As interseções entre arte e arquitetura são muitas: a fruição estética, a composição de elementos formais, a relação com o lugar, a abstração, entre outras inúmeras. As combinações possíveis entre aspectos desses dois campos do conhecimento faz com que cada escritório de arquitetura (ou artista) destaque-se em sua prática e linguagem. O Diogo Aguiar Studio é um dos escritórios de arquitetura que explora esses cruzamentos entre arte e arquitetura, e distende os contornos que separam um campo do outro.
Essa atuação entre arquitetura e arte informa e move cada projeto, resultando em um trabalho que não apenas busca atender as necessidades funcionais, mas também explora novas fronteiras no que diz respeito à pesquisa espacial. Destacam-se especialmente a pesquisa material e sensorial de espaços arquitetônicos e artísticos imersivos.
Fundado em 2016 por Diogo Aguiar – previamente co-fundador da LIKEarchitects, cujo interesse também era a provocação e exploração da arquitetura –, o escritório conta com uma pequena equipe composta por Daniel Mudrák, Adalgisa de Castro Lopes, João Teixeira, Claudia Ricciuti, Marta Bednarczyk, Aiala Bastero Acha, Mario Basurko Rico e Mia Martina Pei. Apesar do time enxuto, projetos de grandes áreas são concebidos com a mesma competência e qualidade. Frequentemente, o Diogo Aguiar Studio colabora com outros escritórios, o que indubitavelmente enriquece a prática. O intercâmbio de repertórios e métodos amplia a experiência daqueles envolvidos no processo, o que espelha, de certa forma, o constante interstício entre os campos da arte e arquitetura que pauta a atuação do estúdio.
A palavra que parece unir os dois campos – pelos vários significados que assume – é abstração. Recorrente nas defesas de projeto e na descrição do site do escritório, a abstração de formas e referências intensifica a geometria como partido ao mesmo tempo em que abre campo para leituras e associações diversas do observador. Por exemplo, a instalação Start é baseada na divisão de um icosaedro, apenas sugerido aos transeuntes. Enquanto a estrutura é montada em módulos metálicos cruciformes – assumidamente inspiradas em Mies van der Rohe –, o aspecto geral não deixa de lembrar as esculturas-pinceladas de Mark di Suvero.
O paralelo com a arte é mais anunciado em instalações temporárias, monumentos e projetos de pequena escala, mas demonstram o processo especulativo do escritório para com o espaço onde se inserem as obras. Além disso, também informam uma linhagem de referências que se apresentam em elementos de cada projeto, seja sua área e programa pequenos e simples ou grandes e complexos.
A escala reduzida e o caráter temporário permitem maior experimentação material e formal, e os projetos constantes – porém nunca repetitivos – de expografia servem como um exercício de criação e ressignificação do espaço e dos materiais que o constituem, o que derradeiramente amplia a concepção da arquitetura “fixa”. Ademais, a própria demanda de projetos menores ou temporários também é o que permitiu que o escritório pudesse atuar de maneira destacada e ser eleito uma das Melhores Práticas de Arquitetura de 2023.
A fluidez entre o conceito e a materialização prática é uma característica marcante nos projetos desenvolvidos pelo Diogo Aguiar Studio. A ampla variedade formal dos projetos e o uso diverso de cores e materiais resulta numa igualmente vasta experiência arquitetônica para aqueles que ocupam (ou circundam) as obras. Valendo-se de preceitos básicos da arquitetura – luz e sombra, fechamento e abertura –, o grupo segue criando espaços e sensações únicas a cada projeto. Esta abordagem também faz parte da postura arquitetônica do estúdio: a investigação espacial.
Com a compreensão de que a arquitetura configura espaço, a exploração material e sensorial dos projetos questiona e testa o espaço a todo instante, o que leva a um portfólio extenso de soluções e ambientes que transmitem sentidos variados. O intuito segue o mesmo, a investigação do espaço, e a partir dele, desenrolam-se os aspectos pelos quais essa investigação se dá. A imersão espacial – que já implica a ideia de arquitetura – pode mobilizar os ocupantes através de arquétipos, citações arquitetônicas ou ressignificação de materiais ou objetos conhecidos, como um ready-made de Marcel Duchamp.
A atuação atual e fresca do Diogo Aguiar Studio rendeu-lhe uma lista de indicações em premiações europeias desde seu surgimento, com vitórias nos Leonardo Award (2019), na VIII Minsk International Biennale of Young Architects e o Europe 40 Under 40 (2019), do European Centre for Architecture Art Design and Urban Studies. A ambivalência entre fixo e temporário, pequena e grande escala, arquitetura e arte impede uma definição rígida da produção do estúdio, e talvez por isso mesmo, suas obras sejam tão ricas formalmente e tão diferentes entre si.