Um grupo de arquitetos e urbanistas foram consultados pelo jornal estadunidense The Wall Street Journal (WSJ) sobre as cidades líderes em inovação urbana através de certos projetos.
Nessa oportunidade, entre os peritos consultados estão Edward Glaeser, economista e autor do “O Triunfo das Cidades”, e Douglas Kelbaugh, acadêmico de arquitetura e urbanismo da Universidade de Michigan, que apostaram em cidades de menor tamanho, em vez de megacidades, e que consideram não terem recebido tanta atenção.
Apesar do fato de que a lista poderia continuar crescendo, o grupo de especialistas escolheu cinco cidades, incluindo uma latino-americana, que se destacam por ações interessantes que podem inspirar outras cidades, levando em consideração o contexto local.
1. Detroit
Eliminar certos pontos que estabelece o zoneamento é o que a cidade está considerando para poder impulsionar o investimento após o colapso de 2014. Assim, seriam entregues as denominadas 'áreas rosas' aos novos empresários que desejam impulsionar um negócio em menos tempo e sem ter de gastar em trâmites burocráticos.
No Reino Unido, esta forma de regeneração urbana foi aprovada nos anos 80, pelas mãos do arquiteto e urbanista Andrés Duany. Através dessa experiência, se considera que esta estratégia faz dos bairros lugares onde as pessoas podem ter sua residência e seu lugar de trabalho, permitindo o deslocamento a pé entre ambos lugares.
O acadêmico de arquitetura e urbanismo da Universidade de Michigan, Douglas Kelbaugh, por sua fez, afirma que esta é uma boa ideia para Detroit porque "a cidade está madura, é o momento oportuno".
2. Houston
“Enquanto muitas cidades nas costas do oceano desejam restaurar a cidade do século XIX, as cidades do Texas estão criando um novo modelo para este século", diz Kotkin, diretor executivo do Centro de Oportunidades para Urbanismo.
Houston tem feito isso nos últimos anos, com ênfase entre 2010 e 2014, em relação a venda de moradias. Somente neste período a cidade emitiu mais de 189 mil permissões de edificações, a maior do país, que está focada em novos residentes de diferentes classes sociais.
Sobre isso, é possível notar que nesta cidade a classe média-baixa possui a opção de ter acesso a uma moradia, algo menos provável nas cidades como Boston, Nova Iorque ou São Francisco, que protagonizam um crescimento, mas com uma inflação nos seus bens.
Como Houston consegue atrair novos habitantes, sem correr o risco da inflação? Segundo Kotkin, flexibilizando o zoneamento de acordo com o panorama econômico, mas sem deixar de lado os investimentos mínimos na infraestrutura urbana.
3. Medellín
Desenvolver grandes projetos urbanos em bairros vulneráveis é um dos fatores que influenciaram para que Medellín pudesse deixar para trás os índices de delinquência que tinha nos anos 70 e 80 que afetavam a qualidade de vida dos seus cidadãos.
Um desses projetos é o sistema de escadas mecânicas construído ao ar livre nos bairros 20 de Julio e as Independencias 1 e 2, na Comuna 13, que em várias oportunidades foram destacados internacionalmente, como uma das dez melhores práticas de transporte eleita pela organização Streetfilms e o Prêmio de Transporte Sustentável que em 2012 lhe outorgou o ITDP, entre outros.
Esta vez, o especialista em desenvolvimento urbano sustentável e diretor executivo da Fundação Sustasis, dedicada a impulsionar estratégias sustentáveis nas cidades, Michael Mehaffy, afirma que ainda é muito cedo para saber se o investimento de US$6.7 milhões é muito alto. O que já se sabe é que as escadas fizeram com que um bairro vulnerável voltasse a se conectar com a cidade, ajudando no seu funcionamento urbano.
4. Cidade de Singapura
A gestão dos recursos nesta cidade-ilha é um dos temas que monopoliza a atenção de diferentes setores, sendo um deles a alimentação que requer importar 90% dos alimentos, quase a totalidade do sistema.
Esta dependência fez com que os habitantes buscassem novas maneiras de administrar seus recursos, sendo a reciclagem uma prática recorrente. De fato, segundo um ranking das cidades mais verdes do mundo, elaborado pela Unidade de Inteligencia Econômica (UIE) da revista The Economist e publicado em 2014, Singapura é a cidade mais verde da Ásia.
Entretanto, esta dependência também influencia no custo dos produtos, como das verduras e do transporte pelo combustível. Inclusive, no ano passado, foi eleita a cidade mais cara do mundo para viver pela UIE, superando Paris, Oslo e Zurique.
Contudo, para Glaeser, economista da Universidade de Harvard, Singapura "é uma cidade que inova sob as restrições", segundo a WSJ, porque impulsiona planos levando em conta que há uma superfície limitada.
Neste sentido, destaca que foi uma das primeiras cidades a implementar a tarifação viária e que está pensando em contar com um sistema que exige aos motoristas um sistema GPS para regular os pedágios de acordo com o fluxo veicular.
Além disso, como a cidade possui um fornecimento limitado de água e uma demanda elevada - uma desproporção que é visível em muitos lugares do planeta -já possui dois níveis dessalinizadores e outros quatro que purificam a água com filtros de membranas e luz ultravioleta.
5. Vancouver
Durante os últimos 20 anos, o número de automóveis que entram no centro da cidade diminuiu 20%, em contraste com o aumento dos deslocamentos a pé que, somente entre os residentes, se estima chegar a 26% em toda a cidade.
Ambos dados são os resultados de uma série de medidas que Vancouver está impulsionando para transformar-se em uma cidade pedonal. Entre estas, destacam-se as mudanças nas normas de edificação para que a cidade seja mais densa, o desenho das ruas mais atrativo, a instalação de locais comerciais acessíveis no nível das calçadas (sem a necessidade de entrar em um grande centro comercial) e de semáforos pedonais.
Por isso, Vancouver é considerada a quinta cidade mais 'caminhável' de acordo com o indicador Walk Score, que controla mais de 140 cidades norte-americanas.