Para muitos arquitetos e arquitetas, a forma mais instintiva de passar uma ideia para o papel é através do desenho. Desde rápidos esboços no guardanapo durante a pausa para um café até diagramas mais elaborados que sistematizam uma série de soluções arquitetônicas, os desenhos são ferramentas recorrentes e essenciais no processo de um projeto de arquitetura, mas nem sempre os traços dão conta de transmitir com a clareza desejada determinado conceito.
Sons, cheiros, sentimentos e sensações dificilmente costumam ser traduzidos apenas na forma de desenho. Escalas humanas nem sempre dão conta de passar a dimensão de determinados elementos, exigindo o auxílio de indicações numéricas mais precisas. Legendas costumam ser usadas para definir espaços e especificar elementos arquitetônicos e, quando o celular ou a calculadora não está ao alcance, os desenhos também podem dividir o espaço do papel com cálculos rápidos. Muitas são as situações em que a escrita é combinada ao traço em uma ferramenta de comunicação híbrida, em que a subjetividade ou abstração do desenho é amparada por uma certa assertividade das palavras e números.
Além disso, processos projetuais exigem alterações constantes, em que é preciso comunicar, para si mesmo ou para um colaborador, quais mudanças devem ser feitas a partir de uma determinada configuração. Nesses casos, o par "desenho-anotação" pode ser considerado uma espécie de meio-termo entre o conceito inicial e o produto final, documentando o desenvolvimento das ideias e soluções do projeto. Essa característica, aliás, torna esse tipo de comunicação uma importante ferramenta de documentação e pesquisa. O auxílio dos desenhos e anotações de Lina Bo Bardi foi essencial para que os cavaletes de cristal pudessem ter seu projeto recuperado pelo escritório METRO Arquitetos e voltar à pinacoteca do MASP. Outro exemplo, uma planta baixa preliminar da Casa Gilardi, de Luis Barragán, com anotações de Francisco Gilardi sobre mudanças a serem feitas no projeto, mostra como os clientes também atuam no processo projetual, muitas vezes valendo-se da comunicação escrita para documentar suas ideias no próprio desenho.
A seguir, apresentamos uma série de exemplos que se valem dessa espécie de linguagem mista categorizados a partir das operações que mais os definem. Talvez você reconheça seu próprio processo projetual em algumas dessas situações:
Conceituar
Gijang Waveon / Heesoo Kwak and IDMM Architects
Fragmentos de Fachada dentro de Fachadas Falsas / Corpo Atelier
Qasr Al Hosn: Al Musallah Prayer Hall / CEBRA
Tenri Station Plaza CoFuFun / nendo
Innovation Studio / Sir Peter Cook
Transmitir elementos intangíveis
Bank of London / Clorindo Testa
Pavilhão Xilema / Kéré Architecture
Cais das Artes / Paulo Mendes da Rocha + METRO
Edifício Valois / José Cubilla
Legendar
Edifício Residencial Domus Peepem 8.1 / Kiltro Polaris Arquitectura + WEWI Studio + JC Arquitectura
Recuperação Urbana no bairro do Chiado / Álvaro Siza + Carlos Castanheira
Venecia Recreational Park / Jaime Alarcón Fuentes
Centro P&D+I KLABIN / Paulo Brazil E. Sant’Anna Arquitetos Associados
Shanghai Cofco Cultural & Health Center / Steven Holl Architects
Anotar
Casa Gilardi / Luis Barragan
Anotações de Francisco Gilardi
The Pavilion / Norman Foster Foundation
Casa OchoQuebradas / ELEMENTAL
Cavalete de Cristal / Lina Bo Bardi
Explicar
Arm Holdings Headquarters / Scott Brownrigg
Casa Fresnos / delavegacanolasso
Urban Playground / McCloy + Muchemwa
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