Sempre fomos uma profissão de hackers. Cada edifício é único, feito a partir de inúmeras operações de alteração e modificação que trazem materiais e sistemas díspares em um todo coeso. Mas quando se trata de softwares a maioria de nós têm se contentado com o consumismo entusiasmado, aguardando ansiosamente os próximos lançamentos dos desenvolvedores de software, como Autodesk, McNeel (Rhino) e Bentley (MicroStation).
Faz cinco anos que lançamos oficialmente o nosso programa de pesquisa no Yazdani Studio of Cannon Design, e durante esse período, compreendemos que a evolução do nosso processo reflete no trabalho dos maiores arquitetos, mudando o relacionamento dos profissionais com os meios de produção. Especificamente, temos notado que no final de 2007, algo mudou. McNeel introduziu um plugin na programação visual chamado Grasshopper, e mais e mais arquitetos começaram a hackear suas ferramentas, bem como seus edifícios.
Com todo o burburinho em torno de produtos sob medida e da nova tecnologia, é fácil esquecer que ainda vivemos em um mundo de pronta entrega. A maioria das coisas não são feitas sob encomenda e os softwares não são diferentes. O programa que um estúdio de Hollywood utiliza para criar efeitos especiais é muitas vezes o mesmo que um arquiteto usa para estudar a ideia do projeto. Faz sentido para as empresas de software investirem no desenvolvimento de ferramentas que servem grandes setores de mercado. Também faz sentido para as pequenas empresas tomarem emprestadas ferramentas de indústrias maiores. Mas o que dizer de todas aquelas pequenas peculiaridades do processo de projeto que tornam o design exclusivo? As ferramentas são de uso geral, a aplicação portanto, não será 100% compatível com a maneira de fazer as coisas.
Desde a introdução do AutoCAD no início dos anos 80, os arquitetos têm se esforçado para encontrar uma maneira confortável para aproveitar as eficiências prometidas por ferramentas digitais de produção sem sacrificar seus movimentos característicos. Na década de 90, Frank Gehry adaptou o CATIA - software que foi originalmente desenvolvido para projetar aviões de caça - para permitir a construção das geometrias complexas que a empresa estava tentando criar. O resultado foi desenvolvido e suportado pela empresa de tecnologia Gehry Tech. Para o resto da indústria, manter uma equipe de programadores dedicados, ou até mesmo arquitetos que se tornaram hábeis programadores, tem-se revelado difícil. Na maioria das vezes, os artistas e arquitetos tiveram que escolher entre seu processo de design e a funcionalidade oferecida pelos softwares disponíveis no mercado. Contudo, uma nova geração de ferramentas de programação visual está agora dando aos designers uma alternativa: a capacidade de adaptar as suas aplicações para formas específicas - sem a necessidade de uma equipe de assistentes de programação.
Programação visual é parte de uma classificação maior de ferramentas que apoiam a participação do usuário na customização e desenvolvimento do software (EUD). EUD é a resposta dos desenvolvedores à necessidade de personalização do usuário e a automação. Os mais populares pacotes de software possuem uma maneira de modificar ou até mesmo criar funcionalidade e automatizar tarefas repetitivas. O Rhino tem RhinoScript, Revit tem DesignScript, 3dsMax tem MaxScript e o Maya tem MEL, só para citar alguns. Na realidade, há apenas um grupo relativamente pequeno de usuários reais que podem usar estas linguagens de script com qualquer proficiência e poucos podem rapidamente tornarem-se especializados. Felizmente, uma lista cada vez maior de softwares de programação visual como Grasshopper, Dynamo, Generative Components, MCG de 3dsMax e Marionette para Vectorworks estão dando aos designers acesso ao EUD sem qualquer conhecimento prévio de uma linguagem de programação. Ao remover essa barreira, a programação visual está incorporando rapidamente o EUD na arquitetura em cada projeto.
A popularidade dos softwares como o Grasshopper e o Dynamo sugere que a relação que os arquitetos têm com suas ferramentas está mudando. Estamos nos afastando da utilização passiva dos software padronizados no nosso processo de projeto. Não consegue encontrar um programa que faz o que você quer? Faça o seu próprio. É uma prática que tem o potencial de combater a homogeneização de toda a indústria que tem deixado muitos artistas e designers céticos dos benefícios dos softwares de projeto.
Há muito mais no surgimento de templates do que apenas a personalização; a concepção criadora tem o potencial de permitir a não-linearidade da produção. Para os arquitetos, poderia significar uma transformação fundamental na forma como fazemos o nosso trabalho. Tradicionalmente, os serviços de arquitetura são entregues ao longo de um rigoroso conjunto de etapas. Uma vez que a fase estiver concluída, as decisões tomadas são cimentadas e a próxima fase de desenvolvimento pode começar. Este processo foi concebido em um mundo pré-digital e, provavelmente, implementado para proteger arquitetos de um grande re-trabalho sem a cobrança de taxas adicionais. Mas, e se as informações sobre o nível esquemático poderiam ser incorporadas em um modelo atrasado no processo de desenvolvimento sem custar o tempo do arquiteto ou dinheiro? E se novas informações ou uma decisão de projeto pudessem ser incorporadas em qualquer ponto no processo? E se a documentação da construção pudesse começar antes que o desenho esquemático foi finalizado? Se um projeto inteiro é definido como uma série de decisões e relacionamentos interligados, tudo isso se torna possível. Na verdade, isso começou a acontecer no momento em que a indústria se afastou do CAD e aproximou-se de uma modelagem tridimensional que tem o BIM. O próximo passo lógico é abstrair a colocação explícita de elementos 3D no espaço e definir um projeto como uma série de decisões, sistemas e relacionamentos. No fim das contas, são todos os dados e o template que conferem aos designers uma forma de criar e gerir.
É emocionante ver como a adoção de ferramentas EUD irá impactar a nossa indústria. CAD e BIM revolucionaram a prática da arquitetura. Olhando para trás, é difícil argumentar que tem sido nada mais do que um passo incremental. EUD vai, finalmente, apresentar a revolução que estamos todos esperando?
Yan Krymsky é um designer e trabalha no Yazdani Studio of CannonDesign. Tem como foco o fornecimento de serviços de design de ponta e visualização para os clientes. Seu trabalho tem sido creditado com prêmios e elogios da mídia e Krymsky continua a se concentrar em novas formas de tecnologia para melhorar a profissão.