Projetando espaços que sejam bons para as mulheres — e para todos

"Estamos focados em criar um espaço público justo", disse Chelina Odbert, Hon. ASLA, CEO e principal fundadora da Kounkuey Design Initiative (KDI), no National Building Museum em Washington, D.C. E por justo, "queremos dizer livre, inclusivo, acessível, imparcial e equitativo". "Um espaço público justo está aberto a todos". Há acesso ilimitado às ruas e espaços públicos para que as pessoas possam ir para a escola, para o trabalho e serem membros plenos de suas comunidades.

Infelizmente, o espaço público é muitas vezes "intimidante, excludente, inacessível, injusto e desigual" para muitas mulheres, pessoas LGBTQIA+, pessoas com deficiência e pessoas negras. Arquitetos paisagistas, urbanistas e outros planejadores urbanos precisam entender quem se sente seguro e confortável em espaços públicos, caso contrário, há o risco de perpetuar desigualdades, argumentou Odbert.

Odbert conheceu uma mãe solteira em um assentamento informal que não se sentia segura ao caminhar até o trabalho, por isso, ela precisou encontrar um outro emprego perto de sua casa. Isso limitou suas oportunidades econômicas. Ela conheceu também uma mulher transgênero que não se sentia segura ao ir de ônibus até a universidade, com isso, ela precisava gastar muito mais em táxis. O custo extra se tornou um fardo, então ela desistiu das aulas. Uma mulher com um carrinho de bebê não conseguiu chegar à uma reunião de planejamento local, então ela não compareceu. A falta de acesso agrava os problemas, causando impactos sociais e econômicos mais amplos.


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Por séculos, "o planejamento urbano tem sido dominado por homens brancos", disse Odbert. A falta resultante de uma perspectiva de gênero levou a muitas decisões injustas sobre a forma urbana. "Os locais de trabalho estão no centro da cidade. As residências estão na periferia. Os sistemas de transporte foram construídos para os percursos dos homens, não para as jornadas das mulheres". "As mulheres também foram informadas de que não pertencem a reuniões de planejamento público. Elas foram excluídas. As mulheres podem escolher se retirar em vez de participar. Como resultado, a equidade e a prosperidade são limitadas".

Para combater isso, a KDI aplicou uma abordagem de planejamento e design com inclusão de gênero em seus projetos de espaço público e transporte nos EUA e em todo o mundo. A organização recebeu o Prêmio Nacional de Design Cooper-Hewitt 2022 para Arquitetura Paisagística por esse trabalho.

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Projeto de Espaço Público Kibera / Kounkuey Design Initiative (KDI). Imagem cortesia de The Dirt
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Projeto de Espaço Público Kibera / Kounkuey Design Initiative (KDI). Imagem cortesia de The Dirt

Em Kibera, um dos maiores assentamentos informais do Quênia, 300.000 pessoas vivem em um espaço do tamanho do Central Park. "Há falta de acesso a água limpa e saneamento. Há insegurança alimentar. E não há espaço público", disse Odbert. A KDI sabia que qualquer espaço público em uma comunidade tão densa precisaria ser um espaço público multiuso. Por exemplo, as estruturas para sombreamento também foram projetadas para servirem como varais de roupa. Usando um processo inclusivo liderado por mulheres, a KDI e a comunidade projetaram e construíram um espaço público dinâmico que é igualmente acessível a mulheres, homens e crianças. "Isso é o que acontece quando as mulheres têm poder de decisão. Elas criam espaços que são bons para as mulheres e, em consequência, para todos os demais", disse ela. As mulheres continuam mantendo o espaço, e os políticos locais agora as procuram quando precisam alcançar a comunidade. "O espaço catalisou mudanças culturais".

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Projeto de Espaço Público Kibera / Kounkuey Design Initiative (KDI). Imagem cortesia de The Dirt

Em outro projeto em Kibera, as mulheres da comunidade e a KDI redesenharam uma via perigosa, criando uma nova rua verde. Agora, ela é totalmente acessível aos moradores e oferece espaço para vender mercadorias e varais para pendurar roupas. Isso faz com que as mulheres do bairro economizem tempo, pois elas não precisam mais levar seus filhos para a escola e voltar por um caminho lamacento e cheio de lixo.

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Kibera Green Street (antes) / Kounkuey Design Initiative (KDI). Imagem cortesia de The Dirt
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Kibera Green Street (depois) / Kounkuey Design Initiative (KDI). Imagem cortesia de The Dirt

Em La Favorita Mendoza, Argentina, a KDI focou na equidade de gênero em um processo de redesenho liderado pela comunidade. Com o apoio do Banco Mundial, a Argentina vem atualizando seu espaço público. A KDI descobriu que um parque - Plaza Aliar - era uma "zona proibida". Era inseguro devido ao seu grande porte e exposição, além disso, as vias de acesso ao parque eram "muito precárias". Como os homens usavam o espaço para beber, isso também desencorajava as mulheres e seus filhos a visitarem o parque. "Não foi projetado para mulheres". Desenvolvendo seis desenhos potenciais com membros da comunidade, a equipe analisou como incorporar múltiplos usos. O parque, concluído em 2022, inclui agora um parquinho, um anfiteatro e um centro comunitário. "É muito utilizado e muito amado".

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Plaza Aliar, La Favorita Mendoza, Argentina / Kounkuey Design Initiative (KDI). Imagem cortesia de The Dirt
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Plaza Aliar, La Favorita Mendoza, Argentina / Kounkuey Design Initiative (KDI). Imagem cortesia de The Dirt

Ao mesmo tempo, a KDI também analisou o espaço público mais amplo - os sistemas de transporte para a Plaza Aliar. Eles descobriram que os ônibus estavam superlotados e eram "pontos para assédio e abuso sexual". A iluminação inadequada das ruas também criava um senso de "perigo real e aparente". Os pontos de ônibus foram recriados para incluir banheiros, quiosques e uma biblioteca - todos os usos que chamariam mais pessoas e aumentariam a segurança. No seu trabalho em infraestrutura de mobilidade, a KDI descobriu que "os homens usam rotas diretas e mais longas, enquanto as mulheres fazem percursos mais curtos, com várias paradas no mercado, creche e às vezes os mesmos destinos várias vezes ao dia". "As mulheres, portanto, gastam mais em transporte do que os homens por causa das transferências. Elas usam modos de transporte menos eficientes. Elas também enfrentam um maior risco de assédio. Em muitos lugares, se deslocar é uma experiência ineficiente e perigosa para as mulheres. A falta de acesso pode ter efeitos de longo alcance geracionais", disse Odbert.

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Parque Nuestro Lugar / Iniciativa de Design Kounkuey (KDI). Imagem cortesia de The Dirt

No Vale Coachella da Califórnia, a KDI tem trabalhado em uma rede de "espaços públicos projetados para fins específicos", incluindo o Nuestro Lugar Park, e sistemas de transporte público para acessar esses espaços. "Podemos criar um novo parque, mas como chegar lá?" Eles descobriram que planos de mobilidade voltados para o gênero eram necessários para garantir acesso equitativo. Por meio de um processo de projeto coletivo, as calçadas foram removidas do espaço público mais exposto e projetadas para serem mais largas, multimodais e sinuosas. "O que eles queriam foi surpreendente. Isso é o que acontece quando você traz outras vozes e gêneros para o processo". As mulheres da comunidade também lideraram o processo de projeto de estruturas de sombreamento para os pontos de ônibus do leste do Vale Coachella.“Elas se tornaram a face pública dos pontos de parada – e as queridinhas da mídia.”

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Estrutura de sombra para Eastern Coachella Valley / Kounkuey Design Initiative (KDI). Imagem cortesia de The Dirt
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Estrutura de sombra para Eastern Coachella Valley / Kounkuey Design Initiative (KDI). Imagem cortesia de The Dirt

Odbert encerrou sua palestra descrevendo o Manual para Planejamento e Desenho Urbano com Inclusão de Gênero, um relatório criado pela KDI para o Banco Mundial. “É o nosso projeto mais ambicioso até agora.” O manual aborda as lacunas entre a política e a prática. Fornece diretrizes de melhores práticas que respondem às perguntas: “O que é inclusão de gênero? Como podemos fazer isso acontecer? Que nível de habitação e parques são necessários? Como o planejamento e o desenho urbano se encaixam?” Odbert espera desenvolver o manual e criar novos recursos que descrevam “o que é catalisador para grupos comunitários, governos municipais e governos nacionais”.

Este artigo foi publicado originalmente em The Dirt.

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Sobre este autor
Cita: Green, Jared. "Projetando espaços que sejam bons para as mulheres — e para todos" [Designing Spaces That Are Good for Women and Everybody Else] 02 Fev 2024. ArchDaily Brasil. (Trad. Ghisleni, Camilla) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1012755/projetando-espacos-que-sejam-bons-para-as-mulheres-e-para-todos> ISSN 0719-8906

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