Em meio à imensa possibilidade de soluções construtivas, todas apresentam vantagens e desvantagens, ganhos e limitações. Seja por motivos econômicos, de prazos, disponibilidade material ou desempenho espacial, cada tipo de material responde de uma forma ao projeto e confere-lhe um determinado aspecto visual e ambiental. Em geral, uma construção necessita a combinação de mais de um tipo de sistema construtivo, o que possibilita que se compense alguma “deficiência” de um material pelo desempenho de outro. Os painéis de gesso acartonado, ou dry wall, estão neste limiar entre a rejeição e a preferência.
Como o nome já diz, uma das vantagens do dry wall é que ele dispensa o uso de água na construção, o que não envolveria a cura, como no caso do concreto, e resultaria numa obra mais limpa. Além disso, já que é composto de montantes metálicos aos quais são parafusados placas de gesso, a rapidez de execução também oferece uma vantagem para casos onde o prazo é um fator limitante. Por outro lado, o gesso tem impacto ambiental negativo, já que é de origem mineral, portanto, sua extração e processo de calcinação oferecem danos que podem não ser compensados na mesma proporção da escala de produção.
Comumente utilizado na indústria da construção contemporânea, em empreendimentos de grandes áreas e edifícios residenciais – que requerem menos tempo de execução, custo relativo baixo e maiores lucros –, o dry wall acabou relativamente mal-visto pela baixa eficiência no conforto sonoro e relativa fragilidade. Por esse motivo, é necessário lembrar que o material pode (e deve) ser utilizado junto a outras estratégias para que seu desempenho seja satisfatório. O sistema de montante permite o tratamento acústico entre as placas de gesso, e a resistência do material pode ser melhorada com aplicações de outros componentes à sua composição.
De um modo ou de outro, o dry wall permite uma certa plasticidade sem os trabalhosos processos de forma ou secagem. Bordas arredondadas, superfícies e forros prismados e recortes são mais fáceis de executar quando se trata de uma placa de gesso. Não à toa, são preferidos em situações institucionais, como museus ou escolas, que requerem mudanças mais frequentes de layout. O peso reduzido também favorece o uso em situações de reformas, e a espessura reduzida da placa também pode oferecer um detalhe de acabamento mais fino. Em suma, as possibilidades de aplicação são muitas, o que indica suas vantagens de uso. Cabe aos responsáveis pelo projeto e construção saber usá-las. Confira alguns exemplos.
Casa JR / Pascali Semerdjian Arquitetos
“O maior obstáculo do processo foi definitivamente estrutural. A descoberta do subdimensionamento das vigas e lajes da casa original atrasou a obra e elevou os custos iniciais. Para que grandes e onerosos reforços estruturais não precisassem ser feitos, as paredes de alvenaria do andar superior e cobertura foram removidas e substituídas por paredes de painel wall, mais leves, para aliviar a carga da laje. O telhado também foi substituído por uma leve telha metálica, reduzindo também o peso da cobertura.”
Escola Força Estudo Personalizado / Pianca Arquitetura + Gabriel Sepe + Quadradão
“Para todas os novas construções foram utilizadas técnicas secas, de construção rápidas e econômicas: divisórias em dry-wall para as salas que necessitavam de maior privacidade e para as salas que poderiam assumir características mais extrovertidas foram especificados divisórias em policarbonato com estrutura de sarrafos de pinus.”
Museu de Congonhas / Gustavo Penna Arquiteto e Associados
“Nas áreas do museu, as soluções arquitetônicas buscaram oferecer o maior número de recursos de instalações e luminotécnica, para flexibilizar e enriquecer as possibilidades de criação dos cenários museográficos. Através de shafts em dry-wall nas paredes da exposição permanente e dos recursos e facilidades nos pisos das áreas do entorno permite-se a criação de qualquer arranjo museográfico.”
Galeria de Arte Dotart / David Guerra
“Surgem assim novas paredes de dry-wall que receberam nas suas fachadas em vidro o adesivo alemão AVERY, blocos com acabamento em gofrato branco de vários tamanhos e alturas, para colocação de pequenas esculturas, permitindo sempre novas colocações e valorizando o conjunto das esculturas de diversos tamanhos.”
ECP – Escolinha do Clube Pinheiros / Oficina Aberta + Firma Arquitetura
“Tendo o tempo como nossa maior adversidade, optamos por realizar uma obra que fosse quase em sua plenitude erigida com materiais de prateleira, abundantes no mercado e que não exigissem uma mão-de-obra especializada para sua utilização. Desta forma, o pavilhão foi imaginado em estrutura metálica, com paredes do tipo dry-wall e revestimento em telhas de policarbonato alveolar ondulado, conferindo assim estanqueidade e isolamento térmico adequado.”
Unidade Básica de Saúde - UBS - Parque do Riacho / Saboia+Ruiz Arquitetos
“O véu externo é de dupla camada: cobogós e vedações de vidros, cujo distanciamento entre camadas permite que o perímetro dos blocos sirva como galeria de controle térmico, bem como circulação interna entre consultórios e demais instalações. As vedações garantem uma homogeneidade de fachada e privacidade às alas de serviços. Os fechamentos internos são de dry-wall e conferem flexibilidade aos arranjos funcionais.”
Residência L / Min | Day
“Os dormitórios ocupam os dois extremos do volume, deixando um grande “L interior” que proporciona ao proprietário um ambiente de estilo loft para o trabalho, a vida cotidiana e o entretenimento. Para contrastar e realçar as superfícies da parede de madeira outros espaços são tratados com uma aplicação volumétrica de cores como a “zona azul” de grande parte dos poché virtuais.”
Ateliê Isabela Pagnan / APB Oficina de Projetos
“Para alcançar o layout desejado, a sala foi dividida em diferentes áreas, incluindo provador, copa, circulação e o banheiro existente, separados por uma estrutura com traçado orgânico e que conta com nichos que seguem a sua forma, criando uma sensação de movimento e fluidez.”
Casa 1819_HY / ABrito Architects
“Esta é uma construção honesta e simples que combina a naturalidade e espontaneidade dos materiais. Assim, materiais tradicionais como cerâmica, concreto, gesso e madeira são apresentados com total sinceridade e expressividade, conferindo ao projeto um caráter forte.”
Casa dos pisos separados / Jun Yashiki & Associates
“Devido às normas de construção, esta casa de madeira de três pavimentos tem paredes exteriores a prova de fogo, nas quais todas suas superfícies interiores devem ser revestidas com placas de gesso reforçadas. Por isto, os diferentes pavimentos estão conectados às paredes externas apenas por parafusos através das placas de gesso.”
Nosotros Bar / Studio Otto Felix
“A parede ao fundo, recebe uma escultura facetada de gesso de 11 metros de largura, que avança sob o teto, servindo de cenário para o balcão. Enquanto a segunda parede, revestida de cacos de pedra são tomé, serve como barreira física, organiza o layout e oferece acolhimento com a lareira em nicho e adega embutida para atender o lounge.”