
O arquiteto e educador chinês Liu Jiakun é o vencedor do Prêmio Pritzker de Arquitetura de 2025, a maior honraria no campo da arquitetura. O prestigioso prêmio reconhece Jiakun, fundador do escritório Jiakun Architects, por sua habilidade em mesclar elementos tradicionais chineses com design contemporâneo e por seu compromisso com a equidade social no ambiente construído. Nascido em Chengdu, China, onde continua a viver e trabalhar, tornou-se o segundo arquiteto chinês a receber a honraria, após Wang Shu (2012). Jiakun junta-se a uma distinta lista de laureados que inclui Riken Yamamoto em 2024, David Chipperfield em 2023 e Francis Kéré em 2022. A cerimônia de premiação acontecerá ainda na primeira metade do ano no Louvre Abu Dhabi, projetado por Jean Nouvel.

Superando limitações estilísticas, a obra de Liu Jiakun baseia-se em estratégias adaptativas para harmonizar espaços coletivos e individuais, incentivando a empatia e uma conexão emocional tanto com a arquitetura quanto com a comunidade. Através de sua arquitetura, o refúgio e a abertura encontram espaço dentro de ambientes urbanos densos, convidando diversos usuários a participarem do espetáculo da vida cotidiana. A atenção aos elementos culturais, históricos e naturais cria uma atmosfera familiar e uma arquitetura enraizada em seu entorno. O uso de materiais locais e a valorização das imperfeições oferecem uma expressão honesta dos processos que conduzem à obra finalizada.

A arquitetura deve revelar algo — deve abstrair, destilar e tornar visíveis as qualidades inerentes das pessoas locais. Tem o poder de moldar o comportamento humano e criar atmosferas, oferecendo um senso de serenidade e poesia, evocando compaixão e misericórdia, e cultivando um senso de comunidade compartilhada. — Liu Jiakun
Nascido em Chengdu em 1956, Liu Jiakun seguiu um caminho pouco convencional na arquitetura arquiteto. Após se formar em Engenharia em Arquitetura pela Universidade de Chongqing em 1982, trabalhou na reconstrução da China pós-revolução, passando alguns anos em Nagchu, Tibete (1984–1986). Um momento decisivo ocorreu em 1993, quando, considerando abandonar a arquitetura, visitou uma exposição solo de seu colega de classe Tang Hua. Essa experiência reacendeu sua paixão pela arquitetura, inspirando um compromisso com a expressão pessoal através do design. Isso levou a um período de intenso crescimento intelectual, colaborando com artistas e escritores e refinando sua filosofia singular de design. Em 1999, fundou o escritório Jiakun Architects em Chengdu.

Além de suas realizações arquitetônicas, Liu Jiakun é um prolífico escritor, explorando temas como utopia, experiência humana e as narrativas inerentes ao design. Suas obras publicadas incluem The Conception of Brightmoon (Times Literature and Art Publishing House, 2014), Narrative Discourse and Low-Tech Strategy (China Architecture & Building Press, 1997), Now and Here (China Architecture & Building Press, 2002) e I Built in West China? (Today Editorial Department, 2009), demonstrando sua perspectiva multifacetada e um profundo engajamento com a condição humana, que fundamenta seu pensamento arquitetônica.

Sempre aspiro ser como a água — para me infiltrar em um lugar sem carregar uma forma fixa própria e me fundir ao ambiente local e ao próprio terreno. Com o tempo, a água se solidifica gradualmente, transformando-se em arquitetura e, talvez, até na mais alta forma de criação espiritual humana. No entanto, ainda retém todas as qualidades daquele lugar, tanto boas quanto ruins. — Liu Jiakun

Equilibrando utopia e vida cotidiana
A abordagem de Liu Jiakun resiste a oposições como história e modernidade, coletivismo e expressão individual, utopia e realismo. Em vez disso, cria espaços que combinam essas forças aparentemente contraditórias para oferecer aos cidadãos comuns espaços que enriquecem sua experiência cotidiana. Essa abordagem é alcançada através da cuidadosa integração de cada projeto em seus contextos sociais, culturais e históricos. Em vez de impor uma estética singular, suas soluções de design se adaptam às necessidades e características específicas de cada encomenda.

