Semana passada, o Adobe Photoshop completou 25 anos de idade. Seus criadores aproveitaram a oportunidade para analisar o que se passou e entender como o programa se tornou uma das peças mais onipresentes dentro do mundo digital e como, em apenas um quarto de século, transformou nossa concepção de beleza e inclusive nossa própria realidade.
Para o público em geral, o Photoshop é comumente relacionado à indústria de moda e publicidade por sua incrível capacidade de aperfeiçoar os corpos de modelos e criar silhuetas duvidosas para revistas. Porém, seu efeito na arquitetura é igualmente presente, o software não contribui apenas para a representação de nossos projetos, ele chega, inclusive, a alterar a maneira como projetamos. Continue lendo para saber mais sobre esta intensa relação que completa 25 anos.
Refletindo as tendências na publicidade, o Photoshop alimentou a batalha da própria arquitetura em torno do conceito de "beleza natural". No mundo do século XXI, saturado de imagens compartilhadas na rede, a pressão por produzir o angulo perfeito tem alimentando a tendência de eliminar manchas e irregularidades nas fotografias de edifícios construídos. Em alguns casos, estas "irregularidades" incluem também os seres humanos, que com uma atitude muito relaxada para a composição formal ou com roupas fora de moda podem arruinar até mesmo o edifício mais bem projetado.
Dado curioso #1
Pouco antes de co-inventar o Photoshop com seu irmão, John Knoll trabalhou nos efeitos visuais do filme "Uma Cilada para Roger Rabbit" na companhia de efeitos visuais “Industrial Light & Magic”. Desde então, trabalhou em filmes como Star Wars, Piratas do Caribe e Avatar.
Os efeitos do Photoshop podem ser vistos inclusive em fotografias de arquitetura tradicional: por exemplo, o impacto visual das fotografias área de Vincent Laforet de Nova Iorque e Las Vegas claramente se baseia no tratamento das cores realizado através do software (o próprio Laforet é algo como um “evangelizador do Adobe”). Entretanto, nos últimos anos, esta abundância de possibilidades de pós-produção também criou uma espécie de contra-movimento dentro da fotografia arquitetônica. O superstar da fotografia de arquitetura, Iwan Baan, foi citado pelo Wall Street Journal dizendo que raramento utiliza Photoshop, em parte porque não tem para aplicá-lo, e também porque para ele, as manchas e imperfeições "são tão importantes quanto a arquitetura".
Dado curioso #2
Jennifer in Paradise, a primeira imagem "photoshopada" do mundo, incluída nas primeiras versões de demonstração do software, é a foto da esposa de John Knoll (nessa época, sua namorada). Foi a única imagem que ele tinha em mãos quando visitou seus amigos - e seu caríssimo escâner digital - do laboratório do Grupo de Tecnologia Avançada da Apple.
Porém, o impacto do Photoshop foi mais além da fotografia de edifícios. Ano passado, o Architects’ Journal revelou que em uma fotografia da série “The Brits Who Built the Modern World” da BBD, Patty Hopkins foi retirada para deixar somente os cinco homens da séries, ignorando seu papel como sócia-fundadora da Hopkins Architects. A imagem provou um importante debate sobre como as arquitetas são tratadas pelos meios de comunicação e pela própria profissão.
Dado curioso #3
O Adobe Photoshop 1.0 não é a primeira versão do programa disponível no mercado. Em 1989, a BarneyScan lançou 200 cópias do software conectado aos escâneres de fotos.
Ironicamente, o uso mais frequente do Photoshop na arquitetura tem pouco a ver com as fotografias em si. O Photoshop é utilizado todos os dias como uma ferramenta para ajudar a produzir renders foto-realistas de projetos que ainda não foram construídos. Combinado ao constante avanço dos modelos 3Ds, o render de arquitetura tem sido um tema muito debatido nos últimos anos. As discussões centram-se, principalmente, em se estas espetaculares representações criam expectativas pouco realistas em projetos que nunca chegarão a ser o que prometeram.
O uso do Photoshop nos projetos de arquitetura é tão frequente que surgiram sites específicos para ajudar os arquitetos a encontrarem imagens de pessoas para incluir nas suas propostas. Criado por Teodor Javanaud Emdén, o SKALBUBBAR permite aos arquitetos adicionarem facilmente imagens (sem fundo) de pessoas aos seus renders. Mas, até mesmo este simples gesto não esteve isento de polêmica: no final do ano passado apareceu um site similar chamado Escalalatina como uma resposta a repentina proliferação inexplicável de pessoas nórdicas em imagens para países latino-americanos.
Em pouco tempo, estes sites obtiveram tanto êxito que já possuem seu próprio efeito na cultura arquitetônica, através de jogos que nos desafiam a encontrar diferentes indivíduos com roupas ou elementos característicos (como "a criança de boné amarelo" ou "o homem de guarda-chuva") dentro de renders que foram produzidos inicialmente para fins profissionais.
Dado curioso #4
A Adobe não gosta quando uma imagem é chamada de "photoshopada". Para proteger o valor da sua marca, eles preferem que digamos "A imagem foi melhorada utilizando o software Adobe® Photoshop®".
Recentemente, a utilização excessiva do software causou uma grande agitação no concurso para o projeto do Guggenheim Helsinki, onde notou-se um excesso de pessoas oriundas do SKALGUBBAR (repetidas em diferentes propostas) e inclusive a aparição de flamingos voando sobre a fria cidade de Helsinki.
Also, someone's put flamingos in their Guggenheim render! Flamingos. In Helsinki. Riiiiight. pic.twitter.com/hoBF3sZ3tI
— Dr Crystal Bennes (@crystalbennes) October 22, 2014
Então, obrigado Photoshop por 25 anos de debates, argumentos e pegadinhas. Como conclui Jimmy Kimmel em sua homenagem ao aniversário do software, "nunca estivemos tão confusos e tudo graças a você".