O artista e ilustrador francês Vincent Mahé compartilhou conosco seu trabalho mais recente. Trata-se de uma série de ilustrações feitas para uma edição especial da revista Telerama, que retratam a vida do renomado arquiteto franco-suíço, Le Corbusier. Em somente oito páginas, o artista destaca os feitos mais relevantes da passagem deste inesquecível personagem pela terra. Feitos que sem dúvida mudaram o fazer arquitetônico contemporâneo, que tornaram-se conhecimento geral para a indústria e que hoje podemos ver refletidos em tons de verde e rosa, com extrema clareza e cuidado que apresenta o trabalho de Mahé.
Confira estas oito ilustrações a seguir.
6 de Outubro de 1887
Nascimento de Charles-Édouard Jeanneret, filho Georges Édouard Jeanneret, esmaltador de relógios, e Marie Charlotte Amelie Perret, música, em La Chaux-de-Fonds, na região da Suíça. A vida de Charles-Édouard foi traçada aos 13 anos, idade que começa sua formação como entalhador e escultor.
1904
“Um dos meus mestres (um professor notável) retirou-me de um destino medíocre. Quis que eu me tornasse arquiteto. Eu tinha 16 anos, aceitei o veredito e obedeci".
O homem citado, Charles L'Eplattenier, 30 anos, recém formado em Belas Artes de Paris, era pintor naturalista de Art Nouveau.
1907
Primeira viagem a Toscana, ao Monastério Cartujo d'Ema em Galluzo, fica admirado diante de "uma arquitetura realmente humana, feita para a felicidade do homem (...) a cela de um monge se aplicaria admiravelmente a casas de operários, sendo centro do lar completamente independente, tranquilo, impressionante".
Depois parte para Budapest, Viena, Nuremberg, Munique, Estrasburgo, Paris..
1908 – 1909
Trabalha em Paris com os Irmãos Perret. "Na obra dos Perret,vejo o que é concreto, as formas revolucionárias que ele exige. Estes oito meses em Paris gritam a mim: lógica, verdade, honestidade, atrás do sonho, em direção às artes antigas (...) Paris me diz: queime o que amou, adore o que queimou".
1911
Viagem ao Oriente, ¡chock! As mesquitas de Istambul : "Uma geometria elemental disciplina as massas: o quadrado, o cubo, a esfera".
O Pártenon: “Pura criação do espírito, máquina emocional (...) um jogo sábio, correto e magnífico dos volumes sob a luz".
1912-1916
Retorna a Chaux-de-Fonds: "Esta cidade, eu a odeio. A priori, suas pessoas também. Nada pretendo fazer aqui, somente desonrar-me". Constrói seis casas, uma delas a Vila Schowb, onde pela primeira vez elabora um procedimento de construção industrial em concreto a partir de elementos padronizados que denomina 'Dom-ino" (domus: a casa, "ino" inovação)".
1917 – 1920
Instala-se em Paris. A espera de ser o maior arquiteto do século XX, pinta pelas manhãs. Seu primeiro quadro: <A Chaminé>. "A pintura é uma batalha terrível, intensa, sem piedade, sem testemunhas, um duelo entre o artista e ele mesmo. A batalha interna desconhecida entre interior-exterior".
Conhece Fernand Leger. Funda, com o pintor Ozenfant, o movimento purista, cria a revista «l’esprit nouveau», onde assina pela primeira vez, Le Corbusier.
"É necessário estabelecer padrões para afrontar o problema da perfeição".
1924
Funda em Paris seu escritório de arquitetura, rua 35 Sevres, com seu primo Pierre Jeanneret. "A linha reta é uma grande aquisição da arquitetura moderna e é um benefício. É necessário limpar nossos espíritos das aranhas românticas".
Constrói para sua mãe a Ville Le Lac, chamada de «la petite maison» em Corseaux, as margens do lago Léman. Aí ela viveria até sua morte em 1960, aos 101 anos.
1925
Publicação de «A arte decorativa hoje em dia»: "Cada cidadão deve substituir suas cortinas, seus acolchoados, seus papéis de parede, seus impressos, por uma camada de pintura branca, ao limpar sua casa (...) limpa-se a si mesmo”.
Depois das plantas da «Ville Contemporaine» de 3 milhões de habitantes (1922), desenha o «Plan Voisin», modernização radical de Paris. "Meu dever, minha busca, é colocar o homem atual fora da desgraça, fora de catástrofes, de instalá-lo na felicidade, na alegria cotidiana, na harmonia".
1928
Constrói o Centrsoyus de Moscu (União Central de Consumidores) que seguirá o Pavilhão Suíço da Cidade Universitária de Paris.
"Trabalhar não é um castigo, trabalhar é respirar! Respirar é uma função extraordinariamente regular: nem mais forte, nem mais suave, mas constante".
Começa uma colaboração um tanto tempestuosa com Charlotte Perriand, genial designer/arquiteta de interiores.
1929
Em um cruzeiro ao Rio, conhece Josephine Baker. Flechada! Entretanto, se casará com Yvonne Gallis, modelo de Mônaco, no ano seguinte. Teoriza sobre os "Cinco pontos da nova arquitetura": 1) Pilotis, 2) Planta Livre, 3) Janela em Fita, 4) Fachada Livre, 5) Terraço-Jardim
1931
Ville Savoye em Poissy: "A Casa é uma caixa no ar, perfurada por uma janela de fita ao longo de toda ela". (Abandonada, esta será salva graças ao fato de que foi classificada monumento em 1964 por André Malraux).
1936
Segunda viagem a América do Sul a bordo do Graf Zeppelin. Reúne-se com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa para a construção do Ministério de Educação e Saúde do Rio.
1940
Fecha seu escritório em Paris. Parte com sua mulher e seu primo aos Pirineos, depois dirige-se até Vichy onde tratará de maneira imprudente e em vão vender suas ideias de "fábrica verde" e de construção de casas "murondins". Escreve a sua mãe: "Se o mercado é sincero, Hitler pode coroar sua vida com uma obra grandiosa: a organização da Europa".
1943
Primeiro croqui do modulor, com a silhueta de um homem de 1,83m: "Seu valor consiste nisso: o corpo humano eleito como suporte admissível dos números...Esta é a proporção! A proporção que ordena nossas relações com o que nos rodeia".
1947
É colocada a primeira pedra de «Unité d’Habitation de Grandeur Conforme» chamada Cidade Radiosa em Marsella. Forma parte dos dez arquitetos internacionais consultados para a edificação da sede das Nações Unidas em Nova York. Constrói a fábrica Duval em Saint-Dié.
1950
Primeiro croqui da capela de Ronchamp (entregue em 1955). "A igreja não possui ornamentos, pois, existe a necessidade quando o edifício em si já é um elemento plástico?"
1951
Descartam-no no concurso para a construção da sede da Unesco em Paris. Constrói sua cabana, "Castelo na costa azul que possui 3,66m x 3,66m," em Roquebrune Cap-Martin. "O que, sobretudo escandaliza meus visitantes é o vaso sanitário no meio da peça. Por isso é um dos objetos mais belos que a indústria já fabricou".
1952
Inauguração da Cité Radieuse: "Tenho a honra, a alegria, o orgulho de entregar-lhes e unidade de moradia moderna (...). Heis aqui a obra, edificada, contra regulamentos desastrosos. Feia para os homens (...) para colocar os recursos sensacionais da época a serviço do lar, aquela célula fundamental da sociedade".
1953
Inicia a construção do convento da Tourette (entregue em 1960) e da Maison de Brasil na cidade universitária de Paris (1959).
1954
Entrega da Corte de justiça em Chandigarh. "É uma sinfonia arquitetônica que sobrepassa todas as minhas esperanças, que explode e se desenvolve sob a luz de maneira inimaginável e incansável. De perto ou de longe, é uma surpresa e uma provocação de assombro. É feita com concreto bruto, do caminhão ao cimento". " (Carta a Nehru).
1955
Poema do angulo reto: "A maré voltou a baixar para voltar a subir. Abriu-se um novo tempo, uma etapa, um prazo, um alívio. Então, não havíamos ficado sentados as margens das nossas vidas?"
5 Octubre 1957
Morre Yvonne. "Mulher de grande coração e vontade, de limpa integridade. Anjo da guarda do lar, do meu lar, durante 36 anos".
15 de Febrero de 1960
Morre sua mãe aos 101 anos. "O carro negro repleto de flores e minha mãe rosada e florida no seu caixão partiram pelo caminho do oriente milagrosamente vazio de carros. A neve caindo espessa, a neve caindo silenciosamente."
1963
Centro Carpenter de Artes Visuais de Boston. Sua única construção nos Estados Unidos.
1965
Retoma o estudo do monumento da mão aberta em Chardigarh.
25 de Agosto de 1965
Le Corbusier se afoga no Mediterrâneo diante da sua cabana. Algumas semanas antes, foi visionário: "É necessário encontrar o homem. Encontrar a linha reta que se molda no eixo das leis fundamentais: biologia, natureza, cosmo. Linha reta intransitável como o horizonte no mar".
Traducido por María José Villaseca