Na história da arquitetura moderna, Louis I. Kahn é considerado um incontestável mestre da monumentalidade nos Estados Unidos. No auge de sua carreira, Kahn conseguiu criar um tipo único de arquitetura que inspira sem ser excessiva, que expressa seu sistema construtivo sem exibicionismo estrutural, e que mergulha na história com uma nova linguagem e sistema de formas. Seu interesse pela luz como elemento funcional e pelas qualidades específicas dos materiais ia além de seus edifícios. Estava em todos os objetos que ele criava. Para celebrar esse legado, a Form Portfolios acaba de lançar "Monumental Modernism", a primeira coleção de objetos de decoração, iluminação e mobiliário modelados a partir daqueles encontrados nos edifícios de Louis I. Kahn.
Embora seja considerado um dos últimos grandes modernistas, a formação de Kahn se deu em um paradigma diferente. Ele se graduou no sistema Beaux-Arts com Paul Cret, familiarizando-se com composições clássicas, organização axial e hierarquia. A necessidade de novas formas na arquitetura não foi negada; no entanto, a inovação não anulou as lições da história. Kahn também desenvolveu uma espécie de atitude racionalista em relação às estruturas, enxergando nelas uma oportunidade oculta para a poesia.
As ideias estruturais se manifestam por meio das características singulares dos materiais, com ambos os elementos trabalhando em conjunto para destacar diretamente os próprios componentes, como lajes, calhas, trilhos e vigas. A luz interage com esses materiais, transformando as paredes em superfícies refletoras e convertendo sombras nítidas em elementos de composição. Os elementos de mobiliário complementares projetados por Kahn seguem a mesma abordagem, expressando de maneira clara a sua materialidade e utilizando formas geométricas deliberadas, assim como elementos estruturais básicos, para reforçar o significado central do espaço.
Se eu fosse definir arquitetura em poucas palavras, diria que arquitetura é a criação cuidadosa de espaços. Não se trata de simplesmente seguir prescrições conforme desejado pelos clientes. Não é encaixar usos em áreas dimensionadas... É a criação de espaços que evocam uma sensação de uso. Espaços que se harmonizem de acordo com o uso que o edifício vai ter. – Louis I. Kahn, citado em Modern Architecture Since 1900 por William J. R. Curtis
A espiritualidade está intrinsecamente ligada às obras de Kahn, pois seu processo de projeto partia de um conceito intuitivo em busca das formas materiais que dariam vida ao significado central da instituição a ser abrigada. Essa abordagem fundamentava sua estética nos valores sociais e nas implicações humanas de uma obra arquitetônica, promovendo uma compreensão intuitiva do espaço. Suas criações subvertiam as relações entre massa e vazios, figura e fundo, dando igual destaque aos espaços intermediários em comparação com as formas construídas.
Em um de seus projetos mais conhecidos, o Instituto para Ciências Biológicas Jonas Salk (1959-65), próximo a San Diego, na Califórnia, Kahn rejeitou a simples analogia entre ciência e inovação. Em vez disso, ele concebia a instituição como uma espécie de mosteiro moderno, um local dedicado à contemplação intelectual e ao recolhimento. Entre as duas fileiras de laboratórios, um amplo espaço central se abre em direção ao horizonte do Pacífico. Uma sensação de antiguidade permeia o ambiente, embora seja alcançada por meio de abordagens modernas. Espaço, estrutura, materiais e luz colaboram para criar uma imagem abstrata e quase espiritual.
De acordo com Curtis, foi Luis Barragan quem convenceu Kahn a não plantar árvores neste espaço central, e trabalhar apenas com o vazio em si. Bancos baixos de travertino oferecem a oportunidade de contemplação sem interromper o espaço, enquanto o espelho d’água raso com jato de água fortalece a composição axial e dá um ar de ritual.
Projetar elementos de mobiliário não era uma novidade para Kahn. Em fases iniciais de sua carreira, ele já havia dedicado atenção a peças individuais, como a escrivaninha de madeira de nogueira e bétula projetada em 1949. Seu desejo de criar móveis que se integrassem aos espaços estruturais o levou a enfocar elementos embutidos. A abordagem de design de Kahn também foi moldada pela influência de Anne Tyng, que ingressou em sua prática em 1945. Juntos, colaboraram na Esherick House (1959-62) e no Erdman Hall. No primeiro projeto, as molduras das janelas foram espessadas, transformando-as em "janelas mobiliadas", destacando a coerência entre elementos leves e pesados que seguiria definindo o trabalho de Louis Kahn.
Ao longo do século XX, muitos arquitetos de renome também exploraram o campo do design de interiores, criando peças que hoje são reconhecidas como pioneiras no design de móveis, deixando uma impressão duradoura. Desde a Cadeira Paimio de Alvar Aalto, a Cadeira Wassily de Marcel Breuer até a Cadeira Barcelona de Mies van der Rohe, e seguindo com arquitetos contemporâneos como Foster + Partners, BIG ou Herzog & de Meuron, que continuam a fazer contribuições significativas no design de móveis e iluminação. Eles se tornaram presença regular em feiras internacionais de design, como o Salone del Mobile em Milão.