Arquitetura da moda: tijolos produzidos a partir de resíduos têxteis

Segundo pesquisas recentes, o mercado da moda movimenta anualmente cerca de 2,4 trilhões de dólares no mundo. Um número exorbitante que, infelizmente, compara-se aos dados do seu desperdício. Estima-se que, a cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo cheio de sobras de tecidos é queimado ou descartado em aterros sanitários. Levando em conta que tecidos como o poliéster, amplamente utilizado na confecção, demora em média 200 anos para se decompor, é fácil prever o futuro catastrófico dessa operação. Nesse sentido, notícias alarmantes constantemente vêm à tona como as imagens do imenso cemitério de roupas usadas no deserto do Atacama divulgadas alguns anos atrás ou o relato de que a famosa marca de luxo britânica Burberry incinerou roupas, acessórios e perfumes não vendidos no valor de 28,6 milhões de libras no ano passado para preservar a marca, alegando que a o gás carbônico emitido com a ação foi compensado, tornando a atitude “ambientalmente sustentável”.

Motivada por esses dados preocupantes a francesa Clarisse Merlet, então estudante de arquitetura, em 2017 iniciou suas pesquisas em torno do desenvolvimento de um tijolo feito a partir de resíduos têxteis. A ideia inovadora aliaria arquitetura e moda – duas das indústrias mais poluentes do mundo – em uma estratégia que traz soluções mais sustentáveis para ambas.

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Imagem via Instagram de @fab.brick

Hoje consolidada como FabRICK a empresa de Merlet já produziu mais de 40.000 peças de tijolos, o que representa 12 toneladas de têxteis reciclados. Sua matéria prima principal é a roupa pré-moída composta por diferentes tecidos, não apenas algodão, mas também poliéster, elastano, entre outros, e cada tijolo usa o equivalente a duas ou três camisetas. Recentemente, Merlet afirmou que seria possível inclusive usar as máscaras cirúrgicas retalhadas para a fabricação dos tijolos, uma atitude que pode representar um ganho enorme em termos de sustentabilidade visto a imensa quantidade de máscaras que está sendo descartada desde o início da pandemia.

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Imagem via Instagram de @fab.brick

Após a trituração, os resíduos têxteis são misturados com uma cola ecológica, de composição não divulgada, desenvolvida exclusivamente para este fim a partir de inúmeros testes para evitar que o material apodrecesse e desenvolvesse mofo. Posteriormente, os resíduos são prensados em um molde de tijolo que usa compressão mecânica e, portanto, não requer energia adicional além da necessária para pressioná-lo. Os tijolos molhados são removidos do molde e passam por um processo de secagem durante duas semanas antes de seu uso.

Merlet reafirma que a empresa aceita somente roupas descartadas e que, para cada projeto, o cliente escolhe o formato (são 10 opções) e a cor dos tecidos utilizados, ou seja, os tijolos não passam por nenhum processo químico de tingimento, a cor é obtida a partir do próprio resíduo têxtil. A trituração do tecido torna possível a criação de três formas diferentes de fibras, 7, 20 ou 40mm que variam também de acordo com o projeto. Sua aplicação pode ser vista na construção de compartimentos e divisórias internas, além de mobiliários específicos, apresentando resistência ao fogo e à umidade, além de serem um excelente isolante térmico e acústico. Entretanto, a tecnologia utilizada ainda não permite que os tijolos têxteis sejam vistos em paredes estruturais, embora seja algo almejado por Merlet para o futuro.

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Essa promissora iniciativa vai ao encontro de outras inovações que procuram criar elementos construtivos a partir de materiais reciclados ou orgânicos, como o caso do tijolo feito a partir das bitucas de cigarro, do tijolo feito com plástico reciclável e do tijolo feito a partir do micélio, além de outros componentes como o cimento comestível desenvolvido com base nos restos de alimentos. Juntos eles representam alguns dos esforços contínuos que procuram criar soluções alternativas e sustentáveis para que a indústria civil contribua com o futuro do planeta.

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Sobre este autor
Cita: Camilla Ghisleni. "Arquitetura da moda: tijolos produzidos a partir de resíduos têxteis" 15 Jul 2023. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1003214/arquitetura-da-moda-tijolos-produzidos-a-partir-de-residuos-texteis> ISSN 0719-8906

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