Em suas propostas para a nova sede do Google, divulgadas recentemente em meio a muita emoção, Bjarke Ingels e Thomas Heatherwick se inspiraram em visões utópicas do passado para criar uma solução radical para o campus tecnológico em Mountain View, Califórnia. Citando a ausência de arquitetura identificável no setor de tecnologia, um vídeo promocional publicado no próprio blog da Google revela como a empresa pretende abraçar a natureza, a comunidade e a flexibilidade com o novo projeto.
Uma das grandes preocupações da empresa foi a criação de um edifício capaz de se adaptar aos usos futuros, além de servir como um ambiente de gere melhorias na região e receba os visitantes da comunidade próxima. Tal como acontece com qualquer notícia relacionada à Google, o projeto já atraiu a atenção da mídia - leia a seguir o nosso resumo dos comentários mais importantes até agora.
"Provavelmente, o que firmou o acordo com Heatherwick e Ingels foi algo diferente: Um apelo à consciência da Google"
Escrevendo para o Los Angeles Times, Christopher Hawthorne começa com uma narrativa psicológica para interpretar motivos corporativos da Google por trás do projeto:
"O projeto Heatherwick-Ingels é destinado, sobretudo, a enviar uma mensagem restauradora. Almeja, em nenhuma ordem particular: esconder as cicatrizes provocadas pela cultura do automóvel; trazer a natureza e a agricultura (de pequena escala) de volta à paisagem do Vale do Silício; uma região assolada pela seca em um planeta em aquecimento; desfazendo assim os erros e afrouxando a rigidez da arquitetura modernista escritório-parque; e em termos muito claros rejeita a privatização, a postura exclusiva da nova sede da Apple agora em construção na cidade vizinha de Cupertino. "
Ele destaca o fato de que a Google está tentando reparar sua imagem amigável que tem sido marcada nos últimos anos por tentar transformar a paisagem física criando alguns de seus problemas mais críticos. No sonho de criar um paraíso jardim sob um teto de vidro, Hawthorne diz:
"O simbolismo desta abordagem é utópico, mas em muitos casos, tingido com ansiedade sobre a catástrofe ambiental. Nas mãos de Heatherwick e Ingels, é ambicioso o suficiente para buscar a reparar os danos da expansão suburbana e, ao mesmo tempo, reequilibrar a relação entre arquitetura e natureza. "
Ecoada por muitos outros críticos, Hawthorne continua a descrever a forma como o projeto representa "uma espécie carismática de Arcadian retro-futurista." Ao criar uma atmosfera serena e pastoral aberta ao público, Hawthorne vê o projeto da Google como uma resposta direta ao novo campus da Apple projetado por Norman Foster, que "tem sido fortemente criticado por fechar-se ao alcance do público." Essa ideia é reforçada com uma citação de Ingels afirmando que o campus da Google "não pode ser uma fortaleza que se fecha para a natureza, que se fecha para os vizinhos. "
"Os projetos para a enorme Sede da Google, em Mountain View, possuem, estranhamente, uma visão do futuro de algum lugar do passado."
Edwin Heathcote do Financial Times não se impressiona com as tentativas da Google em criar uma visão utópica de uma vegetação exuberante e transparente que, mais uma vez, classifica o projeto como "retro-futurista". Citando precedentes como o Palácio de Cristal (1851), proposta de Buckminster Fuller para colocar Manhattan sob uma cúpula geodésica de vidro, e a Plug-in City do Archigram, Heathcote faz questão de enfatizar a suposta falta de originalidade do conceito e ainda compara a um "pesadelo no estilo Show de Truman", que faz "desaparecer a distopia".
Ele continua sugerindo que o campus não pode ser tão aberto ao público, chamando-o de uma visão arrogante e evidentemente suburbana da vida das empresas." Ao criticar o que ele acredita que a Google deixa de fazer, Heathcote é direto:
"A Google tem a oportunidade, o poder e o dinheiro para construir uma cidade inteira e ancorar uma nova visão de urbanidade - mas em vez disso, parece ter recuado à uma visão previsível, talvez até um pouco sinistra de um mundo privado fechado em vidro."
"Um Show de Truman no Vale do Silício, totalmente calibrado e controlado por análises de otimização da Google. O que poderia dar errado?"
Escrevendo para o The Guardian, Oliver Wainwright tem uma abordagem mais suave para a forma do edifício, mas questiona quão bem as características do projeto realmente irão trabalhar:
"É uma ideia encantadora, e Heatherwick tem um histórico de fazer coisas requintadas e engenhosas em escala menor, mas inúmeros são os edifícios cujos sistemas sol-sombreamento experimentais deram errado. Das lentes mecânicas de Jean Nouvel no Institut du Monde Arabe, em Paris, que acabaram criando buracos no tapete, até as cortinas mecânicas no London City Hall, de Foster, e o campus Novartis do Sanaa, ambos os quais apresentaram problemas logo após a abertura e têm atormentado seus ocupantes desde então. Ainda assim, se alguém pode fazer o trabalho ágil tecnológico, esse alguém é a Google. "
Revelando porque a Google é ,de repente, tão consciente em criar um espaço para o público, Wainwright diz:
"O outro princípio fundamental de todo o planejamento é fazer com que o seja campus mais do que apenas para os funcionários da Google. A empresa enfrentou muita resistência dos moradores locais já que criaria grandes quantidades de tráfego, levantaria os preços dos imóveis e daria pouco em troca. Não há impostos sobre vendas ou publicidade das empresas da Google e nenhum imposto sobre as refeições gratuitas que a Google dá aos seus empregados também."
No geral, ele é particularmente cético quanto à viabilidade de um enorme teto de vidro e as características tecnológicas que respondem dentro, e mais uma vez faz uma alusão à visão distópica monitorada do Show de Truman.
"Há uma flexibilidade inerente às configurações orgânicas na forma da Google que não existe na geometria rígida da Apple."
Para a Fast Company, Mike Wilson entrevista o arquiteto por trás do Googleplex original, Clive Wilkinson, expondo seus pensamentos sobre a nova sede. Tendo uma visão muito positiva ", Wilkinson vê o novo campus da Google como um marco na reutilizável e flexível arquitetura de algo que pode ser literalmente reformulado para criar ambientes colaborativos."
Wilkinson parece convencido pela novidade inerente de uma proposta para o futuro, mas também questiona as realidades de engenharia por trás de muitas características essenciais:
"Eles têm um grande desafio técnico ao fazer uma cobertura dessas. Por um lado, você ainda precisa de modular a quantidade de luz solar que entra. Quase todo mundo está trabalhando em uma tela. A maioria das telas sob muita luz solar se tornam difíceis de ver, o que significa que trabalhar fora é quase uma fantasia."
"A cobertura deve ser sensível à luz, e temperada, trabalhando a acumulação de calor do sol e a perda de calor, que é um problema também. Trazer a natureza em forma de árvores em um edifício, não é fácil. Isso é um desafio no qual essa cobertura deverá se adaptar. Como receber a quantidade de luz solar perfeita para que a natureza não morra?"
Wilkinson é mais cético sobre a flexibilidade proposta no projeto através de elementos interiores reconfiguráveis, mas entende o mérito desta planta livre sob uma tenda:
"Eu acho que na realidade, do ponto de vista da engenharia prática, não faz sentido fazer coisas móveis em grande escala. Mas, torná-las adaptáveis com o mínimo impacto em termos de sustentabilidade é muito valioso...."
"Essa é a beleza da cobertura, se você tem pilhas de energia, canalização, ar e os dados [em uma grade permanente é possível anexá-los], tudo dentro poderia ser considerado mobiliário. Eu penso que é neste ponto que a ideia deve chegar. Você pode alterar os elementos do edifício ".
Wilkinson conclui com uma crítica comparativa ao novo campus da Apple para elogiar a forma orgânica da cobertura e afirmar:
"Essa meta da sustentabilidade é sobre a construção de coisas que são administráveis ao longo do tempo. O fato de você não precisar explodi-las quando não estão mais funcionando é uma mudança muito positiva. "