Após 8 anos da última inauguração de uma galeria permanente no Inhotim, no dia 15 de julho o instituto inaugurou a Galeria Yayoi Kusama, que abriga as instalações imersivas “I'm Here, But Nothing” (2000) e “Aftermath of Obliteration of Eternity” (2009) da artista japonesa conhecida mundialmente pelo seu trabalho diverso e criativo envolvendo obras como pinturas, esculturas, instalações e performances.
O projeto arquitetônico da Galeria Yayoi Kusama começou a ser desenvolvido em 2016 pelos escritórios MACh Arquitetos e Rizoma Arquitetura. Com uma área de 1.437 m2 em que a arquitetura e o paisagismo são pensados, executados e transformados de forma indissociada, a galeria pode ser definida como uma espécie de espaço de transição — um mediador entre interior e exterior —, mas também um espaço em transição, que transforma-se à medida em que a vegetação se desenvolve com o passar dos anos e toma conta da cobertura.
Segundo os arquitetos, o processo projetual foi guiado pela intenção de pensar a galeria justamente por aquilo que ela não seria — isto é, se as obras possuíam dimensões bem delimitadas, com necessidade de acesso controlado e isolamento do ambiente externo, o espaço capaz de permitir uma maior liberdade em termos de projeto arquitetônico era aquele destinado à espera, em que o desafio principal seria o de resolver o problema das filas para conhecer as obras.
Assim, o projeto paisagístico, realizado coletivamente pela equipe do jardim botânico do Inhotim, assume um valioso papel junto à arquitetura. Antes de entrar nas salas que abrigam as instalações de Kusama, o público é acolhido por um jardim com cerca de 200 espécies vegetais e mais de 3500 bromélias, em um percurso hoje sombreado com lonas fixadas em cabos de aços, que serão retiradas à medida que as congéias, plantadas nos pontos de apoio da estrutura, crescerão e se distribuirão na cobertura em uma espécie de nebulosa em suspensão. O espaço torna-se assim uma espécie de "galeria impermanente”, como descreve Fernando Maculan, arquiteto do MACh Arquitetos, simultaneamente completa e incompleta nas diferentes fases de crescimento da vegetação.
A localização da galeria no parque também foi um dos elementos que direcionou as decisões projetuais. Próximo à Galeria Cosmococa e ao Jardim Veredas, o terreno destinado a receber a galeria já havia sido previamente aplanado. Com isso em vista, tanto o desenho da cobertura como o seu recobrimento pela vegetação recompõem de certa maneira a volumetria original do terreno. Além disso, sua implantação permite que a galeria seja realmente interpretada como uma espécie de parede, em que o volume preenchido da construção não é visto ou compreendido de imediato.
Se por um lado o projeto funciona como um espaço de transição entre o parque e as instalações, adaptando o olhar na penumbra estabelecida pelo entremeado entre o natural e o projetado, a parede — ou "lâmina", como os arquitetos preferem chamar — “corta” e delimita o espaço de espera e os espaços imersivos através de chapas de aço corten montadas por encaixe em uma modulação aplicada em toda a estrutura da galeria. Os detalhes dos cabos de aço atirantados que planam sobre o jardim permitem a desmontagem para que as peças de lona que hoje sombream a área possam ser retiradas à medida em que as congéias (Congea tormentosa, trepadeira com ampla cobertura vegetal e floração densa) crescem e se fixam na estrutura.
Tanto a instalação “I’m Here, But Nothing” quanto “Aftermath of Obliteration of Eternity” exploram, através da experiência espacial, a relação do sujeito com o estar no mundo, mas, ao contrário da instalação a céu aberto "Narcissus Garden" (1966/2009), também de Kusama e parte do acervo do Inhotim, as obras localizadas na nova galeria propõem experiências imersivas, que acontecem após o visitante atravessar o limiar que separa, mas que de certa maneira também conecta, o espaço de espera e o espaço das instalações artísticas.
Douglas de Freitas, curador do Inhotim, explica que a ideia, presente de diferentes maneiras nas duas instalações da Galeria Yayoi Kusama, é a de “pensar a dissolução do individualismo, buscando uma comunhão com o universal, borrando os limites do que é obra, espaço, corpo e paisagem”. Em diálogo com a obra da artista, o edifício-lâmina que abriga as instalações parece se expandir no tempo e no espaço e dissolver-se enquanto objeto arquitetônico ao mesmo tempo em que absorve outras dimensões como arte e natureza.
A Galeria Yayoi Kusama está localizada no Eixo Laranja do Inhotim, e fica aberta em dias de semana, das 10h às 16h; e aos sábados, domingos e feriados das 10h às 17h. Saiba mais sobre as regras de visitação aqui.