Esse idealismo pragmático é evidente em projetos como o Centro de Comunicação Cultural dos Três Templos de Songyang, que priorizam um desenho centrado no ser humano e que fomenta um senso de pertencimento e identidade compartilhada. Os interesses literários de Jiakun iluminam ainda mais essa abordagem, explorando a complexa interação entre ideais utópicos e as realidades da existência humana. Mais do que meras estruturas, seus edifícios funcionam como narrativas, entrelaçando história, comunidade e experiência individual para criar espaços que ressoam com tanto idealismo quanto realidade cotidiana.

Entre densidade e abertura espacial
Por meio de sua arquitetura, Liu Jiakun desafia a compreensão convencional de densidade, demonstrando que áreas muito populosas não precisam sacrificar seus espaços abertos. Ele alcança isso incorporando espaços públicos dentro de seus projetos, criando ambientes vibrantes e interconectados que incentivam a interação comunitária. O Conjunto Xicun em Chengdu é um exemplo fundamental. Este edifício de cinco andares, abrangendo um quarteirão inteiro, integra caminhos amplos para pedestres e ciclistas, oferecendo percursos abertos e fechados que conectam os moradores ao tecido urbano circundante e facilitam uma gama de atividades comunitárias. Em uma escala diferente, o edifício do Departamento de Escultura do Instituto de Belas Artes de Sichuan em Chongqing maximiza o espaço utilizável por meio de estruturas em balanço inovadoras, demonstrando um compromisso com a abertura mesmo em condições de terreno restritas.

As cidades tendem a segregar funções, mas Liu Jiakun adota a abordagem oposta e mantém um equilíbrio delicado para integrar todas as dimensões da vida urbana. Em um mundo que tende a criar periferias monótonas e intermináveis, ele encontrou uma maneira de construir lugares que são edifício, infraestrutura, paisagem e espaço público ao mesmo tempo. Seu trabalho pode oferecer pistas impactantes sobre como enfrentar os desafios da urbanização em uma era de cidades em rápido crescimento. — Alejandro Aravena, Presidente do Júri do Prêmio Pritzker 2025

Uma expressão honesta de materiais e processos
Para refletir melhor os processos que levaram à criação da arquitetura e a passagem do tempo, Jiakun evita superfícies polidas e acabamentos refinados, abraçando, em vez disso, as texturas e imperfeições que se desenvolvem ao longo do tempo. Esse compromisso se reflete no uso de materiais locais e, muitas vezes, reciclados — por exemplo, os escombros do terremoto de Wenchuan de 2008 foram transformados em tijolos resilientes usados em projetos como o Edifício da Novartis e o Conjunto Xicun. Essa abordagem, refletindo sua filosofia de "construir para a comunidade, construir pela comunidade", estende-se até mesmo a projetos de menor escala, como o Memorial Hu Huishan, onde a textura bruta do relevo de cimento carrega tanto peso simbólico quanto físico.


A carreira de Liu Jiakun, que se estende por quatro décadas, abrange uma ampla gama de projetos em toda a China, incluindo contribuições significativas para a arquitetura acadêmica, cultural e comercial, bem como para o planejamento urbano. Entre suas obras notáveis estão o Museu do Relógio no Jianchuan Museum Settlement, o edifício do departamento de design do Instituto de Belas Artes de Sichuan, o Centro de Comunicação Cultural dos Três Templos de Songyang e o primeiro Serpentine Pavilion fora de Londres, localizado próximo à Cidade Proibida de Pequim. Esse extenso portfólio lhe rendeu reconhecimento internacional, com suas obras sendo exibidas em prestigiadas exposições, como a Bienal de Veneza e a Bienal Bi-City de Shenzhen-Hong Kong. Suas contribuições também foram reconhecidas por meio de diversos prêmios, incluindo o Far East Architecture Award e o UNESCO Asia-Pacific Heritage Award. Atualmente, ele atua como professor visitante na Academia Central de Belas Artes e tem ministrado palestras em instituições como o MIT e o Royal College of Art.

A citação do júri destaca a profunda compreensão de Liu Jiakun sobre o lugar, sua abordagem inovadora e sustentável da densidade e sua capacidade de empoderar comunidades ao entrelaçar tradição e modernidade. Essa decisão foi tomada por um júri composto por Alejandro Aravena (presidente), Barry Bergdoll, Deborah Berke, Stephen Breyer, André Corrêa Do Lago, Anne Lacaton, Hashem Sarkis, Kazuyo Sejima e Manuela Lucá Dazio.
Citação do Júri
O Prêmio Pritzker de Arquitetura é concedido em reconhecimento às qualidades de talento, visão e compromisso, que têm consistentemente produzido contribuições significativas para a humanidade e para o ambiente construído por meio da arte da arquitetura.
Em um contexto global no qual a arquitetura enfrenta dificuldades para encontrar respostas adequadas aos desafios sociais e ambientais em rápida evolução, Liu Jiakun tem apresentado respostas convincentes que também celebram a vida cotidiana das pessoas, bem como suas identidades comunitárias e espirituais.
Através de um notável conjunto de obras de profunda coerência e qualidade constante, Liu Jiakun imagina e constrói novos mundos, livres de qualquer restrição estética ou estilística. Em vez de seguir um estilo fixo, desenvolveu uma estratégia que não se baseia em um método recorrente, mas sim na avaliação das características e necessidades específicas de cada projeto. Ou seja, Liu Jiakun parte das realidades do presente e as transforma a ponto de oferecer um novo cenário para a vida cotidiana. Além do conhecimento e da técnica, acrescenta o senso comum e a sabedoria ao repertório do arquiteto.

O ambiente construído muitas vezes é tensionado em direções opostas. Enquanto a densidade parece ser uma solução mais sustentável para a convivência, a escassez de espaço geralmente implica uma baixa qualidade de vida. Liu Jiakun repensa os fundamentos da densidade por meio da coabitação, criando uma solução inteligente que equilibra forças opostas. Com projetos transformadores como o West Village em Chengdu, ressignifica o paradigma dos espaços públicos e da vida comunitária. Ele inventa novas formas de convivência independentes e compartilhadas, nas quais a densidade não representa o oposto de um sistema aberto. Além disso, permite a adaptação, expansão e replicabilidade. Liu Jiakun potencializa e acolhe a vida que os habitantes trazem para seus projetos, criando uma arquitetura ativada por seu público.
No trabalho de Liu Jiakun, a identidade diz tanto sobre o indivíduo quanto sobre o sentimento coletivo de pertencimento a um lugar. Ele revisita a tradição chinesa como um trampolim para a inovação, livre de nostalgia ou ambiguidade. Para ele, identidade se refere à história de um país, às marcas deixadas por suas cidades e aos vestígios de suas comunidades. Ao mesmo tempo, integra as dimensões local e global com resultados sem precedentes. Em seus projetos para museus, como o Suzhou Museum of Imperial Kiln Brick e o Shuijingfang Museum em Chengdu, cria uma arquitetura que é, simultaneamente, um registro histórico, uma peça de infraestrutura, uma paisagem e um espaço público notável. No Memorial Hu Huishan em Chengdu, ele compreende que identidade é tanto uma questão de memória coletiva quanto pessoal, elevando brilhantemente a perspectiva individual a um elemento fundamental do lugar, de modo a revitalizar sua dimensão comunitária.

Liu Jiakun também busca um nível de tecnologia que não seja nem high tech, nem low tech, mas sim "apropriado", baseado na sabedoria local e nos materiais e técnicas artesanais disponíveis. Desde seus primeiros projetos, rompeu com a linguagem arquitetônica vigente para introduzir qualidades simples e derivadas dos recursos disponíveis. Sua sinceridade no uso dos materiais permite que eles falem por si mesmos, sem necessidade de mediação ou manutenção. Isso também possibilita que envelheçam sem medo da deterioração, pois a memória coletiva é preservada neles.
A esses recursos culturais e sociais disponíveis, Liu Jiakun acrescenta a natureza, criando novas paisagens dentro da paisagem. Do West Village à renovação das Cavernas de Tianbao na cidade de Erlang, em Luzhou, passando pelo Luyeyuan Stone Sculpture Art Museum em Chengdu, os ambientes construídos e naturais coexistem em uma relação recíproca, alinhada com a mais antiga filosofia e tradição chinesa.
Por abraçar, em vez de resistir, ao dualismo entre distopia e utopia e por nos mostrar como a arquitetura pode mediar realidade e idealismo; por elevar soluções locais a visões universais; e por desenvolver uma linguagem que descreve um mundo social e ambientalmente justo, Liu Jiakun foi escolhido como vencedor do Prêmio Pritzker de 2025.

Convidamos você a acompanhar a cobertura completa do Prêmio Pritzker.