-benefício, além da vantagem de ser biodegradável.
Contudo, as principais desvantagens em relação a telhas cerâmicas é a porosidade, alta quantidade de juntas das peças, e seu deslocamento ocasionado por fortes ventos. Portanto, o processo de travamento e encaixe devem ter atenção redobrada para evitar que as telhas se desloquem ou deixem frestas abertas para vazamentos no interior da construção.
Telhas metálicas
As coberturas metálicas também são comuns em contextos construtivos e permitem vãos maiores com menos estruturas de apoio. Resistentes e padronizadas, também podem ser utilizadas como vedações verticais. A variedade de uso explora outros acabamentos em interiores, e o uso convencional em coberturas também exige menos inclinação e menos estruturas de apoio.
No caso das telhas metálicas, pode-se contar com a alta taxa de reflexão para diminuir a temperatura interna, apesar da alta transmissão de calor do metal. As telhas metálicas também podem ser do tipo sanduíche, nas quais se utiliza uma manta de material isolante entre as chapas, para aumentar a eficácia termoacústica.
A corrosão e oxidação podem ser mitigadas com tratamentos em zinco no caso de telhas de aço, e, para telhas em alumínio, a vantagem é que o material pode ser reciclado e reutilizado. Sendo de metal, esse tipo de cobertura possui a rapidez construtiva de estruturas metálicas, mas as vigas de apoio demandam mão de obra específica para execução.
Telhas de fibrocimento
Em contexto brasileiro, as telhas de fibrocimento se assemelham em formato às metálicas, em chapas onduladas ou trapezoidais, e vencem vãos maiores e requerem estruturas de apoio mais espaçadas. No exterior, são encontradas também em placas ou em formato de telha plana. São de baixo custo e incombustíveis, podem ser usadas como vedação vertical, são mais leves que telhas cerâmicas, e economizam tanto o custo de mão de obra quanto em tempo de instalação. Contudo, o desempenho térmico deixa a desejar e sua composição é foco de polêmicas.
O fibrocimento é uma mistura de fibras sintéticas e cimento, e um dos componentes é o amianto, comprovadamente prejudicial à saúde. Alguns fabricantes alegam que as quantidades de amianto usadas nas fibras são baixas, enquanto outros passaram a substituir o componente. Há alguns anos, países do sul-global passaram a proibir sua fabricação e uso, enquanto os países mais ricos já proibiram o uso de amianto para produtos de consumo interno — embora ainda o exportem para países mais pobres. Parte da exigência por reparações globais também passa por esses aspectos.
Palha
Além de fazerem referência à arquitetura vernacular brasileira – que pode ser nomeada de tradicional tanto quanto aquela imposta pelos portugueses –, as coberturas de palha são comuns também em países asiáticos e constituem o exemplo de material para coberturas mais limpo ambientalmente. A matéria-prima é natural e biodegradável, então o impacto de seu descarte é quase nulo. A leveza das fibras e folhas exigem menos estrutura de sustentação, e a maleabilidade do material permite formas mais orgânicas e maior exploração formal da construções.
A montagem da cobertura tem princípios simples: a amarração das folhas e sobreposição de camadas sobre a estrutura. Contudo, o processo é manual e meticuloso, o que envolve maior tempo de construção e mão de obra especializada. Além disso, a palha exige cuidados especiais em relação ao fogo, e por ser um material orgânico, a manutenção deve ser mais recorrente que materiais produzidos industrialmente.
Para cada tipo de cobertura citado, e muitos outros disponíveis e ainda a se descobrir, os materiais oferecerão limitações e possibilidades, vantagens e desvantagens. O abrigo arquitetônico depende de seu fechamento superior, cada projeto pede seu tipo de cobertura